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O deus Tempo: ele sempre sabe o que e como fazer, na hora certa

É assim comigo, com você, com todos. Ninguém escapa, até mesmo quem se julga mais esperto que os demais

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close up of calendar and clock on the table, planning for business meeting or travel planning concept
1 de 1 close up of calendar and clock on the table, planning for business meeting or travel planning concept - Foto: iStock

Ao tempo sempre foi atribuída uma grande missão: revelar a verdade. Ele a desempenha com total destreza. Mostra com fatos as verdadeiras intenções por trás de cada ação. Concilia nos casos de mal-entendidos. Desmascara farsas e depõe contra os mitos.

Por isso, ele é um deus confiável, a quem devemos todas as homenagens e plena confiança. Podemos até achar que ele demora em certas circunstâncias. Mas isso acontece porque não conseguimos enxergar todas as linhas que interligam tudo, aquilo que sustenta a realidade.

É justamente por isso que o tempo se faz como um ente relativo. Dura muito para quem não sabe compreendê-lo. Passa rápido demais para quem tenta dominá-lo. E, assim, criamos nossas grandes prisões: o passado e o futuro.

Se com ele estivéssemos integralmente conciliados, dele não precisaríamos nos ocupar. Bastaria ser coerente com cada atitude, viver o que cada situação pede diante daquilo que somos.

Mas não: invejamos o deus e cobiçamos seus atributos, como foi com o anjo caído, resta-nos apenas o inferno. E lá encontramos nada mais que o resultado dos erros que cometemos e dos acertos que nos esquivamos de cumprir. Cavamos nossa masmorra com os próprios pés.

E o tempo testemunha tudo isso. Cada gesto, cada pensamento e tudo que se passa em nosso coração: nada lhe passa despercebido, ele nunca dorme. Aos poucos, ergue o dedo e aponta o peso de cada um de nós.

É assim comigo, com você, com todos. Ninguém escapa, até mesmo quem se julga mais esperto que os demais. Desses, inclusive, o tempo debocha.

Não romanceio aqui a ideia do bem: achar que se formos exclusiva e irrestritamente bons, viveremos num mundo de algodão-doce. Mesmo porque esse universo, caso exista, não nos compete. Somos mais falhos do que gostaríamos. Felizes dos que admitem suas vicissitudes e carregam-nas numa coleira rente ao corpo.

Aos vis, o tempo reserva seu maior castigo: a eternidade, ser lembrado para sempre por sua vida suja. Serão para sempre lembrados por cada lágrima amarga, cada gota de sangue que fizeram derramar. Seus sorrisos sagazes serão retratados com um quê de podre. Crianças, deles, terão medo. Execráveis. Assim serão definidos pela história.

Podemos até acreditar que mereceriam punições imediatas, pois também carregamos algo de vileza e gostamos da desforra. Não cremos no tempo, nem na justiça que ele carrega nas mãos. Mas um deus existe para fazer o que é certo, e não atender nossos desejos pueris.

Tempo saberá o que e como fazer, na hora certa. Nem um minuto mais, nem um minuto a menos.

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