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Depois de um mergulho na maternidade é hora de voltar à superfície

Desabado de uma mãe cansada, que há 10 meses assumiu a criação dos filhos como seu trabalho principal

atualizado

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Eu estou cansada de ser “só mãe”. Há pouco mais de 10 meses, tenho o cuidado com meus filhos como principal, quando não única, função. Nesse período, nasceu meu caçula e eu fiz um importante e necessário mergulho pelo mundo da maternidade. Mas agora eu quero muito voltar à superfície. Eu diria que quero desesperadamente.

Veja, não é que eu não tenha realizado nenhuma atividade profissional desde então. Esta coluna, por exemplo, nasceu em março. Também concluí uma pós-graduação e fiz vários textos para a Revista AzMina, uma revista on-line, feminina e feminista, da qual eu tenho o maior orgulho de fazer parte. Só que tudo isso, senhores, foi feito no (des)conforto do meu lar, em horários alternativos, picados, no meio do caos.

Já escrevi aqui sobre como home office de mãe é desafiador, mas, para mim, nesse exato momento, não é só isso. É impossível também. Simplesmente porque eu estou cansada de ter que achar brechas mínimas durante o meu dia para fazer entrevistas, me escondendo do meu filho mais velho, que decide berrar assim que me vê ao telefone. Estou cansada de trabalhar de madrugada, quando todos dormem e até que o bebê acorde.

Também estou cansada de passar o dia acudindo alguém. Alguém que caiu, alguém que fez cocô, alguém que precisa se vestir, alguém que está com fome, alguém que não quer ficar sozinho NEM POR DOIS MINUTOS. São só dois, mas, às vezes, eles parecem uns 10.

Eu sei o quanto sou privilegiada por poder passar esse tempo com meus filhos. Eu sei que a maioria das mães precisa deixar os bebês na creche aos quatro meses – quatro meses! A criança não sabe nem sentar –, com o coração na mão. Eu sei que o tempo está voando e que daqui a pouco eu vou ficar “ai, como estão crescidos”, mas hoje, enquanto eu escrevo este texto, eu estou cansada disso tudo.

Estou cansada de estar sempre de shorts, camiseta e chinelo de dedo. Esses dias, minha vizinha me viu de calça jeans e sapato fechado e me perguntou “noooossa, onde você vai assim toda arrumada?!”. Estou cansada de não usar brincos, de viver com o cabelo preso, de não usar nenhuma daquelas roupas legais que eu tenho no guarda-roupa

Quando meu companheiro vem me dizer que terá um dia duro pela frente, tenho inveja. Por mais que a rotina profissional seja estafante, ele está lá, ventilando a cabeça, conversando com outras pessoas, pensando sobre outros assuntos que não fraldas, assaduras, introdução alimentar, birras e por aí vai. Virei especialista em ser mãe, mas me faz uma falta tremenda ser outras coisas.

Giovanna Bembom / Metrópoles

Esses dias, levando meus filhos para cortar o cabelo, conheci uma moça que trabalha no setor de recursos humanos de um órgão para o qual eu havia mandado um currículo (olha a coincidência!). Ao saber que era ela quem mandava os e-mails do processo seletivo, quase disse “moça, me escolhe, eu sou tão boa profissional!”.

Ela se apressou em dizer que não escolhia nada, só cuidava do operacional. E eu fiquei lá, segurando a cabeça do Miguel enquanto o cabeleireiro terminava o corte, pensando que eu não preciso só de um trabalho, eu preciso de um trabalho fora da minha casa.

Hoje, mais do que nunca, eu admiro as mulheres que decidem se afastar temporariamente da carreira para cuidar dos filhos. Amigas, vocês são muito corajosas. Essa não é só uma decisão difícil – para quem tem o luxo de poder fazê-la – é também uma escolha de execução difícil. Exige uma dedicação da qual poucos seriam capazes. Eu, por exemplo, estou pedindo arrego. Eu preciso trabalhar fora de casa. Nem que seja por algumas horinhas. Nem que seja só para dar aquela saudade dos meus filhos.

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