metropoles.com

Alvo de operação, administrador regional diz: “Quem não deve não teme”

Número 01 do Núcleo Bandeirante, Adalberto Carvalho teve o celular pessoal e o veículo funcional apreendidos pela PCDF e MPDFT nesta quarta

atualizado

Compartilhar notícia

Lúcio Bernardo Jr. / Agência Brasília
Adalberto
1 de 1 Adalberto - Foto: Lúcio Bernardo Jr. / Agência Brasília

Surpreendido com a Operação Cidade Livre na porta da própria casa, logo no início da manhã desta quarta-feira (16/12), o atual administrador do Núcleo Bandeirante, Adalberto Carvalho (foto em destaque), afirmou à coluna Janela Indiscreta, do Metrópoles, que “confia no trabalho da Polícia Civil [PCDF] e que ajudará as investigações no que for possível”.

Titular do cargo desde o início do governo de Ibaneis Rocha (MDB), ainda em 2019, Adalberto disse estar “tranquilo” com a investigação policial e do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) que têm entre os objetivos apurar irregularidades nas emissões de autorizações de uso de bens públicos e concessão de licença pela Administração do Núcleo Bandeirante ainda no governo de Rodrigo Rollemberg (PSB).

“Tudo o que ocorreu é da gestão anterior, quando eu não estava aqui na administração. Como disse para os policiais, repito: estou aqui para colaborar com toda a investigação. Quem não deve não teme”, disse Carvalho.

O administrador falou com a reportagem pelo celular do assessor, uma vez que o aparelho pessoal dele acabou sendo apreendido pelos investigadores durante a operação Cidade Livre. Além do telefone, também confiscaram o veículo que presta serviço para o órgão.

“Isso tudo é natural, quem ocupa um cargo público está sujeito a isso. Mas estou tranquilo. Vou aguardar o processo natural, perceberem que não tenho nada com isso, para devolverem o meu telefone. O importante agora é ajudar nesse trabalho importante da polícia”, continuou.

Durante a conversa, Adalberto Carvalho disse desconhecer o processo investigado na Administração Regional. “Nunca ouvi falar nada sobre isso aqui dentro, mas tenho certeza que, se fizeram no passado coisa errada, a investigação vai descobrir. A melhor auditoria que existe é a que a PCDF e o Ministério Público estão fazendo. Enquanto isso, sigo meu trabalho normalmente, porque a nossa cidade não pode esperar”, finalizou.

Veja imagens da operação na Administração do Núcleo Bandeirante:
0
Entenda o caso

Na manhã desta quarta-feira, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) fizeram buscas e apreensões na sede da Câmara Legislativa (CLDF) e em endereços ligados a deputados. As apurações ocorrem no âmbito das operações Alfa 19 e Cidade Livre, reveladas pelo Metrópoles. Os distritais José Gomes e Roosevelt Vilela, ambos do PSB, estão entre os investigados.

Os policiais chegaram à CLDF na madrugada para cumprir as ordens expedidas pela Justiça no gabinete de José Gomes. As operações foram conduzidas pelo Departamento de Combate à Corrupção (Decor), por meio da Divisão de Repressão a Corrupção Dicor (Dicor), e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPDFT.

As investigações apontaram que, desde 2015, foram emitidas autorizações de uso de bens públicos, sem o respectivo recolhimento de taxa de aluguel de espaço público, como, por exemplo, o Parque do Núcleo Bandeirante, cedido sem processo licitatório e sem contraprestação para o Poder Público, sendo o uso explorado economicamente por particulares.

As diligências indicaram ainda o exercício de funções em empresa particular por parlamentar formalmente afastado da gestão empresarial e o emprego de funcionário de gabinete parlamentar no exercício de funções estranhas ao cargo público.

No total, foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão em órgãos públicos, residências e empresa localizadas nas seguintes regiões administrativas: Plano Piloto, Lago Sul, Núcleo Bandeirante e Arniqueira. As buscas visam a obtenção de elementos probatórios que vão subsidiar as investigações em andamento.
O termo Cidade Livre, que batizou uma das operações, faz alusão ao nome dado ao ponto em que se instalavam os trabalhadores do início da construção de Brasília, no Núcleo Bandeirante.

A ação ocorre um dia depois de a Casa escolher a nova Mesa Diretora. O Metrópoles registrou o momento em que os policiais chegaram ao prédio da CLDF, por volta das 5h55.

0
O que dizem os outros envolvidos?

Em nota, José Gomes informou “que está tranquilo e que não cometeu nenhum ato ilícito. Ele irá cooperar com as investigações para dirimir qualquer dúvida”.

O presidente do PSB-DF, Rodrigo Dias, destacou que o partido “defende que as investigações da PCDF e do MP sejam feitas com rigor e, caso se comprovem o teor das acusações, que os envolvidos sejam punidos exemplarmente.” Rodrigo acrescentou que o PSB “tem como uma de suas principais bandeiras a ética e a moralidade e, exatamente por essa razão, instaurou, inclusive, processo na Comissão de Ética contra o deputado José Gomes, em virtude da sua condenação por ilícitos de natureza eleitoral, estando o julgamento convocado para amanhã (17/12). O desdobramento das investigações será acompanhado atentamente pelo partido para avaliar eventuais medidas disciplinares.”

Roosevelt Vilela, também alvo da investigação, foi indiciado pela Polícia Federal por crime eleitoral em inquérito que apurou suposto uso de cargos na Administração Regional do Núcleo Bandeirante, Candangolândia e Park Way para captar votos em 2018. As apurações apontaram que o deputado, enquanto administrador das regiões, teria usado a máquina pública para supostamente se beneficiar. Ele teria feito nomeações em troca de votos.

O distrital disse, em nota, “que desconhece o teor das investigações, que, quando administrador e em toda a sua vida pública, sempre prezou pela lisura e responsabilidade com o bem público. Informo ainda que o meu gabinete e a minha casa não foram alvo de busca e apreensão. Reafirmo o meu compromisso em trabalhar sempre dentro da legalidade e da transparência com o bem público”.

Também por meio de nota, a Câmara Legislativa confirmou o cumprimento de mandado de busca e apreensão de documentos no gabinete do deputado distrital José Gomes (PSB) “A CLDF estará sempre à disposição dos órgãos investigativos e do poder judiciário para prestar quaisquer esclarecimentos”, informou.

Em nota, Hermeto alegou que não pediu nada em troca e que não tem relação alguma com o parlamentar do PSB. “Não vieram na minha casa, não foram no meu gabinete, não citaram meu nome. Agora, pode estar sendo investigado eu pedir emprego de copeira para José Gomes, como todo deputado faz. Pedir limpeza para ajudar as pessoas. O que eu pedi para ele qualquer um pede. Uma vaga de limpeza para uma pessoa que está precisando. Isso aí é normal. Ele é dono de uma empresa. Chega uma pessoa no teu gabinete, passando fome, pedindo ajuda. Eu falei: ‘Zé tem uma vaga de limpeza nas escolas’. Isso aí é normal, qualquer um faz. Isso eu não nego, não. Nada em troca de nada”, argumentou.

Compartilhar notícia