Quadrilha lavava dinheiro do tráfico vendendo falsas pílulas do câncer
Esquema investigado pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul também atuava na revenda de veículos de luxo e mercado de pedras preciosas
atualizado
Compartilhar notícia
Uma quadrilha do Rio Grande do Sul usou a esperança de cura de pacientes com câncer para lavar dinheiro do tráfico de drogas. O grupo comercializava a polêmica “pílula do câncer”, a fosfoetanolamina, por meio da internet, a partir de Miami (EUA). As cápsulas, porém, nem sequer continham a substância na composição, informou à Veja o delegado Marcio Zachello, da Delegacia de Repressão ao Crime de Lavagem de Dinheiro (DRLD).
A reportagem lembra que, no Brasil, a venda da fosfoetanolamina é proibida por falta de eficácia comprovada, mas usuários podem importá-la como suplemento alimentar. A descoberta da Polícia Civil é resultado da Operação Placebo, deflagrada na última quinta-feira (4/1). A operação investiga o tráfico de drogas em Porto Alegre e na região metropolitana.
A polícia também investiga a lavagem de dinheiro a partir da revenda de carros de luxo, do mercado de pedras preciosas, de empresas offshore nos Estados Unidos e no Uruguai, e do comércio de fosfoetanolamina falsa.Apreensões
Uma coleção de 27 veículos de luxo, como Corvette, Jaguar e Mercedes, avaliados em milhões de reais, foi apreendida. A Veja afirma que a polícia cumpriu oito mandados de busca e apreensão em Porto Alegre, Viamão, Alvorada e Canoas. Dezesseis passaportes foram retidos, houve o bloqueio de 33 contas bancárias, e uma pessoa foi presa em flagrante, mas acabou solta após pagar fiança de R$ 50.000. Além disso, os policiais encontraram 130 frascos contendo 90 cápsulas de fosfoetanolamina falsa.
“A investigação iniciou-se há quatro meses, com foco na lavagem de dinheiro do tráfico. Porém, enquanto desenvolvíamos a apuração, descobrimos que um dos investigados comercializava a fosfoetanolamina”, contou o delegado Marcio Zachello à Veja. Enquanto a polícia investigava, a RBS TV, de Porto Alegre, descobriu o esquema da fosfoetanolamina e enviou cápsulas para a Universidade de Campinas (Unicamp), a qual detectou a ausência da substância nas pílulas.
Outro lado
Entretanto, o advogado Daniel Gerber, quem defende a fabricante do suplemento Phospho Ethanolamine, sustenta que “a investigação nasceu por força de declarações falsas que trazem por objetivo prejudicar comercialmente a empresa e os consumidores de um produto aprovado pela própria FDA norte-americana, situação esta que já está sendo devidamente esclarecida às autoridades públicas”. De acordo com a Veja, a empresa é o Laboratório Federico Diaz, com sede no Uruguai, e nega irregularidades na fabricação e comercialização do produto.
Por sua vez, a empresa Quality Medical Line, a qual comercializa fosfoetanolamina em Miami, alega que o suplemento segue todas as regras exigidas nos Estados Unidos para sua comercialização. Ainda, nos testes exigidos pelo governo norte-americano, “os resultados apontaram exatamente as mesmas concentrações apontadas no rótulo do suplemento”, destacou a Quality. Ao contrário do indicado pelo teste citado pela polícia, as cápsulas contêm fosfoetanolamina, defende a empresa.