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Cinco comportamentos que pais devem adotar para acabar com o machismo

Temos que ensinar crianças a não reproduzirem comportamentos machistas, que dão origem a tantas formas de violência contra as mulheres

atualizado

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menino brincando de boneca
1 de 1 menino brincando de boneca - Foto: iStock

O grotesco caso da moça carioca estuprada por 33 homens popularizou uma expressão até então restrita a círculos feministas: cultura do estupro. Grosso modo, o termo se refere a naturalização da violência contra a mulher no dia-a-dia — naturalização essa que pode ocorrer de forma sutil ou escancarada e que começa ainda na infância.

Se isso parece exagero, vou dar um exemplo. Quando eu estava grávida do meu primeiro filho, conversava com um amigo sobre a filhinha dele, ele preocupado com o “trabalho” que ela daria no futuro. Eu tentava argumentar que entendia os medos de pai, mas que pensar assim era um tanto machista, afinal, dava a entender que ele precisaria manter afastados os potenciais parceiros sexuais da filha. A conversa terminou quando ele soltou esta: “para você, é fácil falar. Você vai ter um menino. Eu que sou o fornecedor”.

Isso aconteceu há três anos – acho até que esse meu amigo não acredita mais nessa bobagem –, mas ilustra bem como a maioria da sociedade ainda enxerga meninas e mulheres. Em pleno século 21, continuamos a ensinar às meninas que elas não são donas do próprio corpo. Que elas devem ser delicadas e se comportar como “mocinhas”. Enquanto isso, dos meninos, é cobrado o oposto: virilidade, “macheza”, promiscuidade.

Como mães e pais, temos uma imensa responsabilidade em mudar isso. Então, aqui vai uma lista de coisas que podemos fazer para que as crianças não reproduzam comportamentos machistas, que dão origem a tantas formas de violência contra as mulheres.

1. Brincadeira não tem gênero.

Basta uma ida às lojas de brinquedos para constatar a divisão “para meninas” X “para meninos”. Para elas, bonecas, casinhas e panelinhas; para eles, carrinhos, super-heróis e jogos de montar. Esse tipo de categorização leva as crianças a achar que atividades domésticas são de responsabilidade exclusiva das mulheres, enquanto que, para os homens, é destinada a conquista do mundo. Não estou dizendo que meninas não devem brincar de boneca, mas que não há problema algum em deixar que meninos também o façam.

Um bom exemplo de como isso pode ser conduzido vem da Suécia, país que ocupa o quarto lugar (entre 145 nações avaliadas) no ranking do Fórum Econômico Mundial que mede a igualdade de gênero. Em uma creche no centro de Estocolmo, uma das principais mudanças foi a eliminação de brinquedos tradicionalmente tidos como de meninas ou de meninos. No lugar deles, materiais como panos, papéis, madeiras e fantasias para que as crianças soltem a imaginação.

2. Fale sobre o respeito ao corpo do outro.

Recentemente, li um desabafo no Facebook no qual uma mãe relatava que um coleguinha da filha, ambos com 7 anos, estava sistematicamente passando a mão na bunda da menina. Contra as afirmações de que “é só uma brincadeira!”, “não tem maldade!”, “eles são crianças!”, há a certeza de que o garoto não estava respeitando o corpo da menina, que já havia deixado claro não estar gostando do comportamento dele. Esse tipo de coisa precisa ser discutida nas famílias e nas escolas, para que ninguém cresça achando que tal desrespeito é normal.

3. Não sexualize crianças.

Uma das coisas que mais me incomoda é quando alguém diz que um de meus filhos namora com alguma outra criança. Pode parecer exagero, mas não é. Eles são, no máximo, amigos. Por que a gente insiste em colocá-los como adultos?

O mesmo vale para frases aparentemente inocentes, mas que estão carregadas de noções machistas: “ela vai dar trabalho”, “esse aí vai ser garanhão”, “já é o terror das menininhas” e por aí vai. Incentivar que meninos se comportem como predadores sexuais é uma das formas de alimentar a cultura do estupro.

4. Inclua meninos e meninas nas tarefas domésticas.

Talvez um dos maiores termômetros da situação de desigualdade entre homens e mulheres seja a divisão das tarefas domésticas. E a desigualdade começa ainda na infância, como revelou uma pesquisa realizada com crianças de 6 a 11 anos. Segundo o levantamento, 81% das meninas arrumam a própria cama, tarefa executada por apenas 12% dos irmãos meninos. Elas também são as que mais limpam a casa (66%, contra 11% dos meninos).

Incluir as crianças, independentemente do gênero, nas tarefas da casa é uma forma de ensiná-las sobre responsabilidade e organização. Mesmo meninos pequenos podem ajudar, guardando brinquedos, recolhendo os pratos da mesa ou desligando a televisão.

5. Não estimule a agressividade nos meninos.

Muita gente acha legal que o filho menino seja “durão”, que aprenda a revidar com violência física as agressões de outras crianças. Esse expediente, contudo, pode fazer com que os garotos passem a dar socos e pontapés toda vez que se sentirem frustrados.

Um outro costume é “diminuir” os sentimentos dos garotos, com a máxima “homem não chora”. Por aqui, já corrigi diversas vezes: chora, chora mesmo, meu filho. Isso não é vergonha e não determina coragem. Façamos a nossa parte!

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