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Primeiro fisiculturista cadeirante de MT é ovacionado em campeonato estadual

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Primeiro fisiculturista cadeirante de MT é ovacionado em campeonato estadual

Leandro Gaio, 35 anos, poderia ter desistido de tudo quando se tornou paraplégico. Professor de capoeira, corredor e empresário, ele viu uma bala virar sua vida de cabeça para baixo. Mas ele foi maior que as limitações, perdeu 22 quilos, se tornou fisiculturista e hoje é um exemplo de superação.

O atleta competiu nesse sábado (19) no Campeonato Mato-grossense de Culturismo 2018, que contou com 76 atletas, divididos em oito categorias. Leandro foi o único cadeirante da competição, aliás, é a primeira vez que a Federação Mato-grossense de Culturismo, Musculação e Fitness tem um atleta na categoria especial.

A emoção de estar no palco estava nos olhos de Leandro e ele iluminou o campeonato. Seja em sua apresentação, ou no discurso feito depois de sua premiação, Leandro foi, a todo momento, ovacionado pelo público – o teatro da Escola Estadual Liceu Cuiabano estava lotado.

O LIVRE estava lá e, junto ao público, vibrou ao ouvir o árbitro principal dizer que esperava por Leandro no campeonato brasileiro. O que, pouco antes, ele havia afirmado à reportagem que era seu atual sonho. Ele nasceu em Presidente Medici (RO) e já não mora em Mato Grosso, mas quando se filiou à FMCMF morava em Campos de Júlio (MT) e, por isso, representará Mato Grosso nos campeonatos do mundo todo.

Se preparando com treinos duas vezes ao dia (musculação de manhã e crossfit a noite) e muita dieta, Leandro brilhou nos palcos e mostrou para todo mundo que também brilha na vida.

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A lesão

Foi no dia 02 de janeiro de 2012 que a vida de Leandro mudou. Ele estava em uma viagem de fim de ano com a família, em Rondônia, já voltaria para Mato Grosso no dia 03. Estava a caminho da casa em que estava hospedado, tinha acabado de treinar.

Ele estava dirigindo um carro, deu seta e um motociclista passou entre a calçada e seu carro, tentando o ultrapassar. Os dois colidiram.

Preocupado, Leandro desceu rapidamente do carro e perguntou se o motociclista estava bem e precisava de algo. Imediatamente o homem reagiu tirando uma arma e apontando para Leandro.

Eu falei ‘não, não quero confusão’. Ele já foi apontando para mim. Tentando fazer algo, decidi correr para atrás do carro. Eu só senti o tiro e nesse momento já não senti mais minhas pernas. O projétil acertou minha coluna, entre a T9 e a T10”, contou o atleta.

O homem não foi preso pelo crime, a única informação que Leandro conseguiu foi que ele era um fugitivo da cadeia de Rondonópolis.

Professor de capoeira, Leandro corria 10 km todos os dias e amava dançar. “Era o famoso pé de valsa antigamente”, disse aos risos. De repente, se viu perdendo a possibilidade de fazer tudo que amava.

Primeiro viveu uma crise, corretor e empresário, precisou largar o emprego e se dedicar totalmente a tratamentos.

“Mas hoje eu olho o passado como boas lembranças. A cadeira vai me impedir de dançar? Você não vê muito cadeirante dando tapa na cara da gente? É isso que a gente tem que fazer, dar um tapa na sociedade e mostrar que nós somos capazes de dançar, escalar, somos capazes de tudo. Quando você quer você consegue, depende de você, não depende da sua família, nem de ninguém, depende da sua força de vontade”, disse o atleta.

O esporte

Sedentário e depressivo, Leandro se viu muito acima do peso. Em meio à tristeza decidiu que iria mudar de vida. Tirou uma foto e resolveu que um dia diria para o homem da foto que tinha conseguido mudar.

Passou a treinar, pegou firme na dieta e os resultados vieram. Foram 18 meses de preparação até estar pronto para os palcos. Ele não queria só mudar, queria mostrar para o mundo que ele – e todo deficiente – era capaz de conseguir tudo que quisesse.

“Eu era uma pessoa totalmente sedentária e hoje estou buscando melhorar a cada dia. Mostrando para muitos, que não têm deficiência nenhuma, que ficam em casa no seu comodismo, que a gente tem que seguir em frente, onde há vida, há esperança, temos que mudar essa situação”, afirmou Leandro.

Foram 22 quilos deixados para trás. No início cortou açúcar e refrigerante, tirou quase todo sal da comida e passou a comer somente alimentos saudáveis.

Casado há 16 anos, junto à esposa tem um casal de filhos, o mais novo, de 12 anos, quer seguir o exemplo do pai e ser atleta. Na escola, já conta a todos, com orgulho, a trajetória do pai.

Mas não foi sempre assim. A princípio, a família não acreditou na mudança, o desafiou perguntando até onde ele iria com isso, mas, sempre convicto, ele disse: “vou até o pódio, vou trazer uma premiação para casa e vou mostrar para vocês que eu sou capaz”. E assim, o fez.

Passado o mato-grossense, agora quer se preparar para o campeonato brasileiro, torcendo para vencer e conquistar a vaga para o mundial. Para conseguir mais um título, Leandro busca patrocínios e apoio de um médico nutrólogo.

“Eu costumo dizer que não estou indo para me mostrar, mas sim para falar que sou capaz e que todo mundo é capaz de fazer a diferença na sua vida. Muitas pessoas que não têm deficiência acordam reclamando da vida. Eu não, já acordo agradecendo a minha vida, porque estou vivo e mostro para as pessoas que estou com muita saúde, graças a Deus”, disse Leandro, com o sorriso de quem estava realizando um sonho.

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