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E quando eu sou o problema?

Tendemos a apoiar a nossa versão dos fatos, mas é injusto não se fazer disponível para compreender como o outro interpreta as circunstâncias

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Na semana passada, usei a metáfora da ingestão para discutir a necessidade de filtrarmos os alimentos de nossa alma. E, inclusive, expor a necessidade do expurgo daquilo que pode nos intoxicar. Mas não podemos ser hipócritas: às vezes, nós somos o descarte.

E é difícil lidar com isso. A rejeição é um dos temas mais amedrontadores para o ser humano: ela fala diretamente do valor atribuído pelo outro a nós. Obviamente, fala mais dele do que de nós (“o seu problema, comigo, é problema seu”). Entretanto, ficar com essa interpretação pode ser um escape imaturo, pueril.

Especialmente quando entendemos que, por mais comprometida a visão do outro, ela se baseará em algum indício ou sinal. A interpretação do outro poderá ser exacerbada, mas ela pode ser derivada de algo servido por nós em seu prato.

Nisso, todo banimento deverá ser tomado como um chamado à revisão. Das nossas crenças, das nossas posturas, das nossas ausências e presenças. Tendemos, obviamente, a apoiar a nossa versão dos fatos. Mas é injusto não se fazer disponível para compreender como o outro interpreta as circunstâncias.

Descarte o exagero provocado pela afetação. E, então, lá estará algum motivo – e, por menor que pareça, deverá ser observado, com cuidado, para evitar situações semelhantes no futuro. Revise, compare. E, assim, verá a sua participação no contexto.

Nem sempre a dificuldade para percebermos nossa parcela de erro é falta de humildade. Muitas vezes, estamos tão tomados por questões emocionais, que simplesmente não enxergamos o óbvio – o causador do descarte, do isolamento.

Ouvir o outro lado é a solução simples, imediata. Mas não tão óbvia. A oportunidade não é suficiente, pois é necessário ter disponibilidade real para escutar, antes de querer fazer-se ser escutado.

Em muitos embates, não há um lado certo e outro errado. Há interpretações divergentes da mesma situação. Incompatíveis, em alguns casos. E daí, o melhor é a separação, para evitar feridas maiores, derivadas, principalmente, da falta de respeito.

Nossas escolhas acabam por traduzir quem somos, num determinado momento. A capacidade de transformação é uma dádiva que, quando bem administrada, promove crescimento real. Assim, o pertinente, hoje, pode não sê-lo amanhã. E não há problema nisso.

O problema está nos caminhos que encontramos para descobrir e validar as mudanças que se imprimem dentro de nós. O cuidado com o outro nem sempre é observado da melhor maneira. Toda verdade pode ser bem suportada, a depender da forma como é dita.

Não há relação que se encerre bem quando os artifícios para validar o término são a ocultação, a dissimulação ou a mentira. Ter a justeza nos argumentos, e não escapar de expor, é a forma mais honrosa de sinalizar quando algo não faz mais sentido. Mas, para isso, é preciso ter maturidade.

Nada fará com que o desconforto do sentimento de rejeição toque em quem é desprezado. Isso passa. Especialmente quando compreendemos o expurgo como o desfecho de um processo bem maior – no qual, o mais válido é a nutrição proporcionada, em algum momento.

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