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O trio As Baías fecha o álbum visual Drama Latino nesta sexta-feira (15/1) com o lançamento de Quarto Andar, feat com Luísa Sonza que traz influências da música pop latina e do tecnobrega. À coluna Leo Dias, a banda falou sobre a importância do sucesso do grupo para a comunidade trans, preconceito e trabalho.
Leo Dias – Qual a importância do sucesso de vocês para a comunidade trans?
Raquel – Acho que essa nossa engajada até ambientes mais populares contribui para que mais pessoas nos vejam e admitam nossa existência com menos preconceito. Isso contribui para que uma série de mitos que de que somos violentas, etc, caiam por terra.
Assucena – No próximo dia 29 de janeiro é comemorado o Dia Nacional da Visibilidade Trans, o que quer dizer que as demandas sociais, políticas e culturais das pessoas trans são sempre empurradas para debaixo do tapete, tornando-se invisíveis. No panteão popular da Música Brasileira, nós temos lésbicas, gays e drag queens, mas não temos pessoas trans. Ainda lutamos pelos espaços de visibilidade e referência. O sucesso de As Baías é simbólico no processo de mudança de mentalidade para uma sociedade que deve “normativizar” a vivencia, a cultura e a dignidade das pessoas trans.

As Báias e Luísa Sonza

O grupo lançou feat com a cantora

Eles conversaram com a coluna

E falaram sobre a importância do sucesso dos três para a comunidade trans

Raquel Virgínia, Assucena Assucena e Rafael Acerbi, Instagram/Reprodução

As Baías e Linn da Quebrada Saullo Moreira/ Divulgação
O que podemos esperar do feat?
Rafael Acerbi – Essa é uma das canções mais pops que já gravamos. Cheia de beats, sintetizadores e violões, ela tem uma atmosfera noturna sensual e romântica. A voz da Luísa caiu como uma luva e foi muito interessante observar a troca de referências entre nós e ela. Ambos artistas pisando num terreno novo e fazendo uma mistura para um som novo sob comando do mestre Daniel Ganjaman na produção musical. O clipe que foi dirigido por Gringo Cardia e Jackson Tinoco também reúne cenas lindas gravadas na Cidade das Artes, com um styling impecável feito pelo Rodrigo Polack.
Quais referências vocês trouxeram para o álbum?
Rafael Acerbi – Ouvimos muita coisa para chegar no resultado das cinco músicas como Rosalia, Billie Eilish, Michael Jackson, Bruno Mars, Pablo Vittar, Pablo do Arrocha, Tribalistas.
Qual o maior desafio que encontraram ou encontram em todo processo musical? Sofreram ou ainda sofrem muito preconceito?
Rafael Acerbi – Creio que o maior desafio é conseguirmos nos tornar artistas populares. Não existe uma banda com duas cantoras trans na história a ocupar o lugar de grandes referências na música. Ainda é muito difícil romper essas barreiras, mas creio que, a cada dia mais, através de nossa arte, observamos esses muros sendo derrubados.
O trio está seguindo um caminho mais popular. Isso é natural ou é algo pensado previamente?
Rafael Acerbi – Foi pensado, mas também muito verdadeiro e autêntico. Sempre flertamos com a música pop e sempre foi um desejo poder entrar por essa porta que ainda não havíamos explorado. As Baías é uma banda que tenta sempre produzir álbuns e músicas que sejam diferentes entre si. Se reinventar é o que nos move como banda.
Janeiro tem como destaque a visibilidade trans. Qual mensagem vocês podem passar para a comunidade trans no Brasil e para o que estão neste processo de aceitação ou transição?
Raquel – Numa sociedade saudável, se um grupo é mais atacado, todos nós devemos parar e refletir os motivos para que aconteça a mudança. O dia da visibilidade trans serve para refletirmos os motivos pelos quais temos um grupo tão atacado como o das pessoas trans. É o dia para dar luz a nossa dignidade. Que é a dignidade humana.
Assucena – De que o lugar das pessoas trans é o lugar no qual queremos estar. Nós não nascemos no corpo errado, nós não somos um pecado, nós não somos uma vergonha. Nascemos com uma missão linda de expandir liberdade e amor e de conquistar espaços para transformar esse mundo num lugar efetivamente de respeito e paz.
No meio musical temos cantores, gays, lesbicas e drags, mas trans não é algo comum. De que forma vocês veem isso?
Rafael Acerbi – Creio que existe uma confusão ainda sobre gênero/sexualidade/performance que ainda paira sobre esse universo. E, evidentemente, a transfobia é uma violência que impede a construção de ícones trans populares.
Qual o processo de criação das músicas. É inspirado em alguém ou situação especifica?
Rafael Acerbi – Eu quase sempre componho sobre situações que vivi. Nós três raramente compomos juntos. É de costume um processo mais individual, embora, ano passado, tenhamos lançado nossa primeira composição junto que foi, Você é do Mal. A Raquel e Assucena compõe muito, mas não tocam nenhum instrumento. Geralmente, recebo essas composições e faço arranjos posteriormente.
Como é o dia a dia da banda neste momento de pandemia e como era antes?
Rafael Acerbi – No momento pré pandemia, estávamos a todo vapor. Havíamos acabado de tocar num trio para milhares de pessoas no carnaval e estávamos entrando em estúdio para gravar esse álbum. Quando a pandemia estourou, foi aquele medo coletivo sobre o futuro. Mas rapidamente conseguimos criar novos métodos de trabalho para continuar criando e lançando nossos trabalhos. Sendo assim, foram 12 músicas lançadas e uma indicação ao Grammy. Um ano de muitas dificuldades em que fomos obrigados a reestruturar nossas vidas.