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Uso de maconha e citocina inflamatória aumentam chances de psicose

Estudo da USP pode ajudar na descoberta de novos tratamentos, mas resultados não têm relação com uso de medicamentos à base de cannabis

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Folhas da planta cannabis sativa, conhecida como maconha
1 de 1 Folhas da planta cannabis sativa, conhecida como maconha - Foto: GettyImages

Foi revelado em um estudo feito por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, em São Paulo, que usuários regulares de maconha que possuem no sangue citocinas inflamatórias células liberadas em casos de infecções – têm até cinco vezes mais chances de desenvolver psicoses.

A pesquisa foi publicada na revista Psychological Medicine e faz parte de um projeto promovido por um consórcio internacional que reúne 17 centros de seis países.

Os cientistas analisaram dados de 409 indivíduos, com idades de 16 a 64 anos. Os voluntários responderam algumas perguntas sobre a experiência com a maconha, como o tempo e a frequência de uso, além de passar por um exame para verificar o nível de citocinas plasmáticas no sangue.

A professora Cristina Marta Del-Ben, que conduziu o estudo, verificou que a inflamação baixa no sangue e o uso regular da droga são capazes de aumentar a probabilidade de surtos psicóticos mesmo isoladamente. Entretanto, quando os dois fatores ocorrem em um mesmo paciente, o risco desses surtos aumenta consideravelmente.

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“O indivíduo que tem um estado inflamatório de baixo grau tem risco aumentado para psicose. O indivíduo que usa maconha diariamente tem um risco aumentado para a psicose. Mas quando a gente tem a combinação dessas situações, o risco fica ainda maior. Isso é o que a gente chama de efeito de moderação” pontua.

Ela destaca, porém, que a pesquisa ainda não é conclusiva quanto aos motivos para a presença das inflamações no sangue. Contudo, Del-Ben afirma que estudos preliminares mostram que experiências enfrentadas durante a vida podem influenciar.

“Uma hipótese é de que esse sistema imunitário estaria ativo, teria sido sensibilizado durante a vida. A hipótese é, durante a gestação, que a mãe tem algum tipo de infecção, e esse sistema fica mais ativo, mais provocado”, salienta.

Sem relação com medicamentos

Mesmo que exista a relação entre o uso regular da maconha e as psicoses, a professora explica que o risco não se aplica aos tratamentos com remédios à base de cannabis, porque a maioria dos medicamentos não possui THC, princípio ativo responsável pelos efeitos psicoativos da maconha, e sim o canabidiol.

“O que está associado com a psicose é o THC. Tem um outro princípio, que é o canabidiol. O canadibiol não tem essa associação com a psicose. É diferente do indivíduo que está usando canadibiol para efeitos medicinais. O THC tem algumas indicações médicas mais específicas. É importante separar isso. É importante a gente pensar nos princípios ativos.”

Os pesquisadores têm a expectativa de que os resultados observados possam servir para a descoberta de novos tratamentos a médio e longo prazos.

“É uma possibilidade de testes de novos alvos terapêuticos. Há alguns estudos nesses sentido, que apontam para essa possibilidade de que o uso de medicamentos que modulam o sistema imunológico talvez venha a ter efetividade também nos transtornos psicóticos”, explica a professora.

As próximas etapas da pesquisa devem avaliar também outros possíveis efeitos da presença de citocina no sangue.

“Estamos tentando entender melhor quais são os mecanismos envolvidos nesse estado inflamatório de baixo grau, tentando entender outras células do sistema imunológico, tanto em humanos quanto em modelos animais. Entender como esse estado inflamatório interage com outras substâncias presentes no cérebro”, finalizou Del-Ben.

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