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Como eu conheci a rede on-line de solidariedade materna

Há uma rede de solidariedade materna muito forte e crescente na web. Esta coluna surge para ser mais um espaço para isso

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Eu queria ter uma filha. Queria ser mãe de uma menina forte e feliz, a quem pudesse ensinar coisas sobre o mundo, sobre igualdade e respeito. Queria trocar confidências com ela, assim como fazia com a minha mãe. Queria falar de feminismo, queria que ela tivesse acesso às mesmas coisas que meninos de sua idade, sem aquele papo de “isso não pode, você é uma mocinha”. Mas minha filha não veio – bem, não nas minhas duas gestações.

Quando você engravida pela segunda vez, fica todo mundo torcendo para que venha um bebê de sexo diferente do primeiro, para “formar um casal”. Você, na diplomacia, diz que isso não importa. O importante é que seja saudável. Ah, não temos como escolher isso. Ansiosa? Não, imagina, tanto faz. Mesmo.

Pois eu fiquei absolutamente radiante quando o médico que fez o ultrassom de 12 semanas disse que meu segundo bebê parecia ser uma menina. Eu sabia que era pal-pi-te, que a chance de erro era grande, mas saí toda feliz do consultório.

Eis que, no exame seguinte, descobri que o chute era furado: eu teria mais um garotinho. Tudo bem, eu disse. Isso não tem importância, repeti. Que bom que está tudo bem com o neném.

Sentimento diferente
Dentro de mim, porém, ficou uma coisa esquisita. Poxa, eu não sei fazer uma menina. Isso é absolutamente irracional, eu sabia. Mas não adiantava: me sentia péssima. E me sentia péssima por me sentir péssima, afinal, que injustiça com esse menino que está crescendo na minha barriga. Não quero que ele se sinta menos amado ou desejado.

Esse conflito todo só passou quando li o post de uma desconhecida em um dos grupos de maternidade de que participo no Facebook. No texto, ela fazia um desabafo que parecia ter sido escrito por mim: “Olha, eu sei que isso é fútil, mas eu queria um menino e veio outra menina (o caso dela era o contrário). Alguém também se sentiu triste com isso?”.

Qual não foi minha surpresa quando dezenas de outras mulheres passaram a contar suas histórias – algumas na terceira ou quarta gestação de um bebê do mesmo sexo dos irmãos.

Muitas se sentindo culpadas por desejarem um(a) filho(a) que não existe, com outro na barriga. Fiz um comentário no post, falando sobre a minha sensação. Contei sobre a roupa cor-de-rosa, cheia de bolinhas que havia comprado – veja bem, não vejo problemas em meninos usarem cor-de-rosa, mas eu tinha comprado aquela roupa para a minha filha. Expliquei que passei a roupa adiante e que estava cada vez mais feliz pela chegada de mais um menininho na minha família.

Conversar ajuda
Falar daquilo foi libertador! Tirei um print do comentário e mostrei para o meu companheiro. “Carolina, por que você não me falou que se sentia assim?”, ele perguntou. Porque você não entenderia, você diria que era uma bobagem, que eu não precisava ficar assim. Graças àquelas mulheres desconhecidas, contudo, eu consegui assumir que isso não é uma bobagem. Eu queria uma filha e consegui me perdoar por isso.

A internet está cheia de fóruns e grupos de apoio à maternidade. Nos últimos dois anos, eu tenho tido a oportunidade de conhecer alguns desses espaços. Neles, dá para pedir ajuda, confessar medos, questionar o pediatra, o obstetra, a mãe, o marido, falar de opressão, tipos de criação, desejos para filhos que já existem ou para os que ainda são um projeto.

É claro que nem todos esses espaços são acolhedores, mas, de forma geral, há uma rede de solidariedade materna muito forte e crescente na web. Esta coluna surge para ser mais um espaço para isso. Sejam todas bem-vindas!

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