Último show de Elza Soares em Brasília aconteceu em 2018
Deputados federais protocolaram, nesta semana, na Câmara, uma série de projetos de lei para incluir dois nomes bastante antagônicos no livro dos “Heróis da Pátria”: a cantora Elza Soares e o escritor Olavo de Carvalho, considerado o guru do bolsonarismo. Ambos morreram em janeiro deste ano.
Falecido no dia 24, Olavo conta com uma força tarefa empenhada em colocá-lo ao lado de nomes como Tiradentes e Marechal Deodoro da Fonseca. Até o momento, já foram ao menos três projetos pedindo sua inclusão no panteão de heróis da Pátria. Todos assinados por parlamentares bolsonaristas.
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O escritor Olavo de Carvalho, de 74 anos, considerado o guru do bolsonarismo, morreu na madrugada do dia 24 de janeiro de 2022. Ele estava internado em um hospital de Richmond, nos Estados Unidos ▲
Apesar de não ter sido divulgada a causa da morte, Olavo havia informado que tinha contraído Covid-19 recentemente. O escritor deixa a esposa, Roxane, oito filhos e 18 netos ▲
Natural de Campinas, São Paulo, Olavo mudou-se para os Estados Unidos em 2005. Segundo ele, um dos motivos para ter saído do Brasil foi a chegada do Partido dos Trabalhadores (PT) à Presidência da República ▲
Trabalhou como jornalista em veículos como Folha de S.Paulo, Planeta, Bravo!, Primeira Leitura, Jornal do Brasil, Jornal da Tarde, O Globo, Época, Zero Hora e Diário do Comércio ▲
Opositor do "politicamente correto" e crítico do que chamava de pensamento "hegemônico de esquerda na imprensa e na academia", o escritor se tornou celebridade dentro da direita política ▲
Durante a vida, Olavo publicou diferentes livros polêmicos, entre eles: O Mínimo que Você Precisa Saber para não Ser um Idiota, considerado um dos manuais da direita brasileira, O Jardim das Aflições (1995) e O Imbecil Coletivo (1996) ▲
Os livros e artigos de autoria do escritor, no entanto, foram alvo de polêmicas. Alguns reproduzem teorias conspiratórias, informações incorretas e discursos de ódio. Além disso, Olavo defendia que a Terra é plana, negava a existência do aquecimento global e jurava que a Pepsi é adocicada com células de fetos abortados ▲
Nos Estados Unidos, trabalhava dando aulas de filosofia pela internet ▲
Fundou o site Mídia sem Máscara (MSM), que tinha o objetivo de combater o “viés esquerdista da grande mídia brasileira”. Entre seus defensores estavam os filhos do presidente Jair Bolsonaro. Aliás, Olavo era considerado consultor e espécie de guru intelectual de assessores próximos ao presidente ▲
Olavo de Carvalho terá seu funeral realizado em Petersburg, cidade de 31 mil habitantes na Virgínia, Estados Unidos ▲
Além disso, foi internado com problemas respiratórios em abril do ano passado e lidava com consequências da doença de Lyme, conhecida como doença do carrapato, que pode causar irritação na pele, dores nas articulações e fraqueza nos membros ▲
Pouco antes de falecer, passou a fazer críticas ao governo Bolsonaro. Apesar disso, o presidente lamentou a morte do escritor. “Olavo foi um gigante na luta pela liberdade e um farol para milhões de brasileiros. Seu exemplo e seus ensinamentos nos marcarão para sempre”, escreveu o mandatário do Brasil ▲
Já a iniciativa para que Elza Soares, uma das mais importantes vozes da música brasileira e que costumava fazer críticas a Jair Bolsonaro, seja considerada uma heroína da Pátria foi apresentada pela deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ). A cantora faleceu em 20 de janeiro.
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Elza Gomes da Conceição nasceu na favela carioca de Moça Bonita, em 23 de junho de 1930 ▲
Aos 91 anos, no dia 20 de janeiro de 2022, Elza faleceu de causas naturais, em casa. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da cantora ▲
"A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo o mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até o fim" ▲
Ao todo, Elza teve sete filhos. Aos 21 anos, Elza já era viúva do primeiro marido e tinha perdido dois de seus filhos, que morreram de fome ▲
Mesmo com a dor, Elza presenteou o mundo com seu jeito único de cantar. Ela se tornou uma das maiores cantoras da história da música popular brasileira. Iniciou a trajetória nos concursos de rádio, no anos 1950. Nas décadas seguintes, construiu uma grande trajetória no samba ▲
Ao longo da brilhante carreira, Elza Soares lançou 34 discos e, nos anos mais recentes, aproximou-se de sons contemporâneos, como o hip-hop e a música eletrônica ▲
O disco A Mulher do Fim do Mundo foi eleito pelo jornal The New York Times como um dos 10 melhores do ano de 2016. O último álbum dela foi Planeta Fome, lançado em 2019 ▲
A morte da cantora ocorre exatos 39 anos depois da morte de Garrincha, com quem ela foi casada ▲
Elza Soares e Garrincha, ídolo do Botafogo, viveram um romance cheio de altos e baixos de 1966 a 1982. O relacionamento entre eles começou escondido, pois Garrincha era casado na época e a cantora foi taxada de amante do jogador e responsável pelo fim do matrimônio anterior dele.A paixão entre os dois durou 17 anos e eles tiveram um filho, Júnior, que morreu em 1986, em um acidente de carro ▲
Em 1963, ela gravou a canção Eu Sou A Outra, sobre o assunto, sacudindo a sociedade conservadora do Brasil ▲
Durante a ditadura, Elza e Garrincha precisaram se mudar para a Itália, depois que a casa onde moravam foi metralhada ▲
Lá eles ficaram amigos do casal Chico Buarque e Marieta Severo. De volta ao Brasil, a relação entre Elza e Garrincha foi marcada pelo alcoolismo do jogador e pela violência doméstica ▲
O casamento acabou após 16 anos, em 1982. O jogador morreu no ano seguinte, de cirrose ▲
Ao longo da vida, Elza também se tornou símbolo da resistência negra no Brasil e uma apoiadora da causa LGBTQ. No seu último aniversário, foi homenageada por Beyoncé ▲
Para que os nomes sejam, de fato, incluídos na publicação, os projetos de lei apresentados precisam ser aprovados nos plenários da Câmara dos Deputados e do Senado por maioria simples dos presentes no dia da votação. Depois disso, ainda precisarão ser sancionados pelo presidente da República.
Entretanto, de acordo com a legislação, o nome dos personagens aprovados pelo Congresso só podem ser incluídos, de fato, no livro 10 anos depois da morte ou da presunção da morte do homenageado.
O livro
O livro dos “Heróis da Pátria”, também conhecido como “livro de aço”, fica exposto no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Ele atualmente tem em suas páginas o nome de 50 heróis e heroínas.
Dentre os heróis estão políticos como os ex-governadores Leonel Brizola e Miguel Arraes e o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães. Também há artistas e personalidades históricas, como o escritor Machado de Assis, o maestro Heitor Villa-Lobos e o líder da revolução de Canudos, Antonio Conselheiro.