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“Silêncio”: Scorsese e o cinema como ato religioso

Um dos mais celebrados diretores americanos, Scorsese flertou com a carreira de padre na juventude. “Silêncio” é o seu mais recente filme

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martin scorsese
1 de 1 martin scorsese - Foto: Divulgação/Montagem

A cena mais recorrente em “Silêncio”, novo filme de Martin Scorsese, envolve o padre Rodrigues (Andrew Garfield) atormentado por conflitos internos. “Deus ouve as preces, mas não responde”. Ou “Deus ouve os gritos de dor?”.

Ele viajou ao Japão com Garupe (Adam Driver) em busca de seu mentor (Liam Neeson), suspeito de ter cometido apostasia. Lá, vê dezenas de fiéis dispostos a morrer nas mãos de intolerantes. Deus vê tudo isso em silêncio? Ele está mesmo lá em cima?

A tribulação de Rodrigues, um jesuíta do século 17, é a mesma de tantos outros personagens de Scorsese, um cineasta capaz de combinar, às vezes no mesmo sujeito, criminosos e religiosos, assassinos e pregadores.

Scorsese: um cinema de devotos e apóstatas (parte 1)

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Por ser o popular diretor de “Os Bons Companheiros” (1990), “Cassino” (1995) e “Os Infiltrados” (2006), ele costuma receber a grife de “autor de filmes de máfia”. Mas a carreira de Scorsese mostra que ele é muito mais um camaleônico andarilho transitando entre gêneros diversos do que um artista de uma nota só.

Se existe uma constante nos filmes de Scorsese, é a inclinação para personagens intensos, algo decadentes, em geral perturbados por dilemas que envolvem alienação, solidão, violência. Em “Taxi Driver” (1976), Travis Bickle, a mais famosa dessas personas, viveu a Guerra do Vietnã e vaga por Nova York tentando consertar um mundo que ele considera podre, sujo.

Scorsese: um cinema de devotos e apóstatas (parte 2)

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Esses universos particulares de Scorsese são habitados por vários outros “anjos caídos”. Figuras que se julgam deslocadas, mas soam tão falhas quanto o mundo que as rodeia. O detetive de “Ilha do Medo” (2010) tateia ilusões, dois melhores amigos ambicionam a vida do outro em “Cassino” (1995), o paramédico de “Vivendo no Limite” (1999) parece incapaz de salvar a própria vida da insanidade.

“Silêncio” filia-se diretamente a um certo tipo de produção que Scorsese realiza de tempos em tempos: dramas históricos de fundo religioso, mas tão atordoantes quanto seus filmes de máfia.

Se “Kundun” (1997) lida com opressão e “A Última Tentação de Cristo” (1988) ousa reimaginar a paixão do Messias, “Silêncio” é a peça meditativa que faltava em uma obra marcada por personagens tão devotos quanto apóstatas.

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