Trento admite ida a Las Vegas com senador. CPI diz que é Flávio Bolsonaro

Embora o diretor da Precisa não tenha revelado o nome do senador que o acompanhou, CPI tem informações de que seria o filho do presidente

Victor Fuzeira
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O diretor da Precisa Medicamentos, Danilo Trento, confirmou, nesta quinta-feira (23/9), à CPI da Covid-19 ter viajado a Las Vegas, nos Estados Unidos. Segundo senadores da comissão, a viagem contou com a presença de parlamentares, cujos nomes o depoente se recusou a revelar.

O senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou que o colegiado obteve informações de que Trento viajou na companhia de senadores e deputados, em missão para fazer lobby da implementação dos jogos de azar no Brasil.

“As informações que tenho são de que o senhor Danilo Trento foi tratar de um assunto em que tem muita gente interessada nesse governo, que é trazer a jogatina americana aqui para o Brasil; trazer cassino, trazer essa jogatina toda aqui para o Brasil, porque é uma forma boa de fazer lavagem de dinheiro, de sonegar imposto e de dar espaço para o crime organizado”, explicou o petista.

Costa narra que Trento e alguns parlamentares, cujos nomes não foram revelados, conversaram com “a máfia americana de Las Vegas”. “E as milícias que existem hoje continuariam tomando conta dos negócios pequenos, cobrando propina para alguém abrir, botar um espetinho para vender nas favelas e nos bairros pobres do Rio de Janeiro”, continuou.

Antes, o depoente foi questionado sobre sua relação com parlamentares e sobre a quantidade de visitas que teria feito a gabinetes do Congresso Nacional. Trento fez uso do silêncio constitucional para não se incriminar. Ele também se recusou a revelar o nome de qualquer congressista que tenha participado da viagem.

De acordo com informações trazidas pelo senador Eduardo Girão (Podemos-CE), tratava-se de um deslocamento pago com dinheiro público e organizado pelo senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).

“É uma viagem oficial, na época o presidente era o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP). A viagem foi autorizada em 17 de dezembro e requisitou a viagem entre 23 a 24 de janeiro de 2020”, leu o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

No pedido de solicitação de autorização para agenda oficial, obtido pelo Blog do Noblat, Flávio afirma sua ida aos Estados Unidos tinha o objetivo de “promover o turismo brasileiro no mercado internacional”, além de estimular “atração de cruzeiros marítimos para costa brasileira, investimento e instalação de novos resorts” no país.

Segundo o texto, o convite partiu de Gilson Machado Neto, à época presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur). Machado é o atual ministro do Turismo do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Nos EUA, Flávio se encontrou com representantes do Carnival Grupo, Royal Caribbean e Las Vegas Sand Corporation.

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A CPI encerra a semana com depoimento de Danilo Trento
Danilo Trento é empresário
Ele é diretor da Precisa Medicamentos
Trento negou ter relacionamento com Barros
O depoente auxiliou na intermediação da venda da vacina indiana Covaxin
Danilo Trento
Senador Renan Calheiros
Senador Omar Aziz (PSD-AM) foi procurado pelo ex-presidente Lula na semana passada
CPI ouve Danilo Trento

Além de diretor da Precisa, Trento é sócio da empresa Primarcial Holding e Participações, que tem sede em São Paulo no mesmo endereço da Primares Holding e Participações, cujo sócio é Francisco Maximiano, da Precisa.

Os dois viajaram juntos à Índia para as negociações relacionadas a testes de Covid-19 e à aquisição da vacina Covaxin.

Em depoimento à CPI no último dia 15 de setembro, o lobista Marconny Ribeiro Faria, ex-funcionário da Precisa, afirmou que Trento seria um dos donos da empresa. Tal informação era, até então, nova para a comissão.

Diálogos obtidos pela CPI no celular de Marconny Faria mostram uma conversa entre ele e Ricardo Santana, também lobista da Precisa, sobre uma articulação para prejudicar uma empresa concorrente à de Trento em um processo licitatório.

Trento também teria relações comerciais com o advogado Marcos Tolentino, suposto dono da Fib Bank, instituição que apresentou carta-fiança de R$ 80,7 milhões como garantia no contrato de compra da vacina Covaxin, negociado entre a Precisa e o Ministério da Saúde. Apesar do nome, a Fib Bank não é um banco, mas uma empresa de garantias fidejussórias.

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