Burocratas da cultura exigem cabeças, mas não resolvem problemas

Crise criada em torno do secretário Ricardo Alvim teve uma grande vantagem: foi encerrada com pano extremamente rápido

J.R Guzzo
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A crise criada em torno do secretário da Cultura, que antigamente se chamava ministro da Cultura, teve uma grande vantagem: foi encerrada com pano extremamente rápido. Roberto Alvim – esse o nome da figura – teve a ideia de gravar um vídeo com um discurso mais ou menos sem pé nem cabeça, no estilo habitual dos nossos burocratas culturais.

Ele falava, ali, nos seus planos de criar uma “arte nacional” no Brasil, coisa que não deu para entender direito o que seria. Propôs uma cultura “heroica” para os próximos dez anos e anunciou a criação de mais um lote de prêmios com dinheiro do erário para artistas – um negócio nunca visto antes, com distinções que iriam de compositores de ópera a desenhistas de histórias em quadrinhos.

Para seu azar, porém, alguém descobriu que um trecho do discurso reproduzia partes de um pronunciamento do ministro de Propaganda da Alemanha nazista. Pronto: morte súbita para Alvim.

Peixes graúdos que jamais teriam identificado frase nazista nenhuma no vídeo e, possivelmente, nem sabem quem foi ao certo Joseph Goebbels, ficaram indignados quando lhes contaram o que Alvim tinha feito.

É mesmo? Ele disse coisa de nazista? Em questão de minutos armou-se um escândalo nacional e o próprio presidente da República chegou rapidamente à conclusão de que não adiantava gastar vela com esse defunto: demitiu o secretário, dizendo que a sua posição tinha ficado “insustentável”, e até mandou tirar uma edição extra do Diário Oficial para liquidar o assunto o mais rápido possível.

Cultura em ruínas
Tudo isso é uma imensa palhaçada. A cultura brasileira não melhora em um único milímetro com a demissão de Alvim – como não havia melhorado nada com a sua nomeação. Enquanto os caciques ficam se horrorizando com um ministro nazista morto 75 anos atrás, o patrimônio cultural do Brasil está em ruínas.

O Museu Nacional pegou fogo – conseguiam destruir até a múmia egípcia do pobre Dom Pedro II. O maior museu de São Paulo está fechado há anos. A Biblioteca Nacional está caindo aos pedaços. Os grandes teatros só operam no sistema acende-apaga. Nossos edifícios históricos só não desabam por milagre.

Os milhares de burocratas da área cultural não conseguem, sequer, tapar uma goteira. E os gigantes das nossas instituições, tão rápidos para exigir cabeças, querem mais é que tudo isso vá para o diabo.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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