O senador José Serra (PSDB-SP) propôs um Projeto de Lei Complementar (PLP) para limitar os gastos públicos durante o período eleitoral. Se aprovado, o governo federal ficará obrigado a encaminhar ao Congresso Nacional um relatório de perspectivas econômicas e fiscais antes das eleições.
O relatório, além de levar em conta todas as informações econômicas e fiscais disponíveis, deverá, entre outros itens, incluir a projeção de custo do cumprimento de cada programa dos ministérios que integram o governo.
Qualquer nova despesa pública deverá ser compatível com o que consta no documento. “O relatório de perspectivas econômicas e fiscais pré-eleitorais deverá ser assinado pelo presidente da República e pelo ministro da Economia, sendo que a não veracidade das informações implicará crime de responsabilidade”, propõe.
Se constatadas irregularidades, qualquer senador ou deputado federal poderá solicitar inspeção ao Tribunal de Contas da União (TCU) para verificar se, durante o período eleitoral, o governo mantém o cumprimento do relatório.
Contexto
O projeto tem como pano de fundo os gastos realizados pelo governo federal durante a pré-campanha e o início da campanha eleitoral à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). O pacote de medidas que buscava diminuir a rejeição do presidente com benefícios sociais ficou conhecida como “PEC kamikaze”.
“Evidenciou-se um uso inédito da máquina pública com objetivo eleitoral, sem nenhuma lógica econômica, deixando, sim, um buraco fiscal imenso”, justifica o senador José Serra.

Como o próprio nome sugere, a PEC dos auxílios é uma proposta de emenda à Constituição que tem como objetivo estipular um pacote de R$ 41,25 bilhões para reduzir, por meio da ampliação de auxílios e criação de novos benefícios sociais, o impacto dos aumentos sucessivos nos preços dos combustíveis Jefferson Rudy/Agência Senado

Milhões de brasileiros são beneficiários do Auxílio BrasilVinícius Schmidt/Metrópoles

Também consta na lista de benefícios a criação de um auxílio financeiro que deverá ser pago a motoristas de táxi para abastecimento do veículo profissional, ao custo de R$ 2 bilhões. Outros pontos da matéria são: ampliação do Vale-Gás, para o equivalente ao preço de um botijão por bimestre, medida orçada em R$ 1,5 bilhãoFelipe Menezes/Metrópoles

Criação de um voucher mensal de R$ 1 mil para caminhoneiros autônomos. A medida, que custará R$ 5,4 bilhões, contempla apenas os caminhoneiros com Registro Nacional do Transportador Rodoviário de Carga (RNTRC) Vinícius Schmidt/Metrópoles

Os R$ 3,35 bilhões restantes servirão para assegurar o atual regime especial e a diferenciação tributária do etanol, em comparação com a gasolina. A União se propõe, ainda, a ressarcir estados que aderirem à gratuidade para idosos nas passagens de transporte públicoRafaela Felicciano/Metrópoles

Segundo especialistas, o resultado de um rombo de R$ 41 bilhões aos cofres públicos pode gerar repercussão negativa no futuro, em função do processo de deterioração fiscal. Isso porque a PEC pode provocar desequilíbrio e prejudicar a renda das famílias brasileiras a longo prazoThiago S. Araújo/Especial para o Metrópoles

Tribunal de Contas da UniãoFelipe Menezes/Metrópoles

A PEC dos Auxílios prevê, ainda, que eventuais despesas extras com benefícios sociais em 2022 não serão contabilizadas no limite de teto de gastos, impedindo a regulação de outras regras fiscais que exigiriam cortes de despesas para compensar o gastos extras, por exemploMichel Jesus/Câmara dos Deputados

O teto de gastos é considerado um dos principais fatores de estabilidade econômica do país. Desrespeitá-lo, portanto, é visto por analistas como um sinal de incerteza que resulta em maior volatilidade do câmbio e das taxas de juros do mercado financeiroMyke Sena/Especial Metrópoles

Dessa forma, na prática, o cenário de desconfiança pode ocasionar uma desvalorização do real, e um potencial de elevação dos índices inflacionáriosHugo Barreto/Metrópoles
Inspiração internacional
O projeto altera a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). De acordo com a proposta, o intuito é impedir o abuso nos gastos públicos durante o período do pleito e promover maior transparência no Brasil.
O projeto se inspira na Lei de Responsabilidade Fiscal da Austrália. “A Austrália é uma referência internacional no controle dos gastos públicos, tendo ficado cerca de 25 anos sem déficit, situação que só se inverteu devido à pandemia”, diz o texto.