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Governo recua e elimina curso na renovação da CNH. E isso não é bom

A formação do motorista brasileiro é ruim. Testar o conhecimento dele a cada cinco anos seria uma boa iniciativa, se aliada a outras ações

atualizado

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No percurso de seu trabalho-casa preste atenção a quantas falhas, imprudências e ‘barbeiragens’ de trânsito você e os demais motoristas cometem. Sem falar nas que eles e você nem sequer sabem que são infrações passíveis de multas.

Muitos motoristas desconhecem, por exemplo, que deixar faltar gasolina – e, portanto, provocar engarrafamento – é passível de multa. Veja o art. 180 do Código de Trânsito Brasileiro, o CTB.

Está lá também, no art. 181, prevista punição para quem estacionar afastado da guia. Dê uma volta nos setores SCS, SBS ou outro qualquer e confira quantos carros você verá mal-estacionado.

Os exemplos são singelos para mostrar que o condutor brasileiro, em geral, sabe pouco das regras de trânsito. Você já se irritou com um motorista-tartaruga e pensa: tem regra para impedir que alguém rode lentamente? Sim: nenhum veículo pode trafegar abaixo de metade da velocidade da via. Pegue a EPTG e confira!

Para piorar, sabemos que há cada vez menos guardas e agentes de trânsito nas ruas. E pardais não multam quem ‘aluga’ a faixa da esquerda, quem transporta menor de sete anos em motocicletas ou quem, algo bem comum em Brasília, ultrapassa pelo lado direito a torto e a… direito.

Por isso, soa como covardia o Ministério das Cidades revogar a norma que mudava as regras para a renovação CNH. Os burocratas preferiram uma saída populista e disseram que o objetivo do recuo é “facilitar a vida do brasileiro”. Balela.

As autoridades, até para normatizar ou legislar, precisam entender o comportamento do cidadão – nesse caso, o motorista (aptidões, decisões e comportamentos e, principalmente, indícios de deficiência física e mental). A partir daí, com base em estatísticas, decidir.

Os janotas sabem que as razões dos acidentes, da lentidão no deslocamento diário (sim, a qualidade do condutor tem tudo a ver) e outras tantas “bobagens” partem de uma coisa básica: a pouca atenção que o Estado dá a esse assunto (exceto à punição, arrecadatória, no qual o Brasil é expert).

A formação do motorista e do motociclista é ruim no Brasil, concordamos? As auto-escolas fingem que ensinam e os futuros condutores fingem que aprendem.

Somente Brasília ganha 104 novos condutores/dia – no ano passado, o Detran-DF abriu 40 mil processos de emissão de novas CNHs.

Quanto desses serão tranca-ruas ou roda-presas nas ruas? Quantos sabem realmente interpretar sinais e placas? Quantos sabem fazer uma baliza simples? Quantos saíram da escolinha do Professor Detran com boa formação moral/ética para o sufoco diário no trânsito?

Se a formação é ruim, o Estado tem culpa – por não fiscalizar o processo de formação. Por não excluir auto-escolas picaretas. Por não incluir na concessão da CNH, como lembrou um colega jornalista, exposição do futuro condutor a situações de risco reais no trânsito, para ver como ele reagirá (e reprová-lo, se preciso).

Outro fator de segurança no trânsito é qualidade das vias: da sinalização vertical ou horizontal aos erros de engenharia ou falha na geometria na via (traçado, curvas perigosas, acostamentos etc). Neste item, não há como não admitir: o Estado fracassou, ao ponto de nem mesmo fiscalizar com competência as rodovias privatizadas.

O recuo, portanto, manteve “tudo como está” – e tudo como está aí não é nada bom.

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