Hipnose sexual: nós testamos e chegamos ao orgasmo

Nova prática vem ganhando destaque no segmento erótico, pela capacidade de potencializar os estímulos

Tatyane Mendes
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Muita gente acredita que o segredo para chegar ao orgasmo é sexo oral, masturbação ou penetração. Mas, na verdade, o ápice sexual está mais ligado a questões psicológicas, principalmente para as mulheres. A partir disso, uma nova prática vem ganhando destaque no segmento erótico: o orgasmo hipnótico.

Hipnoterapeuta especialista em tratar disfunções sexuais, Guilherme Alves explica que a mente se divide em consciente, subconsciente e inconsciente, e é nessas zonas que a hipnose atua. “Não temos controle sobre o inconsciente, então não trabalhamos com ele. O consciente é responsável por suas ações e pela parte racional crítica-analítica. O subconsciente é a área onde todas as emoções estão guardadas”, ensina.

Entre o subconsciente e o consciente existe uma barreira chamada de fator crítico, que corresponde ao lado racional do intelecto, acrescenta Guilherme. “Esse bloqueio é desenvolvido com o tempo e é ele que impede uma sugestão de ser aceita. O que a hipnose faz é rebaixar essa barreira, fazendo com que sugestões sejam acatadas com mais facilidade”, desenvolve.

Para compreender melhor a prática, eu me submeti a uma sessão de hipnose sexual e compartilho aqui meu relato pessoal:

Tendo um orgasmo sob hipnose
Confesso que estava um pouco receosa antes da sessão. Nunca havia feito hipnose antes, e a questão de compartilhar um relato sobre ter um orgasmo, caso funcionasse, era íntima demais. Além disso, acredito que a maioria das pessoas não costuma ter um orgasmo durante o trabalho. Conversar com o Guilherme para ter um entendimento prévio do processo me ajudou muito. Ele passa uma grande segurança no assunto e mostrou profissionalismo.

Depois da entrevista, partimos para a prática. Fomos a uma sala pequena, mas aconchegante. Ele me direcionou para uma cadeira confortável (daquelas que reclinam). Posso dizer que entrar em hipnose leva cerca de 5 a 10 segundos. O hipnoterapeuta iniciou fazendo um exercício em que eu juntava as mãos sem conseguir soltá-las, mesmo sem nada as prendendo. Foi uma forma de ganhar confiança no processo e derrubou qualquer descrença que eu poderia ter.

Depois, ele usou algumas técnicas simples para que eu relaxasse o corpo e a mente. Nada muito diferente foi aplicado, apenas respirações profundas e contagem do tempo. Guilherme também pressionou um pouco a parte de trás da minha nuca – ele me explicou posteriormente que é um ponto de confusão mental e a pressão ajuda a entrar em transe. É possível ver que a pessoa está hipnotizada pelo relaxamento dos músculos, engrossamento da veia jugular e olhos em estado REM (batendo bastante e semiabertos).

Então começou: ele ia me dando instruções e eu acatando. O primeiro passo foi lembrar de um boa sensação de orgasmo anterior e manter aquela imagem na minha cabeça. Lembro de sentir minhas mãos e orelhas formigando, um efeito colateral da hipnose. A partir da memória que eu já tinha acessado, Guilherme foi incentivando para que meu corpo se lembrasse da sensação.

A hipnose não cria nada novo. Ela vai, no máximo, replicar emoções, sensações e registros que você já tem na mente. Se eu hipnotizo uma pessoa que nunca teve um orgasmo, para ter, duas coisas podem acontecer: ela não vai aceitar a sugestão ou vai dramatizar e imitar alguém que ela já viu tendo um orgasmo, mas não vai sentir as sensações. Ninguém vai ter um orgasmo só por hipnose. Ela tem que ter tido a referência antes, para reproduzir o estímulo.

Guilherme Alves

Para mim foi estranho perceber que, com sugestões sutis, eu estava excitada. Ainda mais porque eu só estava sentada em uma cadeira, com os olhos fechados. Não costumo ter dificuldades para ficar excitada, mas, em geral, é preciso algum tipo de estímulo e vontade. Mais curioso foi perceber a sensação de prazer crescendo e meu corpo reagindo como se de fato eu estivesse no ato sexual.

Eu não estava em um daqueles dias nos quais você “está no clima”, e imaginei que o hipnoterapeuta fosse ter mais dificuldades, mas não foi o caso. Com a sensação de prazer instalada, Guilherme pediu para que eu segurasse sua mão. Era hora de intensificar. Quanto mais eu apertasse a mão dele, mais o prazer ia escalando. Ele acompanhava murmurando “cada vez mais” a cada aperto.

Nesse ponto, eu já estava ofegante, suando e as pernas começaram a tremer sem controle. Era a mesma sensação de um orgasmo explosivo crescendo e crescendo. Não tinha espelho na sala, mas tenho certeza que qualquer pessoa que olhasse para mim diria que eu tinha acabado de aproveitar uma boa transa. Depois de me revirar muito, começou o processo de desaceleração.

Quando saí da hipnose, tive uma sensação parecida com acabar de acordar, mas as provas estavam lá. Na minha calcinha úmida. Vale ressaltar que você não fica inconsciente durante a hipnose e pode rejeitar alguma sugestão, se quiser. Conversando com Guilherme depois, ele me falou que, quanto mais se pratica, mais intensos vão ficando os orgasmos.

O que a hipnose pode fazer, além de reproduzir o orgasmo, é: potencializar a sensação, gerando o que as pessoas chamam de hiperorgasmo ou orgasmos múltiplos; aumentar a sensibilidade; e até criar novas zonas erógenas.

Guilherme Alves

Comentei com ele que minha parte racional ainda ficou muito ativa durante o processo (principalmente porque eu tinha que prestar atenção em tudo, para relatar depois). Ele me respondeu que é normal, a hipnose equilibra o consciente e o subconsciente, dando mais atenção ao último.

Apesar do cérebro ativo, consegui aproveitar a experiência. Não tive problemas com o orgasmo, mas Guilherme me contou que a maioria das pessoas que o procuram são mulheres na faixa dos 40 anos que não conseguem sentir orgasmos. Geralmente, elas sofreram algum trauma na infância ou adolescência que ficou enterrado no subconsciente. Nesse caso, é preciso trabalhar a experiência traumática. Entre os homens, as queixas mais comuns são ejaculação precoce ou ansiedade no momento do ato sexual.

Ainda, questionei o hipnoterapeuta se existe algum risco. Ele me respondeu com uma negativa. “Não há riscos no uso da hipnose em questões eróticas, mas existem ponderamentos éticos, como não usar a técnica para fazer a pessoa ter orgasmo em público ou gerar algum desconforto.”

Outra coisa interessante que descobri é que se pode aprender hipnose para usar em si mesmo ou em um momento íntimo com o parceiro. Para esse fim, Guilherme lança, no mês que vem, um curso online de orgasmo hipnótico com oito horas de duração.

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