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Em Portugal, junho é mês de Copa… e de sardinhas na brasa

Festas juninas são parecidas com as do Brasil, mas será curioso convencer os patrões daqui que, em dia de jogo do Brasil, ninguém trabalha

atualizado

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EGEAC Lisboa / Divulgação
sardinhas 2018 – 2
1 de 1 sardinhas 2018 – 2 - Foto: EGEAC Lisboa / Divulgação

Escrevo a coluna de hoje espremido entre dois eventos importantes: a Festa de Santo António, padroeiro de Lisboa, no dia 13 de junho, e o início da Copa do Mundo, no dia 14. A festa é coisa tão séria que é feriado na cidade. Ela se insere no contexto das Festas dos Santos Populares, o equivalente luso das nossas Festas Juninas, também em homenagem à tríade santa do mês de junho: Santo Antônio, São João e São Pedro. Ou seja, é festa o mês inteiro, em todos os cantos. Certamente, herdamos a tradição dos arraiais dos portugueses, e, de fato, é um dos momentos nos quais nós, brasileiros, percebemos as nossas origens: basta ver as bandeirolas enfeitando os arraiais.

Em Lisboa, o cheiro é de sardinha assada na brasa (foto em destaque). Nos largos e vielas medievais de bairros antigos, como a Alfama, toma-se o caldo verde e come-se a tal sardinha assada, canta-se e baila-se noite adentro. Tem gente que não curte o cheiro forte da sardinha, eu adoro. E o peixe é mesmo uma das estrelas da festa, pois, há 8 anos, é realizado um concurso artístico no qual os participantes precisam preencher uma silhueta de sardinha com muita criatividade.

Outro momento alto é a procissão de Santo António, que no dia 13 sai da igreja que dá nome ao padroeiro, situada em Alfama, junto à Sé, no local onde o santo nasceu, em cerca de 1193.

Hoje, no Brasil, as festas juninas assumiram ares de megaeventos, haja vista os diversos “São Joões”, como o de Campina Grande e o do Cerrado, em Brasília. Shows com grandes artistas, milhões de pessoas participando, num verdadeiro Carnaval em pleno inverno. Em Lisboa, as festas ainda guardam a tradição das pequenas festas de cidade do interior.

Depois da ressaca de muita cerveja e sardinha (não se esqueçam que aqui é quase verão, com os dias anoitecendo depois das 21h), começa nesta quinta-feira (14) – para quem gosta – a maratona da Copa do Mundo. Notícias que chegam de além-mar me dizem que o clima de Copa no Brasil não é o mesmo de outros anos, apesar de a seleção do Tite estar bem cotada. Baixo-astral geral ou trauma do 7 x 1 (contra a Alemanha, em 2014)?

Particularmente, eu acredito que, com o Brasil avançando bem, o clima de Copa volta a esquentar. Por aqui… Tirando a publicidade de cervejas e bancos patrocinadores da Seleção Portuguesa, nada parece motivar muito os patrícios. Para você, leitor, perceber a importância da Copa na mídia lusitana, só os jogos da seleção local serão transmitidos pelos canais abertos.

Como eu curto assistir a uns clássicos do esporte bretão, como Marrocos x Irã e Panamá x Tunísia, fui obrigado a comprar um pacote especial da TV por assinatura, com os canais de esporte. Afinal, os melhores canais de esporte não estão incluídos nos pacote normais. E lá se vão quase 30 euros por mês nessa brincadeira. Espero que valha o investimento, seja com o Neymar ou com o Cristiano Ronaldo.

Vai ser curioso acompanhar os jogos do Brasil aqui. Os que pude assistir têm uma narração com emoção zero. Está certo que, no Brasil, eu já havia deixado de acompanhar a transmissão da maior emissora de TV há muito tempo, mas faz falta um narrador brasileiro e um comentarista que puxe a sardinha (ops, olha ela aí de novo!) para a nossa brasa. Mas realmente quero sentir como será acompanhar um jogo da Seleção Brasileira com o mundo em volta funcionando do mesmo jeito e gritar sozinho na janela um “golo” do nosso time. Sem fogos nem bandeiras nas janelas.

Difícil vai ser os brasileiros que trabalham aqui convencerem os seus chefes de que dia de jogo é dia de folga. De qualquer jeito, ganhando ou perdendo, podemos comemorar ou chorar as mágoas tomando uma “imperial” (que é como se pede um chope aqui) e comendo uma sardinha na brasa nas festas dos santos.

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