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Homossexualidade debatida sob a ótica de um gay católico

Murilo Araújo, do canal Muro Pequeno, que trata sobre gênero e racismo com a presença da crença católica

atualizado

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1 de 1 gay lgbt religião - Foto: iStock

Com a onda de youtubers, dei uma olhada na galera que faz vídeos da temática LGBT. Tem um pessoal que, por mais que seja engraçado, fala sério sobre o assunto oferecendo conteúdo de qualidade e fomentando o debate. Dentre esses, um garoto se destacou por todos os seus predicados: Murilo Araújo, do canal Muro Pequeno, que trata sobre gênero e racismo com a presença da crença católica. É isso mesmo, sexualidade e etnia debatidos sob a ótica de um homem de fé.

Este baiano de 25 anos é formado em jornalismo e hoje vive no Rio de Janeiro fazendo doutorado. Antes de criar seu canal, teve uma coluna LGBT em uma revista virtual de cultura pop até seu fechamento, quando ficou sem ter onde publicar seus textos, ou melhor dizendo, onde jogar suas ideias a respeito de vários debates que rolavam na academia e movimentos sociais, mas que ele percebia uma dificuldade em serem democratizados.

Ao mesmo tempo, já cansado da comunicação através da escrita, achou interessante se aventurar no formato do vídeo, aproveitando sua desinibição inata. Foi assim que surgiu o Muro Pequeno – talvez uma tradução literal do seu próprio nome -, canal que traz temas tão interessantes e, para alguns desinformados, aparentemente contraditórios.

Material intenso
Em novembro de 2015, Murilo lançou o vídeo “Não é questão de gosto”, onde ele questiona o fato das pessoas dizerem preferir pessoas com um ideal estético X e todo mundo tem a mesma predileção. Ele nos pergunta por que os caras gays adoram menininhos branquinhos, de cabelo liso, magros, de roupinhas estilosas e que não parecem gays. Só aí ele está tratando de questões sexuais, raciais, gordofobia e, como não já fosse o suficiente, uma pitada de social.

É muito legal também a parte em que seu raciocínio crítico faz um giro de 180 graus, até encarar a si próprio, percebendo que ele também usa estes critérios nos aplicativos de paquera. Este vídeo catapultou seu canal, atraindo em um dia mil assinaturas, além de curtidas e compartilhamentos. Inclusive chegou até o cantor Liniker, um dos expoentes do movimento empoderador das minorias e dono de uma voz e talento incríveis, que o levou a enviar uma mensagem ao youtuber e possibilitou um encontro em um show no Circo Voador.

Mas quando me apresentaram o Muro Pequeno, o fizeram porque ele debatia a causa LGBT, porém se apresentando como alguém de dentro da igreja, contrariando todas as expectativas.

No vídeo “De um filho gay cristão, para pais cristãos de filhos gays”, Murilo não só apresenta sua visão a respeito da relação de um encontro normalmente doloroso, entre homossexualidade e fé católica, como ainda se reporta mais aos pais portadores da fé do que aos filhos que poderiam sentir culpa. Isso é extremamente corajoso por tocar num ponto esquecido das histórias de intolerância doméstica, pois geralmente se imagina que os filhos são jovens e, bem ou mal, têm bastante tempo para refazer a vida e seguirem adiante. Já os pais, mais velhos e com menos expectativas, nem sempre são vistos como focos da mudança da situação.

O Gay e a religião
Murilo integra o grupo Diversidade Católica do Rio de Janeiro que articula com entidades de várias partes do mundo para mudar o posicionamento da igreja quanto à questão LGBT.

“Quando eu criei o canal, um dos meus maiores interesses foi exatamente visibilizar essa minha existência enquanto uma pessoa gay e católica (…) porque é muito difícil na cabeça das pessoas encaixar a possibilidade de que uma pessoa seja gay, seja militante, tenha todos os pensamentos que eu tenho lá no canal, e ainda assim, seja religiosa”. (…) “Tem um problema muito grande aí nesse debate, que as pessoas sempre associam religiosidade com obediência cega, e por isso não concebem como é que uma pessoa gay empoderada pode permanecer dentro de uma religião que indiscutivelmente condena a homossexualidade. E eu quero me colocar na contramão desse debate: eu sou católico, eu gosto de ser católico, e a minha experiência religiosa é uma dimensão da minha vida tão importante quanto a minha sexualidade. Eu me entendo por cristão antes de me entender por gay – e é assim na vida de muita gente. Daí que você pedir pra eu deixar de ser cristão é quase como você pedir pra eu deixar de ser gay. Não vai rolar.”

O youtuber oferece uma outra explicação para o nome do seu canal. “É que um muro pequeno é um muro fácil de pular, que não cria barreiras. Ele está lá, a gente sabe que existe um limite, mas não é um impedimento de que as pessoas me vejam, de que eu as veja, e de que elas entrem na minha casa, no meu coração mesmo”. Com esse conteúdo maravilhoso, como não achar esse canal incrível?

P.S: recentemente, a câmera que era usada para gravar os vídeos quebrou e Murilo vai abrir um financiamento coletivo para ajudar a comprar uma nova. Não vamos deixar esse canal morrer! Mais informações vão aparecer no canal dele.

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