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Jean Wyllys vira tema e personagem em filmes no Festival de Brasília

O 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro acontece, no Cine Brasília, de 20 a 27 de setembro

atualizado

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Wilson Dias/Agência Brasil
Jean Wyllys
1 de 1 Jean Wyllys - Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

De 20 a 27 de setembro, vai rolar o 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, no Cine Brasília. Neste ano, dentro do festival acontece a mostra “A Política no Mundo e O Mundo da Política”, com dois filmes que se encontram em um mesmo tema e até com um mesmo personagem: o deputado federal Jean Wyllys.

Inclusive, será neste festival que acontecerá a estreia do polêmico “Eu_Jean Wyllys”, que agora se chama “Entre os Homens de Bem” (sinceramente, bem mais adequado), com direção de Carlos Juliano Barros e Caio Cavechini.

O filme já nasceu no meio de uma confusão. Prestes a estourar os escândalos de corrupção que agora estampam os noticiários sobre a extinção do Ministério da Cultura, adornada por uma mal embasada discussão a respeito da Lei Rouanet, surgiram muitas acusações ao deputado de que ele estaria fazendo um filme sobre si mesmo e ainda se locupletando do dinheiro público.

Acusações sempre negadas veementemente, sobretudo porque o filme teria sido bancado por financiamento coletivo, arrecadando R$130.335, quando a meta era de 120 mil, segundo informações do próprio site de arrecadação para a execução do filme, disponível no perfil oficial do filme no Facebook.

Dadas as devidas informações, vamos ao filme. Ele é um passeio pelas alas fundamentalistas conservadoras da política brasileira ciceroneado justamente por uma das figuras mais odiadas e atacadas por ela. Por mais que haja outros parlamentares que defendam os mesmos princípios que ele, não há nenhum que seja o que ele é: a existência mais concreta do que os conservadores repudiam.

Descendente de negros, de uma família de baixa renda, homossexual assumido, seguidor de uma fé diferente do catolicismo ou evangélico, o deputado ainda é um defensor dos direitos humanos, das prostitutas e do debate a respeito da liberação da maconha e do aborto.

Pessoa já tão destoante da imagem clássica do político brasileiro — sempre imaginamos a figura do político como um ser hipócrita, sem opiniões definidas, volúvel como folha ao vento, além de um ar malandro que sempre parece estar metido em conchavos e negociatas –, Jean vem cada vez mais se consagrando como uma figura pública que emana confiança, sobretudo por nunca ter tido seu nome envolvido com qualquer denúncia de corrupção, conquistando por três vezes o título de Melhor Deputado por voto popular.

Normalmente, quando o acusam é por situações absurdas como por ter um projeto de lei que legalizaria a pedofilia ou para alterar o texto da Bíblia (coisas que basta buscar na própria página da Câmara dos Deputados para confirmar sua inveracidade).

Apesar da figura de retidão política e ética do deputado, suas opiniões em relação aos temas mais polêmicos da sociedade brasileira o impedem de conquistar o apoio da maioria da população. Li uma frase essa semana sobre o filme Aquarius que cai como uma luva sobre ele: “A resistência é um lugar solitário”.

Sem contar que Jean defende uma matéria tão essencial quanto impalpável que é a liberdade de escolha. Diferente da bancada conservadora, que quer apenas ditar o sim e o não, atitude mais acessível a quem cultiva a indolência em refletir e decidir por si os rumos da própria vida, Jean sempre propõe o “veja bem”, o “podemos fazer diferente”, o “e se não for sempre assim?”. Por isso ele é tão perigoso! Mas perigoso para quem?

Já o filme “Sexo, Pregações e Política”, dos diretores franceses Aude Chevalier-Beaumel e Michael Gimenez, tem como tema que “o Brasil cria e vende uma imagem de sociedade onde a sexualidade é liberada e a diversidade respeitada. No entanto, este mesmo Brasil se revela um país conservador onde mulheres morrem em decorrência da proibição do aborto e onde há mais assassinatos de homossexuais e transexuais no mundo. Das vítimas até a esfera política, o filme propõe um olhar afiado sobre o paradoxo da liberdade sexual”.

Nele, Jean também se faz presente, mas não é mais o fio que conduz a narrativa. Sem dúvidas, um filme que deve ser visto por todos, pois o olhar estrangeiro sobre nós pode nos dar pontos a serem pensados que a gente não viu antes.

O cinema já foi um dos principais vetores de discussão sobre política e o Festival de Cinema de Brasília está dentre os mais importantes do país. Neste momento em que as palavras são poucas para explicar a situação política, talvez traduzi-la em imagem nos traga a iluminação necessária para que que evitemos a barbárie que nos bate à porta.

Serviço:

  • SEXO, PREGAÇÕES E POLÍTICA: 21/9, quarta-feira, 15h, Cine Brasília, entrada franca. Debate após exibição do filme, no foyer do Cine Brasília.
    Reprise: 23/9. sexta-feira, 21h, Cine Cultura Liberty Mall, entrada franca.
  • ENTRE OS HOMENS DE BEM: 23/9. sexta-feira 16h30, Cine Brasília, entrada franca. Debate após exibição do filme, no foyer do Cine Brasília.
    Reprise: 25/9, domingo, 21h, Cine Cultura Liberty Mall, entrada franca.

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