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Nem todos os dias são de céu azul em Portugal

Os projetos que não dão certo, as desilusões pessoais, as frustrações e as incertezas fazem-nos olhar para o outro lado do Atlântico

atualizado

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Aqueduto de Lisboa, tempo chuvoso
1 de 1 Aqueduto de Lisboa, tempo chuvoso - Foto: iStock

“Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre”

Maria, Maria (Fernando Brant/Milton Nascimento)

Confesso que às vezes tenho vontade de desistir. O país é incrível, vive um momento excepcional, os portugueses são acolhedores, tudo funciona às mil maravilhas. Mas, mesmo assim, os projetos que não dão certo, as desilusões pessoais, as frustrações e as incertezas fazem-nos olhar para o outro lado do Atlântico.

Mesmo sabendo da violência, da crise moral, ética e política que se abateu sobre o Brasil, o que enxergamos do outro lado, assim como Cabral há mais de 500 anos, é ainda o porto seguro. O Brasil é o colo de minha mãe. É a memória de meu pai, são meus irmãos. São meus poucos e bons amigos. É o churrasco de domingo com cerveja seguido do futebol das 5 da tarde. É o ambiente feliz das agências de propaganda onde trabalhei e o carinho das equipes que dirigi.

Não sei se é o frio e as noites mais longas se aproximando que nos deixam tão melancólicos, mas o fato é que um sentimento de dúvida bate no peito. Será que foi o caminho correto? Será que foi a decisão mais acertada?

Mudei com a convicção de que não voltaria. Não era um estágio, não era uma temporada, não era um período sabático. Fechei a porta e joguei a chave fora. Aos amigos que me perguntavam quando eu voltaria, eu sempre dizia, com a certeza de que não viveria até lá: “Hummm, talvez daqui a uns 50 anos, está bom?” Um breve retorno ao Brasil seis meses atrás reforçou a minha crença de que aí não era mais a minha casa. Hoje, já não tenho essa certeza. Sei que não sou o único, todos os dias vejo histórias de brasileiros que tomam o caminho de volta. Em algum momento, essas pessoas se dividiram ao meio: uma metade que ainda acreditava, outra que tinha desistido.

Dilemas assim são fáceis de resolver quando você muda de uma cidade para outra, até de um estado para outro. “Foi uma experiência, que me enriqueceu muito.” “Senti saudade de casa e voltei.” “Recebi uma proposta de trabalho e estou partindo.”

Mas quando você cruza uma fronteira, é diferente, você nasce de novo. Você se despe do passado, troca de pele igual serpente, veste a armadura e vai à luta. E, se volta, é outro renascimento, uma nova reinvenção.

Falhar num projeto tão grande como uma mudança para Portugal ou qualquer outro país tem um quê de fracasso. Culpamos o clima, o mercado de trabalho fechado, a falta de oportunidades, o preconceito contra o estrangeiro. Encontramos razões para encobrir a nossa incapacidade em lidar com o novo e também para justificar aos outros. Mas no fundo, no fundo, sabemos que a responsabilidade pelos erros e acertos é 100% nossa.

Nessas horas, é preciso ter calma. Não desistir de primeira. Ter força, ter raça e ter gana sempre, para ter a certeza, Milton, de que tudo foi feito para dar certo. Ou como diz uma canção de Shawn Mendes, ídolo juvenil luso-canadense, que também faz sucesso no Brasil: “Sometimes I feel like giving up / But I just can’t / It isn’t in my blood” (“Às vezes eu tenho vontade de desistir / Mas simplesmente não posso / Não está no meu sangue”).

Restarão a você duas opções. Se for à tarde, sente-se num café e peça um expresso e um pastel de nata. Se for à noite, abra um vinho da região do Douro e um queijo da Serra da Estrela. Qualquer das duas opções vai clarear suas ideias, e convidá-lo a ficar mais um tempo por aqui.

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