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Comer e beber em Brasília: o que 2019 reserva em nossa gastronomia

Tendências internacionais e nacionais devem aportar na cidade no próximo ano

atualizado

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drinque
1 de 1 drinque - Foto: JPRodrigues/MEtrópoles

Brasília, e o Distrito Federal como um todo, tem corrido às margens das chamadas tendências gastronômicas. Em tempos de comunicação globalizada e conexão imediatista, não é muito difícil mais saber o que causa burburinho fora do nosso quadrado: seja o que vem do eixo Rio-São Paulo, dos festivais e premiações e dos mercados cosmopolitas (Nova York, Los Angeles, Singapura, Londres, Melbourne etc.).

Como fora 2018?

 

Na projeção da Coluna Prato Feito para 2018, há um ano, por exemplo, falávamos sobre a moda do lámen, consolidada na capital paulista por ser grande abrigo da comunidade japonesa. Por aqui, não “pegou” como em São Paulo. Mas, certamente, vimos crescer a oferta e a demanda, o que resultou numa meticulosa avaliação de cada restaurante que serve a tradicional e popular sopa de macarrão.

Também vimos a moda das cumbucas de poke, o prato havaiano que virou tendência, mas cujo futuro é tão volátil como foram os das paleterias, das temakerias e das loja de frozen yogurt.

Em 2018, fizemos vários outros giros com finalidade de observar nosso mercado gastronômico de forma panorâmica. Chegamos ao ranking das melhores pizzarias, fizemos um mapeamento das galeterias e detalhamos a oferta do polo gastronômico do Pontão do Lago Sul, além de apresentar um tutorial sobre como comer em self-service, sem nunca abrir mão das observações críticas.

De um lado, exploramos restaurantes novíssimos, caso do que funciona no térreo do B Hotel, uma das cozinhas mais tecnicamente competentes que temos em Brasília hoje e algo muito raro de se encontrar na hotelaria local. Não poupamos do escrutínio crítico restaurantes ambiciosos de tíquete-médio elevado, como Authoral, Gero, Sallva, Kawa, Ouriço e Taypá, alguns muito bons outros nem tantos.

Reconhecemos nossa identidade brasileira, brasiliense e cerratense avaliando clássicos, como o Dom Francisco, Fred e Roma. E ainda conseguimos testemunhar pontualmente o Aquavit, do chef Simon Lau, se abrindo para uma celebração do Cerrado no prato.

Mas também procuramos revelar esconderijos e preciosidades da nossa cidade: a barraquinha do Leo Hamu, na Feira da Ceasa; a Casa de Mainha (agora em novo endereço também no Cruzeiro Novo); os novos endereços da Bodega de La Habana e do Piauíndia na Vila Planalto; a Umami Deli, um PF japonês bem honesto; o superaconchegante Acervo Café, no Guará; e a Villa Vegana, no Setor de Clubes Sul.

O que 2019 nos reserva?

Bruno Pimentel/Metrópoles

 

Para além das tendências gastronômicas, veremos um cenário ainda mais politizado nos bares e restaurantes de Brasília. O debate e o embate ideológico sempre encontraram guarida diante de pratos de comida e canecas de chope e, neste ano, a promessa é de esquentar a temperatura. Isso não é de hoje. Guerras foram declaradas à mesa, afinal. Embora sejam negócios privados,  restaurantes observam uma vocação inerente à coisa pública, ao espaço democrático.

Esta é uma previsão calcada no resultado de 2018, quando restaurantes se posicionaram politicamente de maneira frontal. Alguns reverberavam abertamente o refrão petista “Lula livre” e outros financiavam a campanha, ao fim vitoriosa, de Jair Bolsonaro (PSL). Situação e oposição sentarão à mesa, como sempre, para o bem ou para o mal.

No forno, o que nos reserva 2019 são ainda mais hamburguerias – provavelmente atingindo seu ápice e, por consequência, sua ressaca. Ainda em janeiro teremos um panorama da Coluna Prato Feito sobre as melhores mordidas do DF, dos bombas e x-tudões aos brioches com blend angus.

Provavelmente, veremos o ultimato do forçoso modismo dos “sorvetes” tailandeses, aquelas misturas lácteas raspadas de uma chapa congelante. Imagino que pode continuar na sobrevida mas não haverá de lançar voos altos. Parece, contudo, que as gelaterias brasilienses estão se profissionalizando em técnica e buscando melhores ingredientes. Já surgiram novas, como a Il Giorno, a Matteo Gelato Criativo e a Cremeria Italiana. Que venham mais e melhores.

Se nosso espelho de São Paulo estiver bem ajustado, veremos um ano muito propício para a coquetelaria também. A coisa começou a funcionar bem em restaurantes mais descolados, como Lago, Noah, Contê e The Room. Mas precisa superar a estética baladinha-high-society. É um misto de tendência com torcida, pois como decaíram as opções de drinques na cidade! Uma das mais promissoras novidades será o bar que está se erguendo no lugar do finado Paradiso Cine Bar, ainda sem nome confirmado.

Ao final, é certo que entre hambúrgueres e drinques, garfadas e petiscadas, os ávidos gourmads de Brasília não pouparão os ouvidos das paredes dos restaurantes com tantas opiniões, discussões, dores de cotovelo e risadas. A não ser quando a comida estiver muito boa. Daí, há de irromper aquele silêncio da fruição hedônica do prazer gustativo.

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