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Sem atendimento no SUS, paciente pega empréstimo para pagar cirurgia

Levantamento mostra que os três principais hospitais do sistema em São Paulo internaram 20 mil pessoas a menos que em cinco anos antes

atualizado

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Marcelo Casal Jr./Agência Brasil
SUS sistema único de saúde
1 de 1 SUS sistema único de saúde - Foto: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil

Principais unidades de referência do Sistema Único de Saúde (SUS) em São Paulo e responsáveis pela formação de alguns dos maiores especialistas do Brasil, os Hospitais São Paulo, das Clínicas e da Santa Casa de Misericórdia internaram, no ano passado, 20 mil pacientes a menos que cinco anos antes.

Levantamento inédito feito com base em dados do Ministério da Saúde divulgados no portal Datasus, mostra que entre 2011 e 2016 o número de doentes hospitalizados nas três unidades passou de 113,7 mil para 93,7 mil, uma queda de 17%. O dado chama ainda mais a atenção se considerado o aumento da população no período (2,9%) e o crescimento do grupo de paulistanos que perderam o plano de saúde por causa da crise econômica — fenômenos que indicam maior demanda pelos serviços públicos.

A queda nas internações nesses hospitais também tem dificultado a vida de pacientes que precisam de cirurgia ou atendimento de urgência na cidade. Há quem recorra a empréstimo bancário para pagar pela própria cirurgia. É o caso da auxiliar de administração Gisele Celso, 34 anos.

Com dor de cabeça e problemas na visão, ela procurou o pronto-socorro do Hospital São Paulo no início do mês. Porém, soube que a unidade estava atendendo apenas emergências. A mãe da paciente, a auxiliar de limpeza Maria Amélia Celso, 52, conta que o atendimento ocorreu apenas após a filha “brigar” com os profissionais do local, exigindo que passasse pelo menos por um exame.

A tomografia detectou tumor no cérebro e a paciente foi internada. Antes de passar pela cirurgia para remoção da lesão, Gisele ainda ficou quatro dias internada no corredor do hospital.

“É triste, mas é melhor que ela fique no corredor do que não ter onde ficar”, diz a mãe da paciente. A reportagem não conseguiu mais contato com a paciente após o dia 10, data da cirurgia.

Fila
Já o comerciante Isin Pereira da Silva, 64, ficou um ano e quatro meses na fila de espera para uma cirurgia de catarata no HSP, mas, sem conseguir passar pelo procedimento, procurou uma clínica particular. “Eu praticamente não estava enxergando”, afirmou.

Para pagar o procedimento, no valor de R$ 7,5 mil, a família precisou pedir um empréstimo de R$ 4 mil. “A gente se mobilizou, juntou todo mundo. Uma parte passou no cartão, outra fez o consignado”, disse a balconista Cláudia Pereira da Silva, de 35 anos, filha do comerciante.

Paciente do Hospital das Clínicas, a gerente de vendas Edna Paiva, de 62 anos, está há um ano na fila para fazer a segunda etapa de um procedimento cirúrgico relativo a um cálculo renal.

“Primeiramente implodiram as pedras no rim e tinham de, em seguida, fazer a cirurgia para removê-las, mas estou esperando desde novembro”, conta. A assessoria do hospital informou que a cirurgia seria realizada até o fim deste mês.

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