Seguimos em busca de respostas, mas nem sempre estamos prontos
Somos obcecados por interrogações e não resistimos a elas, mas nem sempre queremos enfrentar os desígnios das soluções apresentadas
atualizado
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“A mente é a fonte de toda experiência e, ao mudar a direção, podemos alterar a qualidade de todas as nossas experiências”.
Aprendi a simpatizar com esta frase, do monge tibetano Yongey Mingyur Rinpoche. A cada dia, ela me ensina como a interpretação que damos aos fatos é responsável pela forma como absorvemos o mundo.
A questão é que essa compreensão não é necessariamente uma escolha, como muitas vezes nos forçamos a entender.
Quando se trata da psique, mais somos escolhidos do que escolhemos – este é o motivo que orienta nosso sofrimento. Em seu ofício de monge budista, ele nos alerta aos riscos da ilusão.
A fragilidade despertada pelos problemas se relaciona sempre à falta de respostas. Queremos encontrar motivos, buscamos justificativas para aquilo que não conseguimos enfrentar.
Somos obcecados por interrogações, não resistimos a elas. Obviamente, questionar é o caminho para a solução, na medida em que se amplia a consciência do que somos, fazemos e desejamos. Mas nem sempre queremos enfrentar os desígnios das respostas. Estaríamos realmente prontos para o que se busca?
Quase sempre, o mundo torna-se um instrumento, um meio pelo qual a resposta se manifesta. E quando estamos prontos para entender, ela se apresenta pelos mais diferentes métodos: da instrução com um sábio a um comercial de televisão.
Ver isso acontecer é, para mim, uma evidência da sabedoria intrínseca que nos guia, em nome da realização da alma. É ela que nos ensina a entender a finalidade de cada movimento, a ler as intenções de cada acontecimento.
Compreendemos que o “por que” é dispensável quando estamos atentos ao “para que”.
A consciência só se ilumina quando estamos atentos e, principalmente, dispostos a mudar. É entender que a resposta pode não ser exatamente a que buscamos – mas a que precisamos receber. Talvez por isso os monges budistas sejam tão associados à sabedoria: eles são treinados a contemplar a transitoriedade das coisas, em si e fora de si.
Com humildade e coragem, afastamos a cegueira diante da fantasia e alcançamos o entendimento da realidade. Assim dizem os evangelhos de Lucas e Mateus: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á”.
Não existe um método mais eficiente, nem a melhor hora para esse despertar. Os únicos pressupostos são a vontade e o desprendimento em aprender.
A resposta sempre está pronta para nós. Nós, porém, nem sempre estamos prontos para ela.