Direcionada, principalmente, para quem atua na linha de frente contra a Covid-19, a primeira fase da vacinação no Distrito Federal tem deixado de orientar as categorias menos instruídas – mas classificadas como prioritárias – sobre possíveis efeitos adversos causados pela CoronaVac. Terceirizados contemplados com o imunizante confirmaram ao Metrópoles não terem recebido esclarecimentos de servidores da Secretaria de Saúde sobre os possíveis efeitos colaterais antes de receberem a fórmula chinesa.
Médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem têm facilidade para acessar as informações sobre o produto, contudo, outras profissões classificadas também como prioritárias na atual etapa da campanha, como vigilantes, copeiros e profissionais de limpeza, por exemplo, disseram desconhecer instruções sobre eventuais consequências previstas durante a aplicação da fórmula desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan.
“Não me falaram nada sobre essas reações. Perguntaram-me se eu tinha alergia a algum medicamento e só. Fui na fila e recebi porque fiquei muito animado para receber a dose logo. Trabalho diretamente com pessoas contaminadas e foi um alívio receber a vacina”, afirmou um vigilante, sob a condição de anonimato.
“Eu estou acostumada a tomar vacina contra a gripe e imaginei que essa fosse parecida. Como nunca tive nenhuma reação, também não fui atrás para saber. Mas, realmente, ninguém me avisou nada sobre como proceder se aparecesse algo após a aplicação”, confirmou outra terceirizada, escalada para a limpeza de uma das unidades de referência da Covid-19 no Distrito Federal.
Nenhum dos sintomas relatados durante a fase de testes do imunizante chinês foi considerado importante, capaz de comprometer a eficácia do protocolo. De acordo com a Sinovac, laboratório chinês responsável pelo produto, a fórmula causou efeitos colaterais leves em 5,36% dos 50 mil voluntários da China que receberam a imunização. Dor no local da aplicação (3,08%), fadiga (1,53%) e febre leve (0,21%) foram os sintomas mais comuns observados. Também foram relatadas perda de apetite e dor de cabeça.
No Brasil, entre os que afirmaram ter sentido alguma coisa, a queixa mais comum foi de dor no local da aplicação. A imunização usa o vírus inativado e é administrada em duas ocasiões, com intervalo de 14 dias.
De acordo com a farmacêutica, a contraindicação é para aqueles pacientes com alergia aos componentes da vacina ou quem apresente febre, doença aguda e início agudo de doenças crônicas. Grávidas também precisam de avaliação clínica antes de tomar o imunizante.
O que diz a Secretaria de Saúde
Procurada, a Secretaria de Saúde informou que conta com uma equipe técnica de monitoramento de eventos adversos de todos os imunizantes. “Para a vacina específica da Covid-19, está acontecendo o treinamento técnico de todas as regiões de Saúde, e todas as especificações da vacina CoronaVac estão sendo repassadas, inclusive dos eventos adversos possíveis, mesmo que sejam eventos leves”, informou na nota encaminhada ao Metrópoles.
De acordo com o texto, “todos que estão sendo vacinados recebem a orientação de reportar qualquer sintoma que venha a sentir, como febre, mal-estar, dor de cabeça, dor, vermelhidão ou inchaço no local, ou qualquer outro sintoma que possa ter após a vacinação”, garantiu.
O órgão reforçou que os treinamentos começaram na última segunda-feira (18/1) e que devem durar até a próxima semana. “Neste primeiro momento, com a vacina em grupos bem específicos, o contato direto para evento adverso é no próprio local de vacinação, para os profissionais de saúde, e, nos abrigos e para os indígenas, o contato é diretamente com as equipes da unidade básica mais próxima ao local”, sublinhou.
“Baseando-se em todas essas informações técnicas, a equipe técnica de monitoramento de eventos adversos está preparando uma nota técnica específica só para os eventos da CoronaVac, vacina que está sendo aplicada neste momento”, finalizou.

Gustavo Moreno/ Especial para o Metrópoles

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Lídia Rodrigues foi a primeira a ser vacinada no DFGustavo Moreno/ Especial para o Metrópoles

Segundo a Secretaria de Saúde, todos os profissionais que atuam na linha de frente de combate à Covid-19 já estão sendo vacinadosGustavo Moreno/Especial para o Metrópoles

Vídeo aponta que seringa estaria vaziaGustavo Moreno/ Especial para o Metrópoles

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Na quarta-feira (27/1), um ofício parecido já havia sido dirigido ao governo João Doria (PSDB)Gustavo Moreno/ Especial para o Metrópoles

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Doses
A Coronavac tem sido aplicada, neste momento inicial, em profissionais de saúde que trabalham na linha de frente do combate ao novo coronavírus, indígenas, pessoas a partir de 60 anos que vivem em unidades de acolhimento e seus cuidadores.
No total, o Distrito Federal recebeu 106.160 doses. A estimativa do governo local é vacinar 53.080 pessoas, que receberão duas aplicações em um intervalo de 14 a 28 dias. A Secretaria de Saúde do DF frisou que a população não deve procurar as unidades para imunização, pois apenas o público-alvo receberá a vacina agora.
A campanha de vacinação contra a Covid-19 começou no Distrito Federal pelo Hospital Regional da Asa Norte (Hran). A primeira imunizada foi a enfermeira Lídia Rodrigues que atua na unidade. Desde o início da tarde de terça-feira (19), 15 hospitais públicos do DF passaram a vacinar os primeiros profissionais de saúde que atuam na linha de frente, juntamente com os vigilantes e auxiliares de limpeza.
No total, são 15 pontos de vacinação para imunizar profissionais de saúde, das redes pública e privada, que integram as listas elaboradas pelas unidades onde trabalham. A escolha do local de vacinação é facultativa a esses profissionais. Os demais membros do grupo da primeira fase receberão as doses nas instituições sociais e nas aldeias indígenas.
Segundo o GDF, a vacinação para os demais integrantes dos públicos-alvo previstos no Plano Operacional de Vacinação Contra a Covid-19 no DF começará assim que a Secretaria de Saúde receber mais doses da vacina.