Foragido há um mês, Zé Trovão mantém ataques: “Não retiro o que disse”

Em entrevista, caminhoneiro alvo da PF elogia Bolsonaro e cogita ficar no México: "Voltar ao Brasil para ser preso está fora de cogitação"

Eduardo Barretto
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Há um mês foragido no México, o caminhoneiro foragido Marcos Gomes, conhecido como Zé Trovão, afirmou que não aceita ser preso no Brasil e negou que recuará dos ataques que fez ao STF e ao Senado. Responsável pelo início de um “levante” contra a democracia, segundo a PGR, Trovão mora na casa de um amigo e espera dirigir um caminhão na Cidade do México.

Em entrevista à coluna nesta segunda-feira (11/10), Trovão cogitou não retornar jamais ao Brasil: “Se me falarem: ‘Você só volta para o Brasil se fizer uma carta pedindo perdão para o ministro Moraes’, então vou passar o resto da minha vida fora do Brasil. Eu posso pagar um alto preço, mas não retiro o que disse. Voltar ao Brasil para ser preso está fora de cogitação”.

Questionado sobre a carta em que Jair Bolsonaro recuou dos ataques ao Supremo no 7 de Setembro, o caminhoneiro desconversou e defendeu que dentro do gesto existe um acordo — que ainda não chegou para ele no México.

Leia os principais trechos da entrevista:

Quando pretende voltar ao Brasil?
Pretendo voltar quando a situação da minha prisão for resolvida. Meus advogados já fizeram mais de dez pedidos, mas o ministro Alexandre de Moraes negou. Eles pediram que eu pudesse retornar ao Brasil sem ser preso. Voltar ao Brasil para ser preso está fora de cogitação. Não sou criminoso. O dia em que eu desistir de lutar, prefiro ir embora do Brasil definitivamente com minha família. Pedi asilo político aqui no México e ainda espero uma resposta. Fiz uma entrevista no consulado na semana passada. Talvez eu consiga uma autorização para trabalhar. Aí eu posso dirigir caminhão no México, que é o que eu sei fazer.

Como consegue se sustentar?
Eu poderia estar trabalhando ilegalmente, mas não estou. A coisa fica um pouco complicada porque você fica sem recursos próprios. No Brasil, eu tenho quatro crianças e uma mulher. Tudo isso é muito difícil, mas estou sobrevivendo. No Brasil, quando eu trabalhava atrás do volante, eu mal conseguia me sustentar. E agora estou numa situação pior. Graças ao bom Deus, estou acolhido na casa de um amigo brasileiro que tem cidadania mexicana. Então, não estou pagando hospedagem.

A PGR afirmou que você iniciou um “levante” contra a democracia ao pregar a invasão do STF e do Senado. Não retira nada do que disse?
Se me falarem: ‘Você só volta para o Brasil se fizer uma carta pedindo perdão para o ministro Moraes’, então vou passar o resto da minha vida fora do Brasil. Ambos têm de reconhecer seus erros e acertos. A próxima atitude que ele tomar, vou criticar novamente. Perdão a gente pede quando está errado. Sou um homem que não se arrepende do que faz. Eu posso pagar um alto preço, mas não retiro o que disse. Talvez o tom das palavras tenha sido equivocado, mas não as críticas para Moraes e os outros que estão cometendo crimes. Se dentro desse acordo eles forem fazer o papel deles como ministros, para mim está tudo certo.

Que acordo? A carta de recuo de Bolsonaro após o 7 de Setembro?
Sim. Se Bolsonaro deu um passo atrás, isso mostra coragem. Não é qualquer um que volta atrás, não. Ele fez duras críticas e depois defendeu a harmonia entre os Poderes. Perfeito. É isso o que eu mais quero. Não adianta só um lado ceder. Precisamos que os Poderes recuem e façam seu papel. Me parece que está começando a surgir isso.

Não parece ter funcionado para você, que continua alvo de prisão da PF um mês depois.
Eu acredito no Bolsonaro. Tenho plena convicção de que o Bolsonaro sabe o que está fazendo. Nós entramos numa luta muito grande. Não iria acabar do dia para a noite.

O que acha de Bolsonaro nunca ter feito um gesto de solidariedade a você?
Bolsonaro não tem obrigação nenhuma de tocar no meu nome. Não me incomoda nem um pouco.

Na carta de Bolsonaro, Moraes passou de “canalha” a “jurista e professor”. Você concorda?
Sempre vou manter minha opinião sobre o Moraes. Ele tem de se colocar no seu devido lugar. Se fizer o trabalho dele como ministro, está bom demais.

O Bolsonaro não extrapolou seu trabalho como presidente? Ele falou em golpe de Estado e ameaçou as eleições de 2022.
Olha, eu acredito que assim… É… Talvez uma… Um momento… Todo ser humano num momento de ira às vezes fala alguma coisa que não deveria. Isso é natural.

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