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Ano novo? A vida continua exatamente a mesma e você sempre soube disso

Porém, não podemos desmerecer a força dos ritos. Precisamos que o ano acabe para que a expectativa de renovação nos impulsione mudanças

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Nada mudou. Não bastaram os fogos, os votos, as simpatias. A vida continua exatamente a mesma, e você sempre soube disso. Ela não atende esses ciclos que estabelecemos, não contempla calendários. Continuamos hoje aquilo que fomos ontem.

Porém, não podemos desmerecer a força dos ritos. Precisamos que o ano acabe para que a expectativa de renovação nos impulsione mudanças. A faxina nos armários, o novo corte de cabelo, o som da rolha disparado das garrafas. Tudo ascende o otimismo: dias melhores virão.

Nisso eu acredito. No empenho em perceber oportunidades desperdiçadas, em sermos gratos pelos livramentos que a vida trouxe. A angustiante listinha de propósitos pode dar lugar a uma revisão íntima de quem somos, daquilo que nos tornamos.

Esta semana, comemoro uma espécie de re-aniversário. Há quatro anos, tive uma complicação cardíaca inesperada, repentina, séria, com risco real de morte. Logo após ter pedido às águas que me lavasse algumas mágoas que atrapalhavam meu caminho.

Meu pedido tinha se realizado, mesmo que, naquele momento, eu não visse dessa forma. Não vi túnel, nem uma luz celestial. Apenas me revi. Pude, assim, entender as coisas que realmente têm valor nesta vida. E escolhi viver melhor. Tem dado certo, ao que parece.

Nem sempre precisamos de algo fatal para que revisemos nosso repertório, nossas prioridades. Acreditem: não é a melhor saída — mas, se for necessário, a vida usa de tais recursos.

A concretude dos fatos é sempre mais dolorosa (às vezes, literalmente), e muitas vezes pode ser substituída pelo simbólico, sem prejuízo. Dependerá apenas na nossa capacidade de aceitar o que nos está sendo mostrado. A natureza (biológica ou psíquica, tanto faz) é a grande amostra da sabedoria.

Nossa inconsciência faz com que resistamos a processos que, muitas vezes, trazem consigo a remissão dos males que adquirimos ao longo do caminho. Tentamos extirpar aquilo que nos sustenta, sem sabermos o grande risco que corremos.

A aceitação da vida consiste em um exercício de escuta. Saber, por exemplo, o que o novo ciclo pede, e não aquilo que eu projeto nele. Saber a hora das coisas, compreender que a alma precisa de tempo – e só nele irá se realizar.

Escapamos, assim, das armadilhas plantadas pelo medo e pela vaidade. Muito dos nossos anseios são, de fato, facilmente esquecidos nos quartinhos de entulhos, nas conquistas inúteis que acumulamos. Exigem muito para restituir quase nada. Não merecem tanto de nós.

Essa inquietude nos leva à precipitação. Precisamos querer algo, seja lá o que for, para que nos sintamos vivos, dinâmicos, produtivos. Na passagem do ano, isso se inflama ainda mais.

Quando estivermos diante do novo, saibamos aquietar de forma respeitosa ao mistério. Olhar para a agenda em branco e, nos espaços limpos, enxergar diversas possibilidades de desenvolvimento. Não somente algo a ser preenchido.

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