Novo crédito do BNDES para atacadistas vai socorrer 130 mil empresas do DF

Modelo anunciado pelo banco beneficiará estabelecimentos com faturamento anual de R$ 300 mi e, por tabela, impulsionará os pequenos negócios

Caio Barbieri
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Uma nova modalidade de créditos anunciada recentemente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) passou a atrair olhares de micro e pequenos empresários do Distrito Federal como alternativa para ajudar na retomada dos negócios durante as próximas fases da pandemia do novo coronavírus.

A instituição financeira lançou o programa Crédito Cadeias Produtivas, voltado para o financiamento de capital de giro, direcionado a empresas de grande porte, também chamadas de âncoras, a fim de atender a necessidade de liquidez de sua cadeia produtiva, formada por empresas de menor porte, as ancoradas. A princípio, no DF, o crédito será destinado aos atacadistas.

Durante uma reunião virtual presenciada por representantes do banco, da Federação do Comércio (Fecomércio-DF), do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas empresas do Distrito Federal (Sebrae-DF) e do Sindicato do Comércio Atacadista do Distrito Federal (Sindiatacadista-DF), os representantes receberam o aceno positivo do BNDES para a modalidade, que hoje exige uma movimentação financeira anual mínima de R$ 300 milhões.

Em outras palavras, o programa consegue liberar recursos aos grandes grupos empresariais com prazo maior de liquidez para que, com isso, consigam desenvolver uma relação econômica saudável com a sua cadeia de fornecedores, nos moldes dos famosos crediários existentes entre lojas de departamento e os próprios clientes.

Com um capital de giro robusto, esses estabelecimentos conseguem manter a musculatura para a venda do produto a longo prazo para os clientes interessados, os quais não teriam condições para uma compra à vista, por exemplo.

Na nova modalidade, a transação é semelhante e procura não apenas incentivar a retomada da economia, mas também nutrir a fidelidade entre os grandes grupos que necessitam dos pequenos fornecedores para o giro financeiro. A operação de crédito pode ser de no mínimo R$ 10 milhões e no máximo de R$ 200 milhões. A carência de pagamento prevista é de dois a cinco anos.

“Essa é uma alternativa muito interessante, porque pode resolver o problema de muita empresa que está ameaçando fechar as portas por falta de acesso às linhas de crédito de bancos públicos amplamente divulgados pelos governos, mas que não chegaram até a ponta necessitada”, afirmou o presidente da Fecomércio-DF, Francisco Maia.

A preocupação do líder empresarial tem explicação pelo atual cenário crítico vivido no Distrito Federal. “O Sebrae-DF estima que cerca de 130 mil empresas têm faturamento anual de até R$ 150 mil, ou seja, estão na margem do sistema financeiro, sem acesso às linhas. Elas estão abandonadas, porque não têm acesso ao coronavoucher e também não têm cadastros para conseguir empréstimos em bancos”, completou.

Burocracia bancária

Para o superintendente regional do Sebrae, Valdir Oliveira, o formato da operação foge das peregrinações burocráticas pelas quais qualquer interessado em empréstimos bancários teria de enfrentar. “Na verdade, o desenho dessa linha de crédito tem um diferencial: ele foge do sistema bancário, que tem uma análise de crédito muito rigorosa. Qual é o ganho de se ter um crédito fora do sistema do bancário? Ela atinge um público que não tem acesso às linhas de financiamento. Assim, as empresas de grande porte têm mais facilidade de conseguir o crédito para auxiliar os fornecedores, já que eles nutrem uma relação simbiótica e um depende do outro”, explicou.

Segundo Oliveira, a operação é segura e garante ao pequeno empresário a chance de ter acesso ao recurso e com juros menores que os bancários. “Nesse caso, os atacadistas não podem ampliar as taxas de juros e não interessa a ele ganhar nessa operação. Se antes ele comprava meu negócio não é emprestar dinheiro, é vender mercadoria. O BNDES alimenta com dinheiro e, com isso, o atacadista tem condições melhores e isso se resulta em apoio aos microempreendedores”.

Embora a modalidade tenha uma boa aceitação, principalmente entre os atacadistas, as exigências estabelecidas pelo BNDES precisam ser revistas, já que, atualmente, apenas quatro estabelecimentos desse porte possuem um faturamento anual mínimo de R$ 300 milhões, conforme argumentou o presidente do Sindiatacadista, Lysipo Gomide.

“O atacadista está no meio da cadeia, ele é o intermediário. Hoje, por exemplo, a gente já garante uma relação semelhante porque vendemos nossos produtos a prazo para o cliente. Como âncora do BNDES, poderíamos repassar esses recursos tanto para um fornecedor pequeno, para continuar fornecendo, como repassar também para os nossos próprios clientes, como lojas de material de construção, como bares, restaurantes ou até mesmo donos de foodtrucks, por exemplo, que também sofreram bastante com os efeitos da pandemia”, disse.

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Revisão de regras

Para a deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF), intermediadora das negociações entre o segmento econômico e a instituição financeira, o gerente do Departamento de Comércio e Serviço do BNDES, Job Rodrigues, garantiu que há chances de se flexibilizar as regras atuais. Segundo ela, no DF, mais de 80% das empresas são constituídas por microempresas, mas também há estabelecimentos de grande porte e que não alcançam os benefícios do órgão federal.

“O banco poderia ver se é possível fazer consórcios econômicos, com dois ou três atacadistas para que estes possam estar se unindo em prol de acesso ao crédito. A nossa necessidade aqui é urgente e pedimos uma atenção especial para o DF, para não deixarmos as microempresa e empresas de pequeno porte fecharem. Vejo uma nova concepção de crédito e também uma forma de fidelização da clientela para as empresas âncoras”, finalizou.

Embora as novas regras ainda não tenham sido confirmadas, o acesso à linha de crédito não será de imediato. Durante o encontro virtual, o representante do BNDES disse que, caso algum atacadista fosse ingressar hoje formalmente com o pedido de empréstimo, após toda a burocracia interna, análise de viabilidade e assinatura de contratos, o prazo estipulado é que o recurso caia nas contas desses empresários em até quatro meses.

 

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