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Tentar imitar a felicidade do outro é o que nos faz infelizes

O caminho de realização da alma decorre não da saciedade de todos os nossos desejos, mas de perceber quais deles traduzem o que somos

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Theatre and opera concept with theatrical masks on red velvet
1 de 1 Theatre and opera concept with theatrical masks on red velvet - Foto: Istock

Não ser feliz é diferente de ser infeliz.

Uma frase tão banal ganha relevância quando vemos movimentos tão heroicos em nome de um ideal desconhecido, uma espécie de caça ao tesouro que talvez ninguém nunca tenha testemunhado. Não da forma como concebemos.

A priori, não há nada de errado. O rio da vida percorre o leito, sem grandes atropelos ou surpresas. Há problemas, mas eles não parecem maiores que a capacidade de enfrentamento.

Mas, quando comparado com as possibilidades, isso tudo parece insuficiente. Falta algo. Os acontecimentos deveriam ter mais graça. As emoções deveriam ser mais intensas. A recompensa não é proporcional ao esforço. Diante disso, irresponsavelmente, proclamamo-nos infelizes.

Muito dessa fala corresponde a expectativas inalcançáveis: a felicidade derivada dos ideais dos outros. São tantos os outros… e são tantas as possibilidades de ser feliz que até nos perdemos no que realmente nos contempla. Eles aparentam mais felicidades – e esse conceito, provavelmente, deve atender apenas esse mundo de aparências.

O que é difundido como felicidade, em grande parte dos casos, corresponde a um estado de torpor diante das angústias. Estas, por sua vez, derivam da nossa consciência sobre as limitações. Seria então o autoconhecimento a fonte da infelicidade? Para os partidários da felicidade irrestrita, sim.

A questão é que, para eles, a infelicidade será a companheira fiel até a morte. A falta é o nosso pressuposto. Conhecer-se é, antes de tudo, conhecer a natureza dessa falta. É perguntar ao abismo e esperar por uma resposta. No silêncio, ela virá.

Não precisamos ser felizes, e sim satisfeitos. O caminho de realização da alma decorre não da saciedade de todos os nossos desejos, mas principalmente de perceber quais deles traduzem de fato o que somos, na nossa dimensão mais íntima.

Se o gênio da lâmpada aqui aparecesse, é bem provável que desperdiçássemos as três supostas chances de sermos felizes com propósitos pouco sustentáveis. Grande parte da nossa infelicidade vem justamente disso: das apostas precipitadas, copiadas do outro por parecerem melhores.

Seria muito mais seguro se simplesmente vivêssemos a nossa própria vida, seguros de estarmos diante da melhor opção. Como fazê-lo? Diz-se que, enquanto esculpia Davi, Michelangelo foi questionado sobre como atingir tamanha perfeição. Respondeu: é fácil, retiro do mármore tudo aquilo que não é Davi.

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