metropoles.com

Quando um cachorro chega na casa impecável e bagunça nosso coração

Adotei um bichinho e a casa revirou de cabeça para baixo, no melhor sentido possível da expressão

atualizado

Compartilhar notícia

1 de 1 - Foto: null

Adotei uma cachorrinha.

Aqueles momentos da vida que a gente não sabe se está salvando o bichinho ou se é ele, na verdade, que está salvando a gente.

Pretinha encarou apavorada o primeiro elevador da sua vida e adentrou o apartamento em seu estado impecável de arrumação. Chão de madeira limpinho, tapete geométrico de algodão perfeitamente esticado, mesa de centro no centro. Sofá escuro sem um fiozinho de lã.

Pretinha adentrou também na vida de uma família se recuperando de mudanças, com os corações bem menos organizados do que a sala de estar.

Em quatro dias a decoração virou do avesso.

O edredom antigo coberto com uma canga atoalhada virou caminha improvisada no meio da sala. O sofá coleciona fiapos de pelo. A cama do meu filho levou um banho de pelo menos uns dois litros de xixi – daqueles amarelos, concentrados. Perda total do colchão.

Vira e mexe pisamos em pinguinhos de baba pelo chão. Para entrar na cozinha, só desviando dos potes de ração e água. A máquina de lavar nunca trabalhou tanto. E a área de serviço agora conta com folhas de jornal do mês passado sobre a cerâmica.

A mesa de centro não está mais no centro. O tapete está todo fora de prumo. O cheirinho de flor de cerejeira do meu difusor agora divide o apartamento com o cheirinho de casa com cachorro. O quadro gigante do corredor virou eventual barreira no chão da cozinha para os momentos em que vamos deixá-la sozinha nessa adaptação.

E tudo bem.

Entre tanta bagunça, a casa também tem mais sorrisos, mais serenatas, mais descontração, mais movimento. As noites no computador agora viraram longos passeios pela rua, com música boa nos fones de ouvido e caneca térmica com chá, sob a chuva fininha de dezembro. As maratonas de séries na televisão são acompanhadas pelo pedido intermitente por um pouco mais de carinho. Cozinhar não é mais tarefa solitária, sempre sob a vigília gulosa e curiosa dela.

A casa impecável nunca mais vai existir para a gente. Em tantos sentidos que nem cabem aqui. Mas essa bagunça tão bonita é, certamente, minha nova parte preferida do lar.

Obrigada, minha Pretinha.

Compartilhar notícia