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Diante do fim do mundo, é hora de começar as aulas para o futuro

Bolsonaro vai passar, e nós temos que achar um jeito de sobreviver a este Brasil surtado, porque as nossas vidas não têm mandatos de 4 anos

atualizado

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Gui Prímola/Metrópoles
Ilustração para coluna de Anderson França sobre educação e o futuro do Brasil
1 de 1 Ilustração para coluna de Anderson França sobre educação e o futuro do Brasil - Foto: Gui Prímola/Metrópoles

Nós precisamos fazer alguma coisa, além de olhar esse barco afundar.

Eu sei que é muito abstrato esse negócio de “vamos fazer algo”, e não apontar uma direção. Mas nós estamos buscando uma saída política, e estamos certíssimos nesse rolê. Só que o nosso caso não é apenas sobre saída política, e sim sobre educação e futuro.

Porque se a gente continuar votando como votou nos últimos anos, não vai ter proposta política válida que chegue ao poder. Não sai nem do papel, por melhor que seja. Não adianta,

um povo que não tem educação crítica, que não sabe ler e que não entende a realidade, não vai fazer grandes coisas com um título de eleitor na mão.

É isso: não adianta derrubar as estátuas e não as pessoas que ergueram as estátuas. Derrubar os projetos políticos das pessoas que ergueram estátuas para genocidas. Derrubar sistemas que oprimem pobres, negros e mulheres. E tudo passa pela educação. Tudo.

Temos que pensar em duas frentes de educação. Pra crianças, que crescem num Brasil surtado. Que referencial essa criança vai ter? Ben 10?

Que pilares nós temos? Que democracia? Que ordem social? O que ficou no lugar? Nada, NADA, amado irmão, amada irmã em Cristo. Né mole não, vagabundo, Venezuela pra nós virou Beverly Hills.

E pra gente que já tá todo esmiuçado e escangalhado nas tabela, só resta reduzir o ódio e estudar algo que garanta nossa mobilidade profissional e de sobrevivência econômica nos próximos meses ou anos.

Tem alguns anos que eu criei um projeto na Kelsons, última favela da Maré, onde virou um caminhão de carne hoje e o povo avançou (não julgo, faria o mesmo).

Chamava-se Universidade da Correria. Em 4-6 meses formávamos empreendedores, a maioria mulheres, para criar pequenos negócios. Tipo um Sebrae, só que com uma linguagem acessível. Em cinco anos, formamos 4.300 alunos. Viramos referência. Estou falando aí de 2013, muito antes de vocês pensarem nisso.

Hoje, estamos criando, sem dinheiro, sem nada, só com voluntários, núcleos da Universidade da Correria na Itália, na França, em Oakland, em Lisboa e no Rio. Vamos apoiar migrantes, ilegais, hispanos, negros, LGBT.

E tudo isso, on-line. Usando Whatsapp, Telegram, Zoom. Porque não temos recursos, nem site, nada. Mas temos um celular, e conteúdo.

A pandemia veio para provar que os meios digitais são capazes de educar e transformar. Não precisa nem PDF. É abrir a câmera, e falar com um grupo de pessoas numa “sala” virtual.

E precisamos fazer isso, urgentemente, não nos importando se há recursos ou não. Porque chegamos à linha final de um tempo.

Não apenas porque em Israel conseguiram fazer carne plant based ou vegana, em impressora 3D. Chegamos ao final de um tempo, porque o mundo colapsou e se você ainda não vê isso, aguarde. Vai bater à sua porta.

Tenho dezenas de amigos desempregados, em luto, ou ambos. Muitos divórcios estão acontecendo nesse período. Em Wuhan, na China, logo após a pandemia e o isolamento deles, foi registrado um record de divórcios. A vida sexual mudou. Grupos antiporn continuam condenando a indústria pornô, que cresceu em acessos vertiginosamente e mais de 80% dos usuários em smartphones são mulheres, não homens. Encontros na escada do prédio, em parques, no carro. O adultério é outro. Até dentro do banheiro de casa, on-line. Casais foram destruídos, outros nasceram nesse tempo.

A educação pode seguir esse tempo, e antes, se a educação à distância era secundarizada, agora parece que é o hype.

Pense comigo. Quem é o grupo na sua cidade que precisa, e mais: o que VOCÊ precisa e tem pensado como plano B, C, D pra sua vida, no momento em que lê essa coluna, até dezembro.

Precisamos parar de pensar um pouco em Bolsonaro, que suga nossas energias, e pensar em nós mesmos, as pessoas que vão continuar aqui depois que ele partir, porque nas nossas vidas não cumprimos mandatos de 4 anos.

Educação. Celular. Coragem.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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