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O que eu aprendi com os gatos

Os animais ensinam a importância de conviver sem escamotear os conflitos. Enfrentam-se quando necessário. Lambem-se quando necessário

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Eu crio animais que foram abandonados. Tenho cinco gatos em casa. Zumbi, Orestes, Paçoca, Michelle Obama e Hillary Clinton. Divido o meu cotidiano com essas vidas. Zumbi espera que eu acorde, para tomar água da torneira. Também não gosta que eu viaje. Sempre que eu pego a mala, ele senta-se em cima e não sai por nada.

Paçoca fica no parapeito da janela, à espera de um carinho das minhas mãos. Orestes levanta o rabo em posição de anzol para me avisar que a ração não está mais crocante. Michele dorme e acorda aos meus pés. Hillary me observa quase a todo instante. Essa é a nossa rotina.

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Posso dizer que as nossas vidas (minha e dos gatos) se transformaram quando nos encontramos. Às vezes, quando o dia vira tempestade, eles estão por ali para mostrar que há sempre um abrigo para se proteger. Às vezes, quando tudo parece uma festa, eles se recolhem alheios. Precisam dos seus cantos e dos silêncios.

Talvez, convivendo tão perto com os gatos, tenho entendido melhor a natureza do convívio humano em tempos de verdades bélicas. A estratégia de se defender de um ataque. Observar, mirar, calcular e entender o contra-ataque. Nem sempre os gatos se enfrentam quando desafiados. Parecem me dizer:

Caro humano, é preciso escolher as guerras

Quando se enfrentam para marcar território, trazem em si a certeza dos justos. Os rabos inflam, o corpo fica em prontidão. O fazem com dignidade ao outro. Parecem iguais na luta. Não há a visível necessidade de humilhar o aparente inimigo. E se os humanos percebessem essa qualidade?

Os gatos ensinam o quão é divino discordar sem desqualificar o outro. Eles sabem recuar numa briga. E recuar é estratégico. Como é “suicida” observar uma pessoa sem argumento tentar humilhar o adversário com aspectos mesquinhos e preconceituosos! Não consegue disfarçar que, por detrás de suas “verdades”, escondem tristes preconceitos.

Aprendi com os gatos a entender o ataque, rever os motivos do ataque, seguir transformado depois do ataque. Sem o raciocínio humano, os gatos nos mostram o sentido genuíno da convivência e do respeito. Se não querem carinho, recolhem-se em suas tocas. Se querem, esfregam-se em suas pernas. Não há desfaçatez.

Melhoro ao conviver com esses animais. Eles se entendem entre si com maestria. Arrancam os pelos uns dos outros quando precisam marcar territórios. Lambem-se de afagos quando necessitam se amar

Os gatos ensinam-me que é possível continuar junto, depois de um confronto. Eles têm essa capacidade de convivência. Olham-se profundamente, como se estabelecessem diálogos de almas.

Entendo com os gatos a importância de não escamotear os conflitos. É preciso deixá-los às claras. É muito difícil seguir ao lado de alguém depois de um desentendimento, sem esse olho no olho. Os místicos dizem que os gatos filtram os sentimentos negativos. Acredito nesse mito porque os gatos não carregam mágoas. Eles seguem a vida com a leveza do dia seguinte.

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