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Randolfe Rodrigues: “Jairzinho paz e amor não é real. O bicho está contido”

Senador pelo Amapá, que tenta unir políticos de várias legendas para tirar Bolsonaro do poder, falou sobre mudança de postura do presidente

atualizado

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Marcelo Camargo/Agência Brasil
Senador Randolfe Rodrigues
1 de 1 Senador Randolfe Rodrigues - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) tem se dedicado à formação de uma frente política com o objetivo de tirar o presidente Jair Bolsonaro do poder. Nessa articulação, cujo objetivo principal, segundo ele, é a “defesa da democracia”, o parlamentar dialoga com um leque amplo de partidos, que reúnem na mesma mesa políticos como o ex-senador Cristovam Buarque (Cidadania-DF), o ex-deputado Roberto Freire (Cidadania) e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR).

Além desses personagens, que costumam trocar farpas cotidianamente, outras legendas já toparam entrar na conversa, como Rede, PSB, PDT e PV, legendas que devem estar coligadas no campo eleitoral, e eles ainda aguardam a adesão do PSol.

Em entrevista ao Metrópoles, Randolfe justifica a amplitude usando as características que identifica no atual presidente: “O Jairzinho paz e amor que está aí não é um Jairzinho real. Não nos iludamos”, observou, ao comentar a postura mais retraída de Bolsonaro, em discursos e entrevistas, nas últimas semanas.

“O bicho está contido porque o compadre dele, Fabrício Queiroz, foi preso. O compadre dele sabe das negociatas dele, aí ele está tutelado, está contido. Uma hora o bicho se solta. Não nos iludamos. Nós temos um presidente da República que é avesso à democracia”, afirmou Randolfe.

“Todos que, como eu, não aceitarem a situação que está aí hoje devem ser bem-vindos a este campo de diálogo. O que primeiro levou à proposta de formatação de uma frente tão ampla foi a defesa da democracia por causa dos rompantes autoritários do governo atual, do governo de plantão. A primeira razão foi essa, e essa razão ainda existe”, enfatizou.

Pandemia
Randolfe ainda defende que o presidente da República precisa ser responsabilizado pelas decisões equivocadas e omissões durante a pandemia do novo coronavírus, que já soma, apenas no Brasil, mais de 75 mil mortos.

“Nós temos agora uma tragédia humanitária, pela qual o presidente da República é o responsável. Temos que juntar todos”, destacou o senador, que considerou “prematura” a volta de atividades comerciais, bares, restaurantes e do futebol nesta fase da pandemia no país, que ainda apresenta resultados crescentes de mortes e contaminações.

Por isso mesmo, ele disse ter comemorado a vitória do Flamengo no campeonato carioca na última quarta-feira (15/7) com um “gostinho amargo.”

“É totalmente prematuro. Ao que pese celebrar a vitória do time do coração, mas fica um gostinho amargo, o reinício foi prematuro”, destacou. “Há quatro meses, Bolsonaro subestimou a gravidade do que viria a acontecer. A gente não pode deixar de lembrar que o presidente fez um pronunciamento tratando como ‘gripezinha e ‘resfriadinho’ a pandemia.”

“Ele disse que era mais inofensivo que o H1N1, que levou à morte 800 brasileiros. Ele só errou em pelo menos 1.000% na estimativa. É crime de responsabilidade um presidente da República se comportar dessa forma”, avaliou.

Gilmar x militares
Randolfe ainda criticou a troca de farpas entre o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e a ala militar do governo, após o magistrado ter declarado que o Exército compactua com um “genocídio” ao participar do governo.

“Eu sou do princípio que ministro, juiz, só pode falar nos autos, e militar só pode se pronunciar durante a guerra”, pregou.

“Porque o juiz vai julgar e o militar, conforme o artigo 142 da Constituição, deve obediência à ordem constitucional e à ordem jurídica”, justificou.

“Acho, inclusive, que o Supremo Tribunal Federal tem que se pronunciar somente nos autos dos processos das ações que forem movidas lá”, explicou.

Centrão
Ao falar sobre as articulações do presidente com o Centrão, que visa garantir um ambiente mais favorável ao governo no Congresso, o senador ainda classificou a origem de Bolsonaro como sendo um político “fisiológico”, que, em sua opinião, só ficou de fora do mensalão do PT porque era considerado de baixo clero.

“Bolsonaro voltou de onde ele nunca tinha saído. Ele sempre foi Centrão. Ele sempre foi desse núcleo fisiológico, que troca votos por vantagens, envolvidos em todos os escândalos de corrupção”, afirmou. “O Bolsonaro só não estava no mensalão porque ele não era líder do PP naquela época. O esquema envolvia os líderes partidários”, relembrou.

“[O Centrão] Trocou votos por concessão de antena de rádio e televisão na Constituinte, para dar cinco anos de mandato para o então presidente Sarney. Mais adiante, vendeu seus votos para aprovar a emenda da reeleição. Ingressou de mala e cuia nos esquemas do mensalão. Lembremos, os núcleos de onde partiram os mesmos escândalos do governo Lula foi a partir de Roberto Jefferson, principal defensor do governo de Bolsonaro”, destacou sobre um dos novos aliados do presidente.

 

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