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Dallagnol não concorrerá ao Senado, diz Alvaro Dias

Alvaro Dias também avaliou que Sergio Moro tem mais chance de tirar Bolsonaro do 1º turno

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Thati A. Martins/Divulgação
Alvaro Dias
1 de 1 Alvaro Dias - Foto: Thati A. Martins/Divulgação

O senador Alvaro Dias, do Podemos do Paraná, deixou claro que Deltan Dallagnol, ex-chefe da Lava Jato que entrará para seu partido na sexta-feira(10/12), não será seu concorrente na reeleição ao seu quinto mandato no Senado. “O Senado não é o lugar para renovação. É a Casa da maturidade política, que exige experiência. Eu comecei como vereador para chegar aqui”, disse.

Ele também afirmou que Sergio Moro tem mais chances de tirar Jair Bolsonaro do que Lula do primeiro turno em 2022 e, assim, disputar o segundo turno com o petista. Entusiasta da candidatura de Moro ainda quando o ex-juiz era ministro de Bolsonaro e prometia não entrar para a política, Dias se disse surpreso com o desempenho do ex-juiz no primeiro mês de pré-campanha. Em entrevista à coluna, Dias contou que Modesto Carvalhosa, professor aposentado de direito da Universidade de São Paulo (USP), tem atuado na equipe de campanha de Moro.

Leia os principais trechos da entrevista.

O senhor previa que Moro apareceria em terceiro nas pesquisas com um mês de pré-candidatura?

Foi mais rápido do que calculávamos. Nesse primeiro mês, já deu para sentir que ele possui muita capacidade de diálogo e tem feito muito em pouco tempo. Isso é fundamental para quem quer fazer política.

O combate à corrupção ainda é uma bandeira cara ao eleitor?

O combate à corrupção segue sendo uma prioridade nacional, em que pese o fato de que nesse período de crise econômica, social e sanitária, outros fundamentos são essenciais. O carro-chefe é um projeto estratégico de desenvolvimento econômico e social que nos permita escapar da armadilha da pobreza. O que considero relevante para a boa acolhida de Moro é seu histórico. Há sempre uma tentação na opinião pública de buscar o novo, o inusitado, já que há uma decepção enorme com o que existe na política. A generalização nos castiga fortemente. Então, quando surge um fato novo, uma espécie de alienígena que chega agora mas traz um patrimônio adquirido na magistratura, isso impulsiona a candidatura. É o favorito para chegar ao segundo turno, desbancando um dos dois na polarização (Jair Bolsonaro ou Lula).

É possível que Moro tire Bolsonaro do segundo turno?

É uma possibilidade. Se analisarmos as pesquisas qualitativas, vamos verificar que um percentual significativo de intenção de voto do Bolsonaro se deve ao antipetismo e anti Lula. Em uma pesquisa que vi, os votos em Bolsonaro seriam 10% a 12%. O restante, até completar os 28%, seria de eleitores que rejeitam o Lula e o PT. São eleitores que podem migrar, se perceberem uma alternativa capaz de chegar ao segundo turno. Do outro lado, não com o mesmo percentual, há eleitores que manifestam voto em Lula porque rejeitam em Bolsonaro, o que não significa que sejam eleitores do PT. Esses podem migrar também. O candidato que sai à frente nesse caminho do meio com boas perspectivas de sucesso eleitoral pode desbancar um dos dois. Mais provavelmente, o da direita (Jair Bolsonaro), que está em queda.

Que lição o senhor tirou da participação da campanha de 2018 ao Planalto, dominada por Bolsonaro e PT?

Em 2018, com a polarização, os que estavam no meio foram dizimados. Desaparecemos. Nesta eleição de 2022 esse fenômeno pode se repetir, acrescentando o terceiro colocado. Os três primeiros vão polarizar as atenções e os outros vão desaparecer. Na última eleição, a preocupação era a destruição. A maioria queria destruir os envolvidos em corrupção, que representavam a organização política que promoveu os escândalos do mensalão e petrolão. Mas não se cuidou de escolher uma alternativa que pudesse ser também construção. Também penso que os debates terão maior importância agora. Vai haver uma curiosidade. O Moro condenou o Lula, o Moro acusou o Bolsonaro disso e disso. Como vai ser o debate? Isso vai ser bom para todos.

Quais são os perfis mais adequados de vice para Moro? Mulher, nordestino, evangélico, político?

Eu não priorizo partido nem geografia, mas o conceito, a imagem. Ninguém vota em vice. Nem o filho vota no pai como vice. O que o vice pode é somar em conceito. O vice precisa ter condições de assumir o governo se o comandante faltar. É isso o que deve liderar na definição do vice. A preocupação com o vice é muito mais no pós-eleição, no governo. Eu não apressaria a definição do vice. As convenções são em julho, tem muito tempo pela frente. O que atrai a aliança é o potencial de crescimento de cada candidato. Há um pragmatismo na política. O partido tem expectativa de poder. Se Moro cresce, desperta interesse de aliados. Por isso, precisamos ter paciência.

O senhor vetaria alguma sigla na aliança?

Não. Nós teremos um projeto com os nossos compromissos: substituir o sistema promíscuo por um republicano. Aqueles que assumirem esse projeto de forma plena e assinarem embaixo serão bem-vindos. Vão somar tempo de TV, rádio e estrutura. Não há como ignorar o oportunismo das campanhas eleitorais. Os candidatos ao governo e ao Congresso são solidários até certo ponto. Se o candidato ao Planalto soma, são solidários. Mas se diminui, eles deixam a lealdade de lado.

Além do economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, quem mais tem auxiliado no plano de governo de Moro?

O Moro não cita nomes sem autorização dos envolvidos. Mas vou falar um porque ele me autorizou: o jurista Modesto Carvalhosa está tratando de reforma política e combate à pobreza. O Moro tem dito que quer criar uma agência de combate à pobreza. O Pastore, por sua vez, coordena um grupo com economistas.

O Podemos filiará Rodrigo Janot, ex-PGR?

Bem antes de o Moro se filiar, eu já havia convidado o Janot. Tenho muito respeito por ele. Foi essencial no combate à corrupção, na Lava Jato. Ele demonstrou disposição de se filiar para contribuir, não obrigatoriamente lançando uma candidatura. Estamos conversando. Ficou combinado que no início de 2022 a gente voltaria a tratar do assunto.

Deltan Dallagnol, ex-coordenador da Lava Jato, se filiará ao Podemos nesta semana. Concorrerá ao Senado?

Não, o Deltan será candidato a deputado federal, porque diz que não quer concorrer comigo (ri).

Ou um dos senhores teria de abrir mão. 

Eu abro mão toda hora, mas não deixam. Sou candidato por convocação do partido. Estou numa fase de contribuir para a renovação da política com qualidade. É evidente que o Senado não é o lugar para renovação. É a Casa da maturidade política, que exige experiência. Às vezes as circunstâncias obrigam uma renovação de cima para baixo, mas o ideal é que se comece subindo a escada. Eu comecei como vereador para chegar aqui. Você vai obtendo a graduação conforme exerce os mandatos. Eu só não seria candidato se não me sentisse convocado pela população, e isso a gente percebe nas pesquisas.

Como avalia o governo Bolsonaro hoje, ao fim do terceiro ano?

Está em plena decadência. Gerou expectativa, mas chega o momento de oferecer respostas. As respostas são insuficientes.

O senhor prevê que Moro será muito atacado por Bolsonaro na campanha? O presidente já começou esse movimento. 

Moro será atacado pela direita e esquerda. Esse protagonismo o torna um candidato viável. Lembro uma expressão do Ulysses Guimarães: “É como clara de ovo. Quanto mais bate, mais cresce”. Tendo competência para administrar as pancadas, ele vai crescer e ganhar favoritismo para desbancar a polarização.

Os senhores serão cobrados pelo apoio que deram a Bolsonaro em 2018?

Não apoiei o governo Bolsonaro. A nós, ninguém pode cobrar. O Moro era juiz, não participou de campanha. Eu anulei meu voto, inclusive.

Mas Moro aceitou ser ministro da Justiça de Bolsonaro. 

Ele aceitou o convite imaginando uma extensão do trabalho que vinha realizando, com uma política de combate à corrupção. Ele não teve o apoio necessário do presidente. No momento em que ele esgotou todos os recursos, deixou o governo.

O compromisso de Moro em vetar a reeleição ficará de pé? Bolsonaro e Lula também já prometeram o mesmo no passado. 

Tenho plena confiança de que ele cumprirá esse compromisso. Nós que estamos participando desse projeto seremos os primeiros a cobrar. Não tenha a menor dúvida.

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