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Leitores compartilham histórias emocionantes sobre maternidade

Em cada relato, a certeza de que esse é o maior amor do mundo: mãe é o lugar mais quentinho e seguro de todos.

atualizado

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grace e os filhos
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Escrevi na semana passada que, quando a gente vira mãe, cruza uma espécie de fronteira e ganha um passaporte para emoções até então desconhecidas. Ao longo desta semana, recebemos relatos emocionantes sobre a maternidade, tanto de quem já tem filhos quanto de quem quis homenagear sua mãe. Em cada história, a certeza de que esse é o maior amor do mundo – ou, nas palavras de uma querida amiga: mãe é o lugar mais quentinho e seguro de todos. Veja os relatos enviados à coluna:

Fabiana Rocha contou sobre a batalha que precisou enfrentar na chegada da sua filha Julia, prematura de 26 semanas:

Arquivo Pessoal
Fabiana com a filha Julia

“Minha gravidez foi planejada, tudo certinho, mas, quando estava com 24 semanas, comecei a me sentir um pouco mal. Não era nada de mais, mas fui ao médico por desencargo de consciência. Planejava sair da consulta e fazer compras, já que não havia comprado nada para o bebê ainda.

Já na triagem, verificaram que a minha pressão estava muito alta. A médica que veio me examinar disse que faríamos mais testes e, dependendo do resultado, a gravidez seria interrompida. Foi como se eu tivesse levado um soco no estômago, chorei e pensei “acabou, não tem mais bebê”.

Fiquei internada, pedi orações aos amigos e, com os exames, veio a notícia de que eu tinha a síndrome de hellp (uma rara e grave complicação obstétrica). Tivemos que tirar o neném. Julia Caliandra nasceu quando eu estava com 26 semanas de gestação, ela pesava 620 gramas. Lutou bravamente pela vida, um dia após o outro, com várias complicações, mas ela foi forte!

Ficamos 98 dias no hospital, período no qual acompanhamos outros bebês que não tiveram a mesma sorte… Hoje, ela está com 1 ano e 10 meses, linda, sem sequela nenhuma. É a prova de que Deus existe e continua fazendo milagres.”

Ingrid Beatriz Amaral, que engravidou na adolescência, lembrou como isso fortaleceu os laços com a mãe dela:

“Meu nome Ingrid Beatriz, minha história foi meio conturbada, até porque ser mãe aos 16 anos não foi muito fácil. Há seis anos, ser mãe nessa idade era motivo de muitos julgamentos, principalmente da minha mãe. “Por que com ela?!”, ela devia se perguntar. Muitas pessoas diziam que era por conta da “liberdade” que ela me dava. Outras, achavam que isso tinha acontecido devido ao fato de meus pais terem se separado quando eu era muito nova.

Para mim, não foi uma coisa, nem outra. Não foi um erro; prefiro chamar de mudança de vida. Lembro de como dei a notícia. Minha avó pulando de alegria pelo primeiro bisneto homem, meu pai chorando pelo mesmo motivo… e minha mãe querendo me matar. Tive uma gravidez de alto risco, precisei interromper o ensino médio, pois não podia andar ou fazer qualquer esforço. Passei seis longos meses dessa forma.

Arquivo Pessoal
Beatriz, a mãe e o filho.

Perdi alguns “amigos”, troquei noites de saídas com as amigas por noite mal dormidas, sem achar posição na cama. Eu e minha mãe ficamos um tempo sem nos falarmos, eu entendia porque ela estava chateada. Mas então chegou o dia em que o meu menino nasceu. Aquela dor era fora do comum, meu irmão não sabia o que fazer e meu pai, coitado, mal conseguia falar de tanto que chorava.

Naquele dia, 16 de outubro de 2010, eu nasci de novo. Depois de desmaiar por conta de uma hipoglicemia, fui internada às pressas, porque o Pedro queria nascer. Acordei com uma forte dor e vi minha mãe do meu lado, segurando minha mão e dizendo que o bebê estava querendo vir. Não precisei fazer força.

Tinha ouvido dizer que, em parto normal, precisaria fazer isso, mas o Pedro queria muito ver todo mundo. Daí eu e ela ouvimos o choro dele. Ouvi ela dizendo que ele era lindo, até as enfermeiras falavam isso. O choro tomou conta de mim por inteiro, eu chorava por saber que o amor da minha vida tinha acabado de nascer. A única pessoa que me amaria com meus defeitos e acertos, além da minha mãe, estava ali do meu ladinho, com os olhos bem abertos, prestando atenção em tudo.

A minha mãe chorava tanto, que me dava vontade de levantar para abraça-la, pedir desculpas pelas más respostas, pelas grosserias. Agora eu entendo tudo que ela fez e ainda faz por mim. Antes, eu duvidava, mas hoje sei que todos os nãos que recebi foram para o meu bem.

Obrigada, mãe, por sempre brigar comigo, por sempre entender meus momentos de raiva e, mesmo assim, ainda me fazer rir, por sempre ter batalhado para me dar tudo, por ser essa mãe duas vezes. Obrigada, mãe, pelas inúmeras vezes em que eu caí e você foi a única que me ajudou a levantar.

Com amor, Bia e Pedro.”

 

A Amanda Aziz tem a mãe como maior inspiração:

“Em breve, fará um ano que salvei a minha cachorrinha, Nina, de um atropelamento. Ela estava no meio da estrada, consciente, mas  sem conseguir andar. Levamos o irmãozinho dela (que estava ao lado dela) e ela para casa. Ainda tenho pesadelos com esse dia. Fico pensando: “E se a gente não tivesse parado? E se a tivéssemos deixado lá?”. Não sei se ela teria morrido. Talvez um outro alguém a tivesse socorrido. Não sei. O que eu sei é que não teria me perdoado.

Arquivo Pessoal
Amanda, de preto, com a mãe e as irmãs

Por isso, agradeço ao meu cunhado e à minha irmã, por terem parado o carro e, principalmente, à minha mãe. Com ela, aprendi meu amor pelos animais. Mãe, vem da senhora uma frase da qual me lembro sempre, proferida pelo Mario Sergio Cortella, que diz que: “não devemos fazer nada que envergonharia nossa mãe”. Tenho tentado. Salvar a Nina foi uma prova disso. Em muitas situações da minha vida, me pego pensando: “O que a mamãe faria no meu lugar?”. A senhora teria socorrido a Nina, como já socorreu tantos outros bichinhos. Eu não poderia agir diferente.

Percebo que, muitas vezes, o que me move é o desejo de ser como a senhora, a mulher mais forte, justa e generosa que conheço. E acredito estar no caminho certo, pois não são poucas as pessoas que nos acham parecidas, não apenas fisicamente. Tenho um orgulho danado disso, mãe. Ser parecida com a senhora é um elogio que tento fazer por merecer. E acho que a cada dia nos tornamos mais parecidas. Ainda bem. Te amo demais e espero ainda ser motivo de muito orgulho para a senhora.”

Grace Perpetuo, mãe de três, escreveu sobre as delícias do dia-a- dia com as crianças:

“Se não o escreveram até agora, cabe a mim fazê-lo, senhores. Vou libertar mães e crianças. [E o farei com modéstia, é claro.] Eis as primeiras páginas do manual da mãe anarquista – que vem sendo escrito a muitas mãos, evidentemente, e há séculos, mas que é em geral inconfesso.

grace e os filhos

O fato é que eu, avessa a convenções [inúteis ou não], às vezes permito que meus filhos faltem à escola para nadarem até tarde debaixo da lua cheia; que se pendurem das janelas do carro, perto de casa, e sintam arder a noite fria e estrelada do cerrado; que sintam o frescor da grama úmida; que calcem havaianas para as festas de aniversário; e que espalhem os livros pelo chão e os leiam [em voz alta e simultaneamente] até caírem no sono.

Eu mesma sugiro que fiquem descalças, despenteadas e um tanto selvagens – mas sempre com gentileza – nos poucos dias em que ainda podem sê-lo. Essas coisas; elas surgem do nada e nos fazem correr pela casa como curumins urbanos. Não temos tevê, mas deixo as crianças dançarem no chão ao som de Blondie e The Clash, se pedirem festa; e fazerem lanchinhos à meia-noite, se ainda estiverem com fome; e rezarem para a abóbada celeste, se quiserem falar com uma instância superior.

Permito que decorem a sala com onças e tamanduás de pelúcia; que conversem com as plantas e flores pelo caminho; que deem os seus pertences, um a um; e que façam elaboradas tatuagens de canetinha na pele branca umas das outras.

Com meu consentimento, acampam na sala; pintam a varanda; colam na parede da sala todas as coisas boas que querem ver acontecer; e dormem abraçadas ao gato [que era branco]. Num mesmo dia, vamos ao McDonald’s e recebemos Deeksha

Grace Perpetuo

Essas coisas. Nada demais. Às vezes, elas cantam quando eu quero meditar; ou gritam quando peço silêncio; ou choram enquanto eu morro de rir. Às vezes querem silêncio quando eu aumento a música; ou choram de alegria, mas contrariadas, quando ouvem Mozart ou Bach ou Jimi Hendrix. Às vezes, elas não querem ir para a cama, nem tomar chá de capim-cidreira, nem escovar os dentes. [Mas aí eu insisto, e a liberdade de antes ainda vale a pena.]

Mas não telefonem para o conselho tutelar, senhores, tampouco para algum parente ausente: as crianças me parecem mais felizes assim. É o que elas mesmas me dizem; é o que percebo em suas bochechas rosadas, quando as observo dormindo, de madrugada.”

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