metropoles.com

Imigrantes brasileiros promovem ações para valorizar o português no exterior

Literatura e contação de histórias são métodos usados para o avanço do Português como Língua de Herança (PLH); pequena editora criada por brasileira radicada nos EUA juntamente com seu marido americano atua neste segmento, publicando livros para os ‘amantes’ da cultura brasileira

atualizado

Compartilhar notícia

A manutenção de vínculos afetivos com a terra natal é algo fundamental para que imigrantes brasileiros possam viver com o mínimo de bem-estar e equilíbrio emocional nos destinos escolhidos para o estabelecimento do novo lar. Para jovens e adultos que deixaram histórias, amigos e familiares nos países onde nasceram e cresceram, trata-se de uma tarefa não muito complexa, já que há toda uma gama de vivências e experiências a se apegar. 

O estímulo à apreciação de traços que identifiquem – tanto de forma objetiva quanto no campo da subjetividade – o Brasil e os brasileiros, como sua cultura, sua culinária e suas tradições regionais, certamente é uma opção. Mas para associações de imigrantes brasileiros estabelecidos nos quatro cantos do mundo, a principal ferramenta para a formação e a manutenção deste vínculo com a terra natal é, sem dúvida, a língua portuguesa. Ou, de forma mais específica, o Português Como Língua de Herança (abreviado como POHL, na Europa; e PHL, nos Estados Unidos). 

Em “Como manter e desenvolver o português como língua de herança”, obra editada pelo Consulado-Geral do Brasil em Miami em parceria com a Must University em 2016, Ivian Destro Boruchowski explica que “os falantes de herança são aqueles que, apesar de terem algum vínculo com essa língua, têm oportunidades restritas de acesso e uso”. Isso pode acontecer, segundo o autor, “porque a criança nasceu em um país onde o português não é a língua dominante na sociedade, ou porque a criança imigrou antes de atingir o período crítico de aquisição da língua”.

Em 2020, o Ministério das Relações Exteriores editou uma cartilha, “Proposta Curricular para o Ensino de Português como Língua de Herança”, para ser utilizada em iniciativas desenvolvidas por associações estabelecidas no exterior, chancelando o conceito surgido no início dos anos 80 e que, atualmente, já possui até dia para ser celebrado (16 de maio).

Associações, consulados e embaixadas promovem PLH em todo o mundo

A relevância do tema faz com que o Ministério das Relações Exteriores acompanhe e apoie projetos que também recebem suporte de associações de imigrantes, consulados e embaixadas brasileiras em países onde há grandes contingentes de imigrantes brasileiros. Um exemplo são as Olimpíadas de Português como Língua de Herança, cuja primeira edição foi realizada neste ano de 2021, sendo contempladas 18 cidades em 13 países diferentes. Além disso, conferências e simpósios são realizados com grande regularidade, sobretudo na Europa.

Tais iniciativas refletem a diáspora brasileira, que há muito tempo tem ocorrido – sobretudo nos períodos de crise econômica – e que são evidenciados pelos dados oficiais mais recentes sobre a questão, fornecidos pelo Itamaraty, que apontam que, atualmente, cerca de 3 milhões de brasileiros vivem no exterior. Além disso, segundo pesquisa do Datafolha de 2018, 62% dos jovens brasileiros entre 16 e 24 anos afirmaram que mudariam de país, caso isso fosse possível.

O reflexo desta forte emigração de brasileiros e da organização destes cidadãos em outros países no âmbito da difusão do Português como Língua de Herança pode ser medido pela atuação cada vez mais efetiva de associações como Mala de Herança (Alemanha), Abec – Associação Brasileira de Educação e Cultura (Suíça) e Abrace – Associação Brasileira de Cultura e Educação (Estados Unidos). 

Entre as atividades pedagógicas e culturais desenvolvidas por estas associações estão encontros, workshops e oficinas para pais e professores; leitura, contações de histórias e brincadeiras para crianças; apresentações de grupos musicais brasileiros; e palestras de escritores brasileiros e criação de bibliotecas em português. 

Literatura ajuda a criar vínculos de pequenos imigrantes com o Brasil

Para Beti (Rozencwajg), brasileira radicada nos Estados Unidos há 30 anos, o fortalecimento da “brasilidade” em crianças que têm pouco contato com a cultura brasileira e com a língua portuguesa passa pela literatura e pela contação de histórias. 

“O impacto da leitura na primeira infância é enorme, sobretudo quando esta prática, além de proporcionar a alfabetização com a língua materna ou a língua de herança, faz com que sejam criados e fortalecidos laços culturais destes pequenos com o Brasil”, afirma.

A declaração da escritora, poeta e editora carioca é referendada por seu lugar de fala, visto que, juntamente com o marido estadunidense Peter Hays desenvolve trabalho voltado a crianças brasilo-estadunidenses com a editora Sem Fronteiras Press. Além disso, diversos materiais são oferecidos em inglês para todos que se interessam pela cultura brasileira.

“Nos dedicamos à produção de livros infantojuvenis que celebram o Brasil”, afirma (Rozencwajg), destacando a importância de evidenciar nestas obras a força, a riqueza e a diversidade da cultura brasileira. “É fundamental que exaltemos os artistas brasileiros, sua história diversificada e sua rica cultura, além das experiências dos imigrantes brasileiros espalhados pelo mundo. Uma de nossas obras, o “Without Words” fala exatamente sobre isso, uma criança brasileira que tenta se adaptar nos EUA”, acrescenta.

Para saber mais, basta acessar o link: https://www.semfronteiraspress.com/

Website: https://www.semfronteiraspress.com/

Compartilhar notícia