Teich critica tratamento precoce: “Risco real para as pessoas”

Oncologista também criticou o desmonte dos hospitais de campanha antes da segunda onda de casos do novo coronavírus

Victor Fuzeira ,
Marcelo Montanini
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O ex-ministro da Saúde Nelson Teich rebateu, nesta quarta-feira (5/5), a frase “a ciência está dividida”, dita pelo senador Eduardo Girão (Podemos-CE), sobre a eficácia do chamado tratamento precoce da doença. O oncologista participa de sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid.

Teich afirmou que não havia estudos comprovando os benefícios do tratamento preventivo contra o novo coronavírus enquanto esteve no cargo de ministro. “[É] um tratamento precoce ou preventivo acompanhado de um risco que considero real para as pessoas. O mais adequado é esperar o resultado de um estudo clínico de melhor qualidade”, explicou.

Quando questionado, Teich afirmou que os médicos que receitam o uso do tratamento precoce são mais “incompetentes do que criminosos”. “É mais incompetência do que crime”, resumiu.

“Eu acredito que quanto a eles [profissionais de saúde], neste momento, com a informação que a gente tem hoje, é mais relacionado à competência. Se foi crime, eu não sei dar uma posição sobre isso. Em relação à parte ética, minha impressão é de que essa prescrição é inadequada”, defendeu.

O ex-ministro criticou a qualidade dos estudos que sustentam um suposto resultado positivo na recuperação dos infectados. Ele também se posicionou de forma contrária à “autonomia médica” para receitar os medicamentos.

“A autonomia médica tem que ser avaliada e acompanhada, porque, quando uma pessoa utiliza de forma inadequada os recursos, você pode estar prejudicando a sociedade, e isso é uma coisa que tem que ser discutida”, acrescentou.

A discordância entre Teich e Bolsonaro sobre ampliar o uso da cloroquina foi o que motivou a saída do oncologista da pasta. “Uma coisa é o presidente mostrar a caixa, e a outra é o remédio funcionar ou não. A minha indicação de um remédio depende de ter comprovação de funcionamento independentemente do que o presidente acha”, disse.

“O problema que vejo em liberar medicamentos de forma indevida [é que] você não sabe como será usado, se a dose será alta ou o que vai acontecer no dia a dia. Até para proteger a sociedade, temos que ter cuidado”, continuou.

“Faltou planejamento”

Teich também criticou a gestão de estados e municípios que optaram pelo desmonte dos hospitais de campanha que atendiam os infectados pela Covid-19.

“É uma discussão de estratégia. Sendo muito franco, a gente nunca sabe se vai ter uma segunda onde, se serão três. São escolhas que a gente tem que fazer como gestor. O que me parece ali é que faltou algum planejamento nessa saída. O ideal era que desativassem, mas que tivessem condições de reativá-los”, afirmou.

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Nelson Teich é a segunda autoridade a ser ouvida pelos senadores no âmbito investigativo da comissão parlamentar. Ele teve uma rápida passagem pelo Ministério da Saúde, ficando apenas 29 dias à frente do comando da pasta.

O primeiro a ser ouvido foi Luiz Henrique Mandetta, que sinalizou discordâncias com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre quais medidas deveriam ser adotadas para conter o crescimento de casos do novo coronavírus, logo no início da pandemia no país.

A CPI da Covid-19 tem o objetivo de investigar as ações e omissões do governo federal no enfrentamento à pandemia e, em especial, no agravamento da crise sanitária no Amazonas com a ausência de oxigênio, além de apurar possíveis irregularidades em repasses federais a estados e municípios.

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