Busca

HPV: com ampliação de público-alvo, Saúde tenta elevar vacinação de meninos

Público masculino também é afetado pelo vírus causador do câncer de colo de útero, com outras manifestações cancerígenas

Nas últimas semanas, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde aumentou o público-alvo para vacinação contra o papilomavírus humano (HPV). Agora, meninos com 9 e 10 anos também estão elegíveis para receberem o imunizante de forma gratuita no sistema de saúde público brasileiro.

Meninas e meninos de 9 a 14 anos passam a compor o grupo a que se destina a vacina do HPV no PNI. A cobertura vacinal, contudo, continua baixa: a média dos estados brasileiros é de apenas 36,15% dos meninos vacinados e 55,62% das meninas, de acordo com dados do Ministério da Saúde. A realidade se distancia, e muito, do objetivo mínimo da pasta: ter ao menos 80% dos jovens protegidos.

Para a presidente da Comissão de Revisão de Calendários Vacinais da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, o tabu e a falta de conhecimento distanciam o público masculino das salas de vacinação. “Os meninos também são vítimas [de doenças causadas pelo HPV]”, relembra. Ela destaca duas, com aumento global na identificação de casos: câncer na cabeça e pescoço (orofaringe) e no ânus.

“Essa vacina merece muita explicação. Não é necessário associá-la ao sexo, a quem tem vida sexual. A recomendação é de que a vacinação seja feita antes de haver formas de contato sexual”, esclarece Mônica.

O número da cobertura vacinal diz respeito ao público vacinado, de forma acumulada, desde que o imunizante foi disponibilizado no PNI, em 2014. Os estados que menos vacinaram meninos de 9 a 14 anos são Acre (14,31%), Amapá (22,37%), Pará (24,24%), Rio de Janeiro (25,70%) e Rio Grande do Norte (28,42%). No caso das meninas, os estados se repetem, mas em ordem diferente: Acre (31,67%), Pará (45,31%), Rio Grande do Norte (45,63%), Rio de Janeiro (45,95%) e Amapá (47,13%).

Já os estados que mais vacinaram meninos são Paraná (62,49%), Santa Catarina (53,31%), Espírito Santo (51,10%) e Minas Gerais (50,02%). As unidades da federação também são as mesmas que mais imunizam as meninas.

Empecilhos

No comunicado emitido para coordenadores estaduais de imunização que fixou a ampliação do público-alvo da vacina, a coordenadora-geral do PNI Adriana Regina Pontes Lucena demonstra preocupação com a baixa cobertura.

“Apesar da segurança e efetividade dessa vacina, são preocupantes os dados de cobertura vacinal, especialmente os referentes à segunda dose e no sexo masculino, resultando, assim, em um maior contingente de não vacinados no país, e sem a proteção devida para as infecções causadas pelo HPV e seus efeitos deletérios”, afirma. Lucena também corrobora a importância de criar medidas que aumentem a adesão dos adolescentes à campanha de vacinação.

A desinformação também tem sua parcela de culpa: “A vacina do HPV é uma das preferidas dos antivacinistas. Já foi cercada de tabus e mentiras, toda vez que inventam uma nova teoria a ciência vai lá e desmarcara”, diz Mônica Levi. Na visão da especialista, o imunizante também é menos recomendado por médicos: “Muitos profissionais nem tocam no assunto, não fazem prescrição como fazem para outras vacinas. A menina muitas vezes só vai ver ali no ginecologista com 15 ou 16 anos, quando já não é mais coberto pelo sistema de saúde”.

Para aumentar a adesão, Mônica ressalta a importância de aliar as campanhas de imunização ao conteúdo trabalho nas escolas. “Os adolescentes precisam entender o que é o HPV, os riscos da doença e os benefícios da vacinação. Quando se faz esse trabalho, a adesão é altíssima”, pontua.

Sair da versão mobile