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Dois vigilantes morrem e pelo menos 14 testam positivo para Covid-19 no DF

Levantamento realizado pelo sindicato da categoria revela que contaminação atingiu profissionais que atuam em unidades locais de saúde

atualizado

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Myke Sena/Especial para Metrópoles
vigilante de máscara
1 de 1 vigilante de máscara - Foto: Myke Sena/Especial para Metrópoles

A morte de Reginaldo de Almeida, 51 anos, por coronavírus, a segunda registrada de um vigilante, fez aumentar ainda mais o temor de uma categoria que não pode optar pelo isolamento social. Os seguranças particulares são os que guardam os acessos de unidades de saúde públicas, privadas e de centenas de empresas instaladas na capital do país. Logo, estão mais expostos ao contato com quem chega.

Dados do sindicato da categoria mostram que há pelo menos 14 vigilantes contaminados e internados com a Covid-19 no DF. O número, pondera a entidade, deve ser muito maior, uma vez que a testagem em massa dos trabalhadores foi iniciada somente nesta semana e, por enquanto, o balanço oficial foi baseado apenas na primeira leva de notificações.

“Os profissionais da segurança privada não têm nenhum amparo do empregador. Diante de muita insistência, de muita cobrança, eu consegui marcar e realizar dois testes, que deram negativo”, disse um vigilante que atua em unidade pública de saúde da região de Sobradinho e pediu para não ser identificado, temendo represálias.

O trabalhador detalhou a rotina de cuidados diários para proteger sua família da doença. “Quando eu chego em casa, minha esposa fica preocupada. Temos um filho com asma e bronquite e chego já sem sapato, tiro o uniforme e coloco numa sacola, porque tenho medo de levar o vírus para a minha família”, contou.

Todo dia chega paciente confirmado com Covid-19 onde eu trabalho e não recebemos nenhum cuidado, nada, somos invisíveis

Vigilante que atua em unidade de saúde de Sobradinho

Diante dessa realidade, o profissional reclama da falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) para quem desempenha a função. “Os patrões estão explorando a nossa mão de obra de forma indiscriminada, mas deixam de cumprir o essencial, que é a entrega de material básico de proteção para nós, trabalhadores. Recebemos as máscaras com muito atraso e depois de muita insistência”, revelou.

“Eu, por exemplo, recebi uma única máscara de pano. Não chegou luva e nada mais. Isso expõe a gente ao perigo constante”, completou o trabalhador.

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Linha de frente

De acordo com o Sindicato dos Empregados de Empresas de Segurança e Vigilância (Sindesv-DF), relatos como esse aumentam a cada dia, o que tem despertado preocupação sobre a saúde da categoria.

“Como nos hospitais, os vigilantes estão na linha de frente recebendo esses pacientes contaminados. O sindicato conseguiu, junto à Secretaria de Saúde, que sejam feitos testes para Covid-19 em todas as equipes desses postos de serviço”, explicou Gilmar Rodrigues, diretor de Comunicação do Sindesv-DF. “No entanto, infelizmente, não tem equipamento para realizar o teste em todos. Caso o vigilante tenha sintomas, a orientação é que o mesmo procure esses postos itinerários”, acrescentou.

De acordo com o dirigente sindical, muitos vigilantes já começaram a ser testados desde a última quinta-feira (21/05), com exceção daqueles que estão lotados nas regiões do Gama, Santa Maria, Sobradinho e Ceilândia. Esses estão programados para a segunda etapa de testagem, iniciada na noite dessa sexta-feira (22/05), conforme explicou Rodrigues.

“Ressaltamos que em nenhum estado brasileiro existe equipamento suficiente para testar toda a população, mas o sindicato tem trabalhado para que os vigilantes fiquem nos grupos de prioridade para fazer o teste. Assim, caso se contaminem, terão logo o resultado e poderão iniciar o tratamento o quanto antes, o que é fundamental para salvar vidas”, continuou.

Represante da categoria na Câmara Legislativa, o deputado distrital Chico Vigilante (PT) afirmou que teve inúmeras reuniões com representantes do Governo do Distrito Federal, inclusive da Secretaria de Saúde, e criticou a higienização tardia das unidades públicas de saúde. Segundo ele, faltou orientação prévia para enfrentar a proliferação do novo vírus.

“Quando foi colocado no decreto do presidente da República sobre o trabalho essencial do vigilante, não fizeram nada, não se prepararam para dar segurança à categoria. Não deram equipamentos de proteção, não treinaram e nem orientaram a categoria”, ressaltou o parlamentar.

“Falei com o governador Ibaneis para exigir das empresas que entregassem esse material. Algumas acham que vigilante não é gente. A morte do Reginaldo é o segundo caso já registrado de óbito entre vigilantes que atuam nas unidades de saúde. A categoria está assustada”, declarou o parlamentar.

Unidades com vigilantes contaminados:

  • Hospital Regional do Guará:  01
  • Hospital Regional de Samambaia: 03
  • Unidade de Pronto Atendimento de Samambaia: 01
  • Hospital de Apoio: 02
  • Hospital Regional de Planaltina: 02
  • Hospital Regional de Taguatinga: 04
  • Hospital Regional de Santa Maria: 01

(Fonte: Sindesv-DF)

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