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Duas igrejinhas goianas do século 18 mandam recado do lado de lá

Em uma comemoração de aniversário, visitei Pilar de Goiás, cidadezinha que me magnetizava com um dilema pessoal. Voltei tranquila e pronta

atualizado

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Conceição/Metrópoles
Pila de Goiás – Foto crônica da Conceição
1 de 1 Pila de Goiás – Foto crônica da Conceição - Foto: Conceição/Metrópoles

O desejo me perseguia havia mais de 10 anos. Dou o nome de desejo a algo que não sei nominar. Algo que acendia em mim a vontade de ir a Pilar de Goiás, cidade goiana do século 18 que conserva importante sítio do barroco do ciclo do ouro. Três anos atrás, decidi comemorar meu aniversário com uma viagem de ônibus (360 km) à cidadezinha que me magnetizava.

Levei comigo um dilema pessoal, uma decisão que precisava tomar e com a qual me debatia.

Chegamos a Pilar, eu e minha angústia, num fim de tarde chuvoso. Dormi numa pensão da rua principal, um quartinho sem janela e sem ventilador numa casa antiga, de corredor comprido, estreito e sombrio. Acordei cedinho e saí para conhecer a cidade de 3 mil habitantes.

São duas as igrejas de Pilar: a Igreja dos Pardos, ou Nossa Senhora das Mercês, e a Igreja dos Brancos, ou Nossa Senhora do Pilar. A Igreja dos Pretos não existe mais e a dos Brancos é apenas o que restou da construção original que, segundo contam, era mais suntuosa do que a de Pirenópolis.

A dos Pardos é menor e mais bela. A carpintaria barroca se estende do altar-mor ao púlpito, ao coro e à escadaria exterior que leva ao sino. É uma das igrejas que mantêm as características originais mais preservadas do período colonial brasileiro, segundo consta na descrição do tombamento feito pelo Iphan, o cuidador do nosso patrimônio artístico e histórico.

A dos Brancos foi a maior igreja da província de Goiás até que um desmoronamento levou boa parte de sua grandeza, que incluía nove altares e ornamentos em ouro e prata. Estava fechada naquela manhã de chuva fina, como quem me acompanhava na tristeza.

Conceição/Metrópoles

Um morador me disse para ir à casa da beata que cuidava da paróquia, quem sabe ela me deixaria fazer uma visita rápida. Fui. Com alguma impaciência, dona Conceição me permitiu passar os olhos no lado de dentro da capela.

A dos Pardos também estava fechada e também fui orientada a procurar a beata responsável, que se chamava Creuza, nome de minha mãe. Dessa vez, não tive tanta sorte. Voltei sem conhecer o lado de dentro da igreja. Mas o lado de fora tinha tanta história, beleza e surpresa que me resignei.

As duas ficam em colinas distantes uns 700 metros uma da outra; a dos Pardos olha de frente para a dos Brancos, que está de lado em relação à primeira.

O dilema que me afligia dizia respeito a mim e minha mãe. Foi então que entendi o recado dos deuses e tomei a decisão certa, uma das mais acertadas de toda a minha vida.

Não creio em nada e cada vez mais desconfio que apenas cumpro ordens de um ente misterioso que me conduz – gosto dele, me sinto protegida por ele (ou eles ou ela ou elas, vai saber?).Vivi tragédias que travaram minha alma por muito tempo. Sei que tudo de bom ou de ruim pode acontecer a qualquer momento com qualquer um de nós, quaisquer que sejam e tantos quantos sejam os nossos pecados e nossas virtudes.

A visita a Pilar de Goiás me deixou mais tranquila. Estou aqui para o que der e vier.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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