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Desacelere. Os portugueses têm outro ritmo

A cultura do cultura norte-americana do “next, please!” não tem vez em Portugal, onde se costuma valorizar o que há de mais caro: o tempo

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Um amigo costumava me dizer que a cultura norte-americana é a cultura do “next, please!”, “o próximo, por favor!”, cristalizada nas filas de qualquer fast food. A ordem é “escolha rápido o seu pedido, porque a fila precisa andar”. E você ali, brasileiro abestalhado, sem saber se pede com molho ou sem molho, com gosto de papelão ou de isopor. E atrasando o desenvolvimento dos poderosos Estados Unidos. É a cultura da velocidade, da busca do resultado a qualquer preço.

Nós, brasileiros, de certa forma, nos moldamos a esse comportamento e queremos ser atendidos imediatamente, 24 horas por dia, sete dias da semana.

Se você pretende mudar para Portugal, esqueça. Aqui o ritmo é outro. Não tente impor o seu, porque não vai conseguir. Você será gentilmente obrigado a se adaptar se quiser permanecer com sua sanidade mental. Aliás, esta foi a frase que ouvi de um amigo, advogado português, quando eu perguntei a ele por que não tinha WhatsApp: “eu preservo a minha sanidade mental”.

Impagável. Brasileiros são os campeões no uso do WhatsApp, carinhosamente chamado por nós de “Zap”, “Zapzap” ou, para os íntimos, “uóts”. E ai de você se não responder imediatamente: “Mas eu te mandei um zap, você não viu?”, como se fosse obrigação ficar conectado o tempo todo.

Portugueses preferem o velho e bom SMS. E não se admire se eles responderem a um email ou mensagem no dia seguinte ou depois de 2 ou 3 dias. Não é desleixo, nem menosprezo. Simplesmente não estava na ordem de prioridades. Você é que é apressado e imediatista demais!

Não adianta brigar no restaurante porque o seu prato está demorando a chegar. Não adianta tentar ser atendido na frente na padaria. Pegue a senha e espere a sua vez. Na farmácia, no açougue, no cabeleireiro.

Hoje fui com minha esposa a um bar praticamente pé na areia perto de casa. Com uma temperatura que está beirando os 31 graus à noite, não há como ficar dentro de casa. Na entrada, uma fila indiana de clientes esperando uma mesa. Nada de botar o nome na lista e dar um rolê. Chega a nossa vez e o garçom pede para esperarmos a mesa que estava sendo arrumada.

Dez minutos de espera, quando já poderíamos estar sentados tomando uma imperial (que é como se chama o chope aqui) e nada. Não, ele não poderia deixar-nos sentar a uma mesa suja. São as regras da casa. Tudo muito organizado. Sem stress.

E assim, gostemos ou não, vamos aprendendo a conviver com um país cujas farmácias funcionam no esquema de plantão; onde os supermercados não são 24 horas; onde as transferências bancárias não são imediatas como as nossas TEDs (costumam demorar dois dias!)

Um país onde o dia começa preguiçosamente um pouco mais tarde e termina caprichosamente um pouco mais cedo. Onde as ambições não são desmedidas.

Os portugueses estão felizes com o que têm. Se possuem uma quitanda onde trabalham o pai, a mãe e os dois filhos, a vida está ótima assim. Não tencionam montar uma rede de quitandas e expandir o negócio. Se a quitanda fechar às 18h, não adianta chegar às 18h01. Não é preguiça de atender. “Volte amanhã, estaremos aqui, diz a jovem com um sorriso nos lábios.”

Pode-se concordar ou não, mas é possível que resida nesse jeito de ser dos portugueses uma grande lição para nós valorizarmos aquilo que nos é mais caro e que nunca conseguiremos capturar: o tempo.

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