Para 58%, Flávio Bolsonaro é culpado pelas “rachadinhas”, segundo Datafolha

Filho do presidente é mais responsabilizado entre eleitores com maior escolaridade e renda, ou que reprovam a gestão de Jair Bolsonaro

Flávia Said
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De acordo com pesquisa Datafolha, 58% dos brasileiros consideram o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) culpado, no caso das “rachadinhas” em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Do percentual restante, 11% o consideram inocente, e outros 31% não souberam responder.

Esta avaliação pela responsabilidade de Flávio é ainda maior entre os entrevistados com ensino superior (67%), renda familiar maior que 10 salários mínimos (76%) ou que reprovam a gestão do presidente Jair Bolsonaro (85%).

Mesmo entre os que aprovam a administração do governo federal, o percentual dos que consideram o senador culpado (37%) supera o dos que o veem como inocente (23%); 40% não sabem dizer.

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Senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ)
Senador Flávio Bolsonaro (RJ)
Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz

A taxa mais elevada favorável a Flávio é encontrada entre aqueles que declaram sempre confiar em Bolsonaro. Neste grupo, 29% consideram o filho do presidente inocente, enquanto 30% o julgam culpado, o que representa um empate técnico.

O Datafolha ouviu 2.016 brasileiros com 16 anos ou mais por telefone, em todas as regiões do país, nos dias 8, 9 e 10 de dezembro. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou menos.

Rachadinhas

Flávio Bolsonaro é investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) pela prática de rachadinha na época em que era deputado estadual na capital fluminense. O crime consiste no confisco de parte dos salários dos funcionários, o que caracteriza desvio de dinheiro público. O caso foi revelado em dezembro de 2018, depois da eleição de Bolsonaro para a Presidência e pouco antes de sua posse.

Em novembro, o MPRJ apresentou denúncia contra Flávio por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. O senador foi apontado como líder da organização criminosa, que teria desviado R$ 6,1 milhões entre 2007 e 2018, segundo os investigadores.

O policial militar aposentado Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio e amigo da família Bolsonaro há mais de 30 anos, seria o operador do esquema de corrupção.

O MPRJ aponta que parte do dinheiro desviado foi usado para pagar despesas pessoais do filho do presidente.

A investigação identificou ao menos uma oportunidade em que o PM aposentado pagou, com dinheiro vivo, boletos da escola das filhas do senador. A Promotoria afirma ser dinheiro da “rachadinha”.

No levantamento do Datafolha, sete em cada dez (71%) entrevistados afirmaram ter tomado conhecimento do caso. Declararam estar bem-informados 23%, enquanto 34% disseram estar parcialmente a par do tema, e outros 14%, mal-informados.

Entre o total de entrevistados, 58% consideram Flávio culpado. Já no grupo que declarou ter conhecimento sobre o caso, o índice atinge 71%, enquanto 10% avaliam que o senador é inocente, e outros 20% não opinaram.

Cheques para a primeira-dama

A quebra de sigilo bancário de Queiroz mostrou que, além de receber parte do salário de ex-funcionários do gabinete de Flávio, ele e sua esposa pagaram R$ 89 mil em cheques entre 2011 e 2016 para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Recentemente, o presidente afirmou que o dinheiro não era para Michelle, e, sim, para ele. Bolsonaro também afirmou que Queiroz pagava contas pessoais suas, mas não informou com que recursos.

A defesa de Flávio tenta anular as provas do caso no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o que poderia encerrar o caso antes do julgamento.

Os advogados do filho do presidente afirmam que as provas são ilegais porque foram autorizadas pelo juiz Flávio Itabaiana, de primeira instância. O Tribunal de Justiça decidiu que, nesta investigação, Flávio Bolsonaro tem direito ao foro especial no Órgão Especial, destinado ao julgamento de deputados estaduais, cargo que ele ocupava à época dos fatos.

A decisão do TJRJ foi tomada em junho, uma semana depois da prisão preventiva de Queiroz. Até aquele momento, Itabaiana também havia autorizado a quebra de sigilo bancário dos investigados, bem como buscas e apreensões em endereços ligados aos alvos. As provas colhidas em todas essas operações estão sob risco.

O MPRJ apresentou uma reclamação ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão do TJ, mas o ministro Gilmar Mendes, relator do caso, ainda não decidiu se o recurso será ou não julgado.

Com a indefinição, a denúncia apresentada contra o filho do presidente está parada no gabinete do desembargador Milton Fernandes, relator do caso no Órgão Especial.

O que diz a defesa

Depois de ter sido denunciado, Flávio Bolsonaro afirmou em suas redes sociais que o Ministério Público do Rio “comete série de erros bizarros” na denúncia. Em nota, a defesa disse que a denúncia já era esperada, mas não se sustenta.

“Dentre vícios processuais e erros de narrativa e matemáticos, a tese acusatória forjada contra o senador Bolsonaro se mostra inviável, porque desprovida de qualquer indício de prova. Não passa de uma crônica macabra e mal engendrada”, declararam os advogados.

“Acreditamos que sequer será recebida pelo Órgão Especial. Todos os defeitos de forma e de fundo da denúncia serão pontuados e rebatidos em documento próprio, a ser protocolizado tão logo a defesa seja notificada para tanto”, completa a nota.

A defesa de Queiroz, que cumpre prisão domiciliar, afirmou que não teve acesso à denúncia.

“Inaugura-se a instância judicial, momento em que será possível exercer o contraditório defensivo, com a impugnação das provas acusatórias e produção de contraprovas que demonstrarão a improcedência das acusações e, logo, a sua inocência”, afirmou o advogado Paulo Emílio Catta Preta.

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