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Coronavírus é um “acelerador de mudanças digitais”, diz especialista

O engenheiro e fundador do Grupo Flug Pedro Pellegrino compartilhou com a coluna quais serão as mudanças tecnológicas no mundo pós-pandemia

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computador e celular
1 de 1 computador e celular - Foto: StockSnap/Pixabay

O mundo nunca mais será o mesmo depois da pandemia de coronavírus. O isolamento social, o fechamento do comércio e os cuidados que cada indivíduo deve tomar para se prevenir da Covid-19 são apenas três de tantos outros fatores que transformarão a humanidade.

De acordo com Pedro Pellegrino, engenheiro e fundador do Grupo Flug, empresa de tecnologia e inovação na construção civil, o ramo tecnológico, assim como a economia, está passando por um “profundo processo de transformação voltado para o chamado Low Touch Economy, ou seja, de pouco contato”. Diversos modelos de negócios tradicionais precisarão se adaptar aos serviços de entrega em domicílio, para que pessoas não precisem sair de casa para comprar ou consumir um produto.

“Empresas cujos business se pautavam no contato físico agora estão fazendo serviços em casa. Restaurantes que jamais sonharam em fazer delivery estão aderindo à onda de aplicativos de entrega. Artistas fazem lives e atingem números de audiência nunca antes vistos”, afirma o especialista.

Para ilustrar, Pedro apresenta exemplos de serviços que encurtaram a “fase beta”, como o ramo das entregas, que tirou do papel os testes com drones. Na saúde, as autoridades agilizaram a regularização da telemedicina.

drone

Além disso, machine learning, inteligência artificial e realidade aumentada permitem que soluções personalizadas sejam desenvolvidas, como é o caso do Spotify, que recomenda uma música baseada nos padrões de consumo do usuário; e a Netflix, que escolhe a melhor série para um telespectador. Para o profissional, isso otimiza gastos e acelera os processos tradicionais.

Outro setor que ganhou espaço nos últimos meses foram as plataformas digitais e a relevância das questões relacionadas à privacidade on-line e segurança de dados. “Diversas denúncias contra a fragilidade na proteção de informações foram feitas e serviços, como o Zoom (app de videoconferência), tiveram que se adaptar rapidamente para reconquistar a credibilidade do público”, entrega Pellegrino.

Migrando para o digital

O novo cenário influenciou no comportamento do indivíduo, que buscou por soluções digitais. A plataforma Zoom, por exemplo, atingiu o pico de 200 milhões de usuários ativos diariamente, conforme explica Pellegrino com dados do The Hill. A Netflix, por sua vez, ganhou 16 milhões de assinantes, segundo a BBC.

mãos segurando celular

“A internet é uma complexa e redundante rede descentralizada de acesso à informação. Com o lockdown e o home office em diversas partes do mundo, vemos aumentos exponenciais na utilização dessas plataformas”, defende o engenheiro.

O meio on-line, portanto, tem capacidade para gerir tantas transações? Para o especialista, sim. Ele frisa que a malha de servidores espalhados pelo mundo consegue se adaptar de forma rápida e dinâmica à volatilidade de acessos. “Isso significa que, apesar de haver alguns ‘soluços’ esporádicos – limitações de resolução de streaming em alguns países, por exemplo – a web como conhecemos não deve se sobrecarregar com a nova adaptação do trabalho em casa”, informa.

O engenheiro compara a web a uma rede de rodovias: “Se uma saída estiver congestionada, há milhares de outras disponíveis para garantir o fluxo normal.” O fato serve de entendimento para comprovar que a rede aguenta um tráfego dez vezes maior que o de costume.

Por outro lado, é normal ver sites do governo americano travando devido ao grande número de acessos. “Com o fechamento de 20 milhões de postos de trabalho apenas em abril, o número de pedidos on-line de seguro-desemprego nos EUA atingiu picos recordes”, diz. Isso se deve às raízes dos portais do governo na linguagem de programação COBOL, formato de código que não permite a descentralização fácil de servidores.

E a situação atual do setor tecnológico? Segundo o profissional, a burocracia dos grandes bancos, por exemplo, está sendo substituída pela praticidade das fintechs, como também as lojas físicas que deram a chance para o modelo e-commerce.

Dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm) apontam que houve um aumento de 30% nas vendas pela internet durante as duas primeiras semanas de abril.

“O isolamento forçou o Brasil, onde apenas cerca de 6% da receita do varejo é on-line (a média no mundo é de 15%), a adiantar a evolução que os especialistas chamam de quarta ‘onda’ do comércio eletrônico”, afirma Pellegrino.

Essas e outras mudanças refletem na valorização das empresas de tecnologia, como a Amazon, que teve alta de 25,4% desde o começo de janeiro até a primeira semana de maio; e o despencar das ações de empresas de serviços e commodities, que compõem boa parte do PIB nacional.

celular

Modernização

Para Pedro Pellegrino, o coronavírus tem agido como um “acelerador de mudanças digitais, antecipando adaptações de longo prazo, quebrando tabus e reduzindo a resistência de mindsets conservadores”. Ele justifica a tese ao dizer que crises são, historicamente, também grandes períodos de oportunidades.

Exemplos de avanços tecnológicos visíveis nesse período:

  • Airbnb, startup criada durante a crise imobiliária dos Estados Unidos de 2007-2008, que, hoje, é avaliada em mais de USD 30 bilhões (fonte: Estadão);
  • Uber, ideia que se concretizou em cenário pós-crise dos EUA de 2008, quando a economia ainda se recuperava da recessão e pessoas buscavam rendas extra. Entrou em um crescimento exponencial e atualmente é avaliada em mais de USD 80 bilhões (fonte: Estadão); e
  • Nescafé, que veio na década de 30 para transformar pó em café, revolucionou o mercado e possibilitou um aumento em eficiência na cadeia de produção e distribuição do produto. Hoje, é a marca mais valiosa da Nestlé.
Contraponto

Há cinco anos, em uma palestra para a Ted Talks, Bill Gates “previu” uma pandemia, o que muitos dizem ser o atual coronavírus. “O maior risco de catástrofe global não se parece com uma bomba, mas sim com um vírus. Investimos muito em armas nucleares, mas bem pouco em um sistema para barrar uma epidemia. Não estamos preparados”, ministrou.

Confira, no vídeo a seguir:

A pandemia pegou todos de surpresa. De acordo com Pellegrino, essa será uma grande lição para governos começarem a se preparar para esse tipo de crise, como fazem com treinamentos de incêndio em prédios, instruções contra terremotos ou rotas de fugas de tsunamis. “‘Deverá haver uma consciência geral para respostas rápidas e efetivas contra futuras doenças similares”, clama.

“O problema da Covid-19 foi a resposta devagar dos governos, muitas vezes subestimando seu potencial exponencial de expansão. Aplicativos para acompanhar índices de contaminação e educar pessoas ajudarão no combate à pandemia e a futuras doenças também”

Pedro Pellegrino
Engenharia moderna

Atuante no ramo da engenharia, Pellegrino busca trazer uma ferramenta de gestão remota com drones para auxiliar na tomada de decisões e coordenação efetiva de obras a distância.

“A ideia é simples. Dentro de casa, os engenheiros, arquitetos e clientes finais podem acompanhar, em uma plataforma on-line, relatórios semanais ou quinzenais com modelos 3D gerados por drones de suas respectivas obras. Isso reduz a necessidade de exposição de trabalhadores em uma obra”, apresenta.

construção

O projeto contará com um veículo aéreo não tripulado (VANT ou drone), controlado de forma remota e sem precisar de contato físico com outras pessoas. O instrumento escaneará e digitalizará as condições existentes de uma obra. Assim, os arquivos subirão para a nuvem e poderão ser compartilhados por meio de um link ou aplicativo em uma plataforma colaborativa na qual todos têm acesso à informação do andamento da obra.

Outra tecnologia implementada é a de scanners a laser.  “É o famoso ‘botar a mão na massa’: puxar trena, tirar foto, abrir projeto, desenhar croquis e retificar valores. Se algum dado não bater, a solução geralmente envolve retrabalho e perda de tempo. Esse processo manual, realizado de maneira tradicional, envolve muito tempo in loco, exposição desnecessária à obra e, muitas vezes, ainda inclui erros humanos inerentes ao trabalho manual”, explica.

O último case realizado pelo engenheiro envolveu o levantamento com scanner a laser na nova concessionária da Porsche, em Brasília. Complexo, o projeto trabalhou, inclusive, com diversas empresas locais e de outras regiões do país.

O espaço, que demandou estruturas metálicas, exigiu do profissional precisão redobrada. Ele entregou, em menos de uma semana, a fachada lateral e superior do edifício em construção, fornecendo dados confiáveis e acessíveis para o processo colaborativo de implementação de projeto. A tecnologia permitiu que menos pessoas fossem expostas, além de uma maior precisão e velocidade de digitalização.

Sobre o entrevistado
Pedro Pellegrino
Pedro Pellegrino

Engenheiro formado pela Universidade de Brasília, Pedro Pellegrino está à frente de movimentos de inovação e digitalização de obras públicas e privadas. É fundador do Grupo Flug, empresa de tecnologia e inovação na construção civil que desenvolve soluções para fiscalização, acompanhamento de obras e adequação de projetos em BIM.

Para saber mais, siga o perfil da coluna no Instagram.

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