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Italo Marsili, cotado para a Saúde, não tem registro de psiquiatra, diz CFM

Também a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) nega que ele tenha registro da especialização

atualizado

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Italo Marsili
1 de 1 Italo Marsili - Foto: Facebook/Reprodução

Embora se intitule psiquiatra, e exerça a função como se o fosse, o médico Ítalo Marsili não possui registro da especialidade em psiquiatria. Marsili é o preferido da ala ideológica do governo para o Ministério da Saúde – e está em plena “campanha” para ser o terceiro ministro durante a pandemia do coronavírus. Nesta segunda-feira (18/05) ele desembarcou em Brasília e aguarda uma conversa com o presidente Jair Bolsonaro.

De acordo com o Conselho Federal de Medicina, Marsili tem seu registro regular como médico pelo CRM pelo Rio de Janeiro, inscrito desde 2010. No entanto, conforme o CFM, não consta especialidade registrada. O Código de Ética Médica (CEM), em seu capítulo XXI, “veda ao médico anunciar títulos científicos que não possa comprovar e especialidade ou área de atuação para a qual não esteja qualificado e registrado no Conselho Regional de Medicina (art. 115)”, segundo Resolução do CFM nº 1845, de 2008.

Também a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) informou que não há registro de Marsili como profissional da área. A ABP é responsável por emitir os títulos para todos os profissionais brasileiros. De acordo com o presidente da instituição, Antonio Geraldo da Silva, ninguém pode anunciar como sendo psiquiatra, quando não tem o Registro de Qualificação Específica (RQE) registrado no CFM.

“Posso te garantir. Ele não é associado da Associação Brasileira de Psiquiatria e não tem título de especialista em psiquiatria, que é dado por nossa associação para todos os psiquiatras brasileiros”, assegura Silva.

De acordo com o presidente da ABP, uma pessoa só pode se dizer especialista se tiver o Registro de Qualificação de Especialista (RQE). Esse registro, segundo a ABP, é emitido pelo CFM, por meio das unidades estaduais, os CRMs

No portal do CFM na internet, há um espaço para dúvidas. Em vários momentos, o órgão que regula o exercício da medicina no Brasil é claro: apenas títulos de residência registrados nos conselhos regionais são considerados regulares e autorizam o exercício da especialidade e qualquer anúncio sobre qualificação do profissional. Este é um dos caminhos.

O único outro caminho possível, explica o diretor da ABP, seria uma prova de título em entidades da área. No caso da psiquiatria, na ABP. “Aqui ele não prestou prova de título e não é associado”, diz.

Apesar disso, Marsili exibe o título em suas redes sociais e em qualquer oportunidade que surge. Ele se apresenta nas redes como “psiquiatra católico”. O médico é dono de um canal no YouTube, no qual exibe uma série destinada a autoajuda intitulada “Guerrilha Way”.  Nesta série, ele já lançou vídeos intitulados como “Pancadão guerrilha”, que tratam de sua teoria “contra o vitimismo”.

Uma das informações que ostenta como se fosse uma qualificação inegável em seu currículo é o fato de já ter morado com o autodidata e professor on-line de filosofia Olavo de Carvalho, chamado de “guru do bolsonarismo”. Os dois teriam morado juntos no estado da Virgínia, nos Estados Unidos, onde hoje reside Carvalho, entre 2007 e 2008.

Atualmente, o escopo da Residência Médica em Psiquiatria tem um caráter holístico e envolve aspectos da psicofarmacologia, da neuroimagem e da genética. Os três anos de Residência Médica em Psiquiatria abarcam, segundo o MEC, uma carga horária mínima de 2.880 horas anuais.

Em seu currículo, também em uma rede social, ele sustenta que tem pós-graduação incompleta em Terapia Intensiva no Hospital Central do Exército. Chefiou o setor de Clínica Médica da Policlínica Militar da Praia Vermelha Exército (2011 2012).

Além disso, registra ter feito diversos cursos e participado de vários encontros acadêmicos e que foi convidado pelo “Department of Aeronautics and Astronautics of Massachussets Institute of Technology” (MIT Boston, EUA) para integrar o “Mars Biosatellite Program” em convênio com a Nasa, a agência espacial norte-americana.  Além disso, ele diz ter experiência nas áreas de engenharia biomédica e filosofia, e “especial interesse” pelos estudo de psiquiatria e metafísica.

Em campanha
Marsili tem usado o Instagram como uma espécie de palanque virtual na “candidatura” ao cargo mais importante da saúde brasileira. Em recente publicação, ele disse estar “pronto para o combate”.

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Não sabemos o que vai acontecer, mas sabemos o que queremos.

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“Mulheres e democracia”

Marsili tem uma série de polêmicas em seus materiais nas redes sociais. Nesta semana, por exemplo, viralizou um vídeo dele no YouTube, postado em 2 de maio último, no qual atribuía o que vê como crise na democracia mundial à possibilidade de mulheres votarem. “Basta seduzir uma mulher para convencê-la a votar”, disse o autointitulado psiquiatra.

E explicou a tese:

“Quando Platão falava sobre democracia… Mulheres que estão aqui com a gente. Ofendam-se, porque é isso que vocês são. Na única democracia no mundo que funcionou, que foi a democracia grega, não estava previsto o voto feminino, ok? O fato observável é que quando o voto passa a ser pleno, ou seja, as mulheres e todo mundo podem votar, a gente vê que tem uma crise na regência do Estado. Porque é óbvio, é muito fácil você convencer uma mulher de votar. É só você seduzi-la”.

A reportagem do Metrópoles procurou contato com o médico, no entanto, ainda não conseguiu falar com ele. O espaço continua aberto para suas manifestações.

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