Em audiência, Segovia diz que suas declarações foram “distorcidas”
Diretor-geral da Polícia Federal disse que em momento algum pretendeu interferir no andamento do inquérito que investiga Michel Temer
atualizado
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Em encontro com o ministro Luis Roberto Barroso na tarde desta segunda-feira (19/2), o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, disse que suas declarações à Reuters na semana passada foram “distorcidas e mal interpretadas” e que “em momento algum pretendeu interferir no andamento do inquérito, antecipar conclusões ou induzir o arquivamento”.
O posicionamento de Segovia consta em despacho proferido pelo ministro Roberto Barroso na noite desta segunda, após a audiência. No sábado, o ministro, relator do inquérito que apura suposta participação do presidente Michel Temer em irregularidades na edição do Decreto dos Portos, intimou o diretor-geral da PF a prestar esclarecimentos.
O motivo foi a repercussão causada por entrevista de Segovia à Reuters. À publicação, o diretor-geral indicou que a investigação contra o presidente seria arquivada.Minutos após conversar com a agência de notícias, o número um da PF recebeu o Metrópoles e defendeu que a exposição de investigados e do conteúdo das apurações só ocorra depois de encerrado o inquérito policial e após a Justiça decretar a quebra de sigilo – exatamente o contrário do que fez ao falar sobre a investigação sigilosa incluindo o presidente Temer.
Segundo o despacho de Barroso, na audiência desta segunda (19), Segovia se comprometeu “a não fazer qualquer manifestação a respeito dos fatos objeto da apuração”. O diretor-geral da PF chegou ao STF pouco antes das 17h e entrou no edifício por uma entrada privativa. Cerca de 30 minutos depois, deixou o prédio pelo mesmo acesso, evitando falar com a imprensa.
Reação negativa
As declarações de Segovia provocaram grande repercussão na última semana. Ao intimá-lo a se explicar, o ministro Barroso determinou que o diretor-geral da PF se abstenha de novas manifestações sobre o caso envolvendo o presidente Temer.
A ação que investiga irregularidades na edição do Decreto dos Portos teve início após a colaboração premiada do operador financeiro Lúcio Funaro. Segundo o delator, Michel Temer influenciou na aprovação da medida, para beneficiar empresas de seu interesse.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) também reagiu às declarações e pode instaurar procedimento para averiguar a conduta de Fernando Segovia: as medidas estão em análise, e a PGR pode até pedir seu afastamento do cargo se entender que ele está interferindo nas investigações.
As declarações do diretor-geral da PF foram repudiadas pela Federação Nacional dos Policiais Federais, que pediu “retratação pública” do gestor. Segovia também foi duramente criticado por entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF), o sindicato e a associação dos delegados de polícia do estado de São Paulo e o sindicato dos delegados federais paulistas.