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Quatro livros para conhecer e compreender a China

De discussões diplomáticas a debates culturais, as obras apresentam panorama qualificado do país asiático

atualizado

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Spring and Autumn Pavilions, Lotus Pond, Kahosiung
1 de 1 Spring and Autumn Pavilions, Lotus Pond, Kahosiung - Foto: iStock

Já tinha lido bastante sobre a China, antes de visitar o país, em 2014. Saí convencido de que tinha de ter aprendido ainda mais para não ter ficado tão surpreso. Trata-se de outro mundo, em vários sentidos. A começar pelo fato de que, sem conhecer a língua, nos sentirmos analfabetos, afinal, nem conseguimos reproduzir o som dos ideogramas.

Apenas para terem uma ideia do tipo de surpresa: Cantão é uma cidade com cerca de 10 milhões de habitantes, mas o trânsito é mais razoável do que o de Brasília. Além disso, estávamos em janeiro e o mapa do metrô que estava nas mãos era de outubro. Pois bem, ele ainda não continha uma nova linha, com oito estações. Ou seja, entre outubro e janeiro, uma nova ferrovia brotou.

A China está nas nossas vidas, mas não nos damos conta. Pensando nisso, decidi fazer um pequeno apanhado de quatro livros interessantes em português — há muito material em inglês — para você que pensa em ter um pouquinho mais de informação sobre o fascinante país, além do habitual guia turístico.

Começo com “O que a China Pensa?”, de Mark Leonard, diretor do Conselho Europeu de Relações Internacionais. Trata-se de um mergulho, em linguagem bastante acessível, nos debates políticos contemporâneos que, para nós ocidentais, não aparecem. Depois de uma breve introdução sobre a história recente do país e suas transformações político-econômicas, o autor nos explica como funcionam algumas minúcias da geopolítica atual.

Leonard explica como se organiza a nova classe média, a nova classe dirigente, como ocorreram as mudanças internas que alteraram o modo como a China lida com a escassez de recursos, com o crescimento da ideia de democracia e com a noção de capitalismo. O livro é de 2008, e, em quase dez anos, muita coisa mudou.

Em seguida, vale a pena citar “Os Chineses”, da jornalista Cláudia Trevisan, com quem trabalhei na “Folha de S. Paulo”. O livro faz parte de uma bela coleção: “Povos e Civilizações”, da editora Contexto, que conta com outros títulos como “Os Americanos” e “Os Japoneses”, sempre apresentando um ponto de vista brasileiro sobre uma cultura específica.

Nesse caso, além de aspectos políticos e econômicos, somos apresentados também a características marcantes e, às vezes, engraçadas do cotidiano chinês típico. Trevisan alterna lupas diferentes para ir tecendo o quadro geral da China contemporânea. O modo como a nação lida com uma população mais de seis vezes maior do que a brasileira, a tradição, a relação do chinês com dinheiro e riqueza – numa sociedade nominalmente planificada -, as relações com os vizinhos asiáticos, as superstições e os conflitos entre o campo e a cidade são aspectos tratados no livro.

Para quem quiser voltar um pouquinho mais na história, há o excelente “De Mao a Deng”, do jornalista italiano Fernando Mezzetti, editado pela Editora da UnB. Mezzetti explica a rica história chinesa das décadas de 1950, 1960, 1970 e 1980. Quarenta anos de liderança desses dois homens.

A partir da relação entre os dois líderes, podemos compreender a passagem da China “da caserna e convento”, de Mao, para a China da abertura, de Deng. Essa etapa, aliás, é a base necessária para a compreensão plena dos dois livros anteriores. Muito do que ocorre hoje na China tem precedentes milenares, mas outros tantos fatores foram forjados exatamente no período compreendido nessa obras.

Mezzetti foi correspondente em Pequim no início da década de 1980 e descreve como ninguém essa transição de um modelo fundador para um modelo inovador, ainda que sem muita certeza de onde iria chegar.

Aí, depois de estar com olhos puxados de tanto ler sobre o Império do Meio, como os próprios chineses se referiam ao país; depois de estar familiarizado com as minúcias do país, poderá finalmente encarar “Sobre a China”, do ex-Secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger. O livro foi publicado no Brasil em 2011, pela Ed. Objetiva.

Kissinger foi o responsável pelo reestabelecimento das relações entre os Estados Unidos e a China, no final da década de 1970 e conheceu profundamente as relações de poder que organizavam o país. Considerando a quantidade de aspectos abordados na obra, desde uma síntese da história da China, até detalhes documentados das relações entre os dois países, a quantidade de páginas – 560 – é pequena.

Focado nas relações internacionais da China, Kissinger nos explica como o país se relacionava historicamente, com sociedades vizinhas, consideradas menos avançadas e, posteriormente, com os EUA, a partir de outra chave. Abra o olho e divirta-se!!

Agenda de Lançamentos:
– Nesta quarta (9/8), a partir das 17h, Beirute Asa Sul (109 Sul) – ” Brasilírica – Antologia Poética, 40 anos”, Nicolas Behr

– Neste sábado (12), a partir das 19h, Carpe Diem (104 Sul) – “Jogo de Palavras”, Nauza Martins

– Na próxima terça-feira (15), a partir das 19h, Carpe Diem (104 Sul) – “Assim é a velha Política”, Hélio Doyle

Revolta Bancária

A partir de hoje
irei talhar

os elos de minha
conta corrente

darei fim aos juros
que não jurei

tornar-me-ei
inadimplente

e se o meu nome sujar

passarei a atender
pelo apelido

Rêgo Júnior, “Zigoto das Palavras” (2015)

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