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Amigão Bar: a melhor definição do PF brasiliense

O boteco tem comida boa e cerveja gelada: vale a visita!

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JP Rodrigues/Metrópoles
Amigão Bar
1 de 1 Amigão Bar - Foto: JP Rodrigues/Metrópoles

Brasília não tem becos, ou esquinas. Não possui ruelas de paralelepípedo ou ladeiras a ameaçar o equilíbrio dos boêmios cambaleantes após o último caneco. Ora, nem madrugada Brasília lá tem! Beberrões e notívagos devem encerrar a conta antes de 1h. E em silêncio. Mas a capital do país, por vezes carregando este rótulo da caretice, também fomenta uma enorme vida boêmia a seu modo.

Os botequins não foram alijados dos traços do arquiteto. Pelo contrário. A comida de boteco, o prato feito, ou o bom e velho PF, foi a primeira gastronomia da inóspita aldeia de terra vermelha que há menos de 60 anos ainda era um grande canteiro de obras. Quais foram os primeiros restaurantes ou botequins de Brasília senão aquelas casinhas de madeira improvisadas pela Vila Planalto e pela Cidade Livre a servir uma bóia e uma branquinha?

JP Rodrigues/Metrópoles
PF do Amigão Bar: comida farta e muito bem temperada

 

Depois vieram a Churrascaria Paranoá, o Roma e toda a influência do serviço de salão. Essa elitização do comércio formal de alimentação não substituiu o velho hábito de comer sob um puxadinho, invadindo a calçada, a rua, em cadeiras e mesas de plástico com merchan das marcas mais populares de cerveja no momento.

Pelo contrário, esse modelo de boteco (pé-sujo, copo-sujo, o que preferir) se profissionalizou. Muitos conseguiram alcançar uma consistência de serviço e padrão de qualidade de comida dignos de restaurante. É o caso do Amigão Bar. Passado de mão a mão até chegar ao sensei Rubens Arake, nos anos 1990 – agora também mimetizado em uma galeria comercial de Águas Claras, seguindo o caminho do Libanus e do Machado’s.

Com Arake, o Amigão deixou de ser apenas popular entre os boêmios e levantadores de copo do meio-dia. Tornou-se um fenômeno do modelo prato feito. Antes da última reforma (que dobrou o tamanho da loja no ano passado), conseguir uma mesa para o almoço era façanha de iniciados. Cada habitué tem um garçom para chamar de seu e com quem podia combinar o jogo para garantir uma mesa, nem que fosse sobre o asfalto quente. O meu é o Fernando, um dos patrimônios da gastronomia candanga, diga-se.

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Fernando: o “meu” garçom há umas duas décadas já

 

Amigão tem tudo que se espera de um botequim: cervejas geladas, boa oferta de cachaças e um marmitex a preço razoável. Mas ele vai além. Comer no Amigão é saborear o tempero quintessencial do imaginário do PF: aquela comida quente, fresquinha, parruda e fartamente posta à mesa, da qual é impossível satisfazer-se com pouco.

Frequentadores assíduos não dispensam a oferta da salada da casa ao puxarem uma cadeira e um copo de vidro ao se acomodarem. Alface e tomate com cebola e rabanete fatiados finamente ao ponto de transparência se misturam a um tempero puxado no vinagre, sal e um azeite não da melhor qualidade, mas que possuem tamanho equilíbrio de sabor que merecem boas garfadas.

Do rol de petiscos, o Amigão apresenta um pastel impecável de queijo e de carne moída com azeitona. Uma moela muito tenra e bem temperada. Não gosto do torresmo da casa, normalmente servido de forma irregular com pedaços intragáveis que expõem problemas de corte e de cozimento.

O PF mesmo, individual, muda diariamente e é sempre uma boa pedida para quem quer gastar pouco e comer bem. Pense numa dobradinha saborosa, um bucho bem cozido e quase amanteigado! É aqui que você os encontra. Até o bom e velho macarrão de marmita vem bem temperadinho. A farofa não é das melhores.

Mas o Amigão faz mais sucesso pelos “pratarraus” de comida para compartilhar. A conta sai bem mais cara (preço de restaurante mesmo). Mas, como vale! O filé-mignon à parmegiana é o clássico imbatível. Não é em todo lugar que se encontra um bife frito assim no ponto correto. Bom queijo mussarela e um molho de tomate que, ainda levando base de extrato, carrega pouca acidez e preserva o dulçor natural de tomate fresco (também na composição).

Acompanha, curiosamente, apenas arroz e feijão. Se quiser fritas, peça à parte. Recentemente, aliás, o Amigão mudou a batata. Não são mais aqueles palitos excessivamente oleosos (e que têm seu lugar num ambiente de botequim). Elevou o nível.

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Outros grandes feitos do Amigão se encontram no famoso joelho de porco defumado com batatas cozidas e na feijoada das sextas e sábados. Refeições enormes, para dois, e tecnicamente bem feitas (na maioria das vezes). A feijoada nem sempre apresenta todos os pertences que deveria. Exagera-se no lombo e economiza-se no paio, por exemplo. Por ser bem servida, a porção acaba por compensar as falhas de porcionamento.

Amigão, enfim, é daqueles redutos com a pecha do se melhorar estraga. Veja a loja de Águas Claras, por exemplo: situada numa galeria comercial, com ambiente interno e uma calçada em frente. Ora, o Amigão deve ser vivido na W2 Sul. Apenas. É no mafuá dos carburadores de carros, no tráfego de gente, em meio ao som das cigarras e ao eco urbano retinido lá da W3 que o Amigão preenche as faculdades da essência imaginária do PF de botequim tipicamente brasiliense.

Amigão Bar
Na 506 Sul, Bloco B, Loja 46. Tel: (61) 3244-1109. De segunda a sexta, das 11h às 22h15. Sábado até as 17h. Ambiente interno e externo. Desde 1982

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