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Por que nós, mulheres, fazemos tanta abobrinha diante da rejeição?

Amor é uma química complexa e raramente acontece. Isso é muito bom. Nem toda rejeição é rejeição, é só incompatibilidade

atualizado

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Cracked Love U Candy Heart with Copy Space Right
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Jogo de sedução é uma delícia, não é? O único problema dessa brincadeira é uma coisinha chamada rejeição. O que fazemos com essa p*&%$, quando ela vem? As mulheres da nossa geração são criadas para medir o seu valor a partir da aceitação masculina. Por isso, fazemos bastante abobrinha com esse assunto.

Recentemente, tive um papo interessante com uma amiga. Ela havia passado uma noite tórrida com um colega de trabalho que nunca mais ligou. A rejeição a deixou obcecada. O que fez de errado? Foi muito romântica? Pouco romântica e pareceu emocionalmente indisponível? Serão aqueles dois quilos ganhos no mês passado? Não sabia.

Um processo obscuro operava dentro dela. De repente, o cara com quem ela só queria transar e era apenas o coxinha-gostoso-que-não-tinha-nada-a-ver, se transformou no ninfo-dos-seus-sonhos. Lamentava, havia deixado uma grande oportunidade deslizar pelos dedos.

Eu também tive um cara assim na minha vida. Era um colega de trabalho que tinha costas do tamanho da União Europeia, olhos de gato e a boca tão grande que parecia ocupar a extensão do seu rosto inteiro.

Nunca tinha dado bola para o sujeito até ele começar a orbitar ao meu redor. Ele me queria, estava na cara. E eu gostava de ser desejada. Quem não gosta? Adorava o joguinho de poder que ele fazia comigo, as frases de duplo sentido, aqueles olhares meio discretos do outro lado da sala de reunião. Eu estava gostando do jogo, o homem percebeu a retribuição e começou a dar bola para a mocinha da contabilidade. Pah: “Puta merda, ele era o amor da minha vida! Vou chorar por ele ouvindo Whitney Houston.”

Precisava desesperadamente ouvir que ele me queria e comecei até a fazer papelão para recuperar a atenção dele. Parecia que se me desejasse, me sentiria melhor. Mas, na verdade, não queria ele, precisava resolver a questão da rejeição. Era me convencer de que não houve menosprezo algum.

Tudo isso porque ainda trazemos conosco uma herança do machismo: se validar pelo fato de ter ou não um homem. E também porque a gente olha a rejeição como algo global, quando é apenas parcial. Está tudo bem não ser desejada por um cara que não tem nada a ver com você — mesmo que ele tenha as melhores costas da vida.

Amor é uma química complexa e raramente acontece. Isso é muito bom. Nem toda rejeição é rejeição, é só incompatibilidade. Não quer dizer que somos feias, chatas ou más (só de vez em quando, vai). Simplesmente, não aconteceu aquela compatibilidade absoluta entre vocês. Às vezes, não foram criados de jeitos parecidos, tiveram experiências de vida desconexas ou não têm personalidades complementares. Como isso é culpa sua? Arrisco dizer: é única e exclusiva responsabilidade do universo.

Amiga, a gente vale tanto, nenhum homem precisa contar isso para sabermos. Vamos parar de correr atrás de migalhas de quem a gente nem queria mesmo?

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