Moro diz que Bolsonaro queria “relatórios” da PF e sai do governo

Ministro marcou pronunciamento logo depois de saber, na manhã desta sexta-feira (24/04), sobre a exoneração do diretor da Polícia Federal

Tácio Lorran
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O agora ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro confirmou a sua saída do governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Ele justificou a sua exoneração ao dizer que o presidente queria “interferir politicamente” na Polícia Federal ao exonerar, sem o seu conhecimento, o diretor-geral Maurício Valeixo.

“Sobre a exoneração de Valeixo, fiquei sabendo pelo Diário Oficial. Não assinei esse decreto”, disse. “Fui surpreendido, e achei que isso foi ofensivo”, prosseguiu. Moro destacou que, diante desse cenário, não teria mais como ser ministro. “Com essa exoneração, [Bolsonaro] mostra que não me quer no cargo”, assinalou o ex-juiz.

Ao destacar que teria recebido “carta branca” do presidente para nomeações na pasta quando foi convidado para assumir o posto, ele avaliou que a exoneração foi uma “violação” desse acordo e uma “interferência política” na PF. “Não é só troca do diretor-geral, havia também intenção de trocar superintendentes”, ressaltou.

“Presidente queria alguém para ligar, colher informações, colher relatórios de inteligência. Isso não é papel da Polícia Federal”, argumentou. “O grande problema não é tanto essa questão de quem colocar, mas por que colocar, e permitir que seja feita a interferência política no âmbito da Polícia Federal”, salientou.

Moro, no início da sua fala, destacou a aglomeração que um anúncio desse gera entre as pessoas, como jornalistas e membros do governo, em tempos de pandemia de coronavírus.

“Lamento esse evento na data de hoje, estamos passando por uma pandemia, da Covid-19, temos uma informação lamentável de 407 óbitos“, salientou. “Foi inevitável, mas peço a compreensão. Não foi por minha opção”, complementou.

Veja:

 

Carta branca
Moro contou nesta sexta-feira (24/04), ao anunciar a sua demissão, que recebeu carta branca do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para nomear cargos da pasta quando foi convidado para participar do governo.

“O que foi conversado com o presidente foi que nós teríamos um compromisso no combate à corrupção”, destacou, em entrevista coletiva.

Segundo Moro, o acordo envolvia “todos os assessores desses órgãos, como da Polícia Federal”.

O pronunciamento foi feito logo após a exoneração do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, a pedido do presidente Bolsonaro, diferentemente do que informou a secretaria de comunicação.

Histórico
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, fez o pronunciamento nesta sexta-feira (24/04) anunciando a sua saída após a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Valeixo.

Valeixo foi indicado pelo próprio ex-juiz da operação Lava Jato para a direção da PF.

Bolsonaro destacou, em rede social, que a exoneração foi feita “a pedido” de Valeixo. Moro negou, de forma peremptória, ter sido informado da decisão presidencial.

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