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Citada na Lava Jato, Manchester recebeu R$ 50 mi na gestão Rollemberg

Delator diz que empresa tumultuou licitação do Centrad por medo de perder espaço no DF. Companhia era ligada ao senador Eunício Oliveira

atualizado

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Giovanna Bembom/Metrópoles
centrad
1 de 1 centrad - Foto: Giovanna Bembom/Metrópoles

Acusada por um delator da Operação Lava Jato de entrar no processo licitatório do Centro Administrativo do GDF (Centrad) para tumultuar o certame, a Manchester Serviços Ltda. recebeu uma fortuna dos cofres públicos locais nos últimos 14 anos. Nesse período, o total pago à empresa foi de R$ 123.607.489,28. Quase metade do montante foi repassada na gestão Rodrigo Rollemberg (PSB): R$ 50.816.608,86. Esse valor é referente a serviços prestados entre 2015 e o começo deste ano.

Até 2011, o atual presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), controlava 50% da Manchester e mantinha grande parte dos contratos de vigilância e serviços firmados pelo GDF. Segundo Alexandre José Lopes Barradas, ex-diretor da Odebrecht, foi no período em que o parlamentar era acionista da empresa que a companhia entrou na licitação do Centrad, entre 2007 e 2008.

Divulgação
Nelson Neves é o atual dono da Manchester, empresa que pertencia ao senador Eunício Oliveira 

Barradas alega que o propósito da Manchester era atrapalhar o certame para não ser prejudicada com os novos contratos que seriam firmados para a manutenção do empreendimento. O temor da empresa seria uma eventual perda de espaço nos contratos com o Governo do Distrito Federal.

As afirmações do delator foram dadas ao Ministério Público Federal (MPF) em 14 de dezembro do ano passado, no Rio Grande do Sul. O teor das declarações foi tornado público na semana passada, quando o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou o sigilo das colaborações prestadas por ex-executivos da Odebrecht.

O material, que apresenta indícios de participação de centenas de políticos do país em esquemas de corrupção, colocou as obras do Centrad, que custaram R$ 1 bilhão aos cofres públicos, sob holofotes.

Propina e negociatas
A construção do Centrad envolveu diversas negociatas, com suspeita de pagamento de propina aos ex-governadores José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT), além de Tadeu Filippelli (PMDB), secretário de Obras do republicano e vice-governador do petista. A Odebrecht também é acusada de oferecer direcionamento de 25% dos contratos de vigilância e serviço para que a Manchester parasse de obstruir a licitação.

Denio Simoes/GDF
Agnelo e Filippelli comandaram o GDF de 2011 a 2014

 

O processo do Centrad começou em 2007, no governo Arruda. O primeiro passo foi o edital para que as empresas apresentassem estudos de viabilidade econômica e financeira para a Parceria Público-Privada (PPP) do Centro Administrativo. Cerca de 40 empresas aderiram ao edital, mas apenas o grupo Odebrecht apresentou os estudos, que tinham custos altos para elaboração.

Em junho de 2008, o edital de licitação foi publicado e, quatro meses depois, os projetos começaram a ser aprovados. Disputavam o contrato três consórcios: Queiroz Galvão e Carioca Engenharia; Odebrecht e Via Engenharia; além de Delta e Manchester. A primeira foi excluída porque não apresentava a quantidade de área construída estipulada pela comissão.

 

Elza Fiúza/Agência Brasil
Os preparativos para a obra do Centro Administrativo começaram na gestão Arruda

 

Odebrecht e Via, então, seriam as vencedoras por terem oferecido o menor preço. Mas a comissão de licitação convocou esse consórcio e o formado pela Delta e pela Manchester para que sanassem alguns problemas. Naquele momento, com medo de perder a licitação, Barradas, ao lado de Ricardo Ferraz, então gerente de contratos da Odebrecht, procurou representantes da Manchester.

Por meio de interlocutores, identificados como Rodrigo Neves e Gustavo Neves, a Manchester teria informado aos representantes da Odebrecht que não havia interesse em sair vitoriosa no certame, pois “demandava um enorme esforço de financiamento privado durante o período da construção”. O valor de investimento estimado na época, segundo Barradas, era de aproximadamente R$ 800 milhões. Cifras indisponíveis pela Delta e pela Manchester, segundo o delator.

Reprodução
Trecho da delação de Alexandre José Lopes Barradas

 

Durante a conversa, os interlocutores da Odebrecht teriam sido diretos ao perguntarem qual era “a intenção” da Manchester. Barradas definiu a resposta como “inusitada”. “Vocês estão entrando no nosso mercado, porque aqui em Brasília somos líderes de praticamente toda a área de serviço”, disseram eles. Segundo Barradas, a intenção da Manchester era apenas que o empreendimento não fosse para frente já que “interferiria diretamente nos seus negócios mantidos em Brasília”.

Veja o depoimento de Barradas sobre o Centrad:

 

Foi naquele ponto então que, para não ser derrotada na licitação, os representantes da Odebrecht sugeriram que a Manchester não atrapalhasse mais a licitação. Em troca, quando o Centro Administrativo estivesse pronto, 25% dos serviços de vigilância e manutenção ficariam com a empresa.

A proposta foi aceita e o acordo garantiu a vitória ao consórcio da Via Engenharia com a Odebrecht. Mas as promessas nunca saíram do papel. Afinal, o Centrad ainda não foi ocupado pelo GDF e continua vazio, mesmo após a inauguração do complexo no último dia da gestão Agnelo, em 31 de dezembro de 2014.

Michael Melo/Metrópoles
O atual presidente do Senado teve 50% da Manchester até 2011

 

Eunício desconhecia decisões da Manchester
Por meio de nota, a assessoria de imprensa de Eunício Oliveira ressaltou que o senador não se envolvia com o dia a dia da Manchester na época em que os supostos acertos foram feitos com a Odebrecht. “Em 1998, quando Eunício foi eleito deputado federal pela primeira vez, transferiu legalmente todas decisões gerenciais e administrativas da empresa aos demais sócios. Logo, o assunto é desconhecido pelo senador”, informou a assessoria.

Embora Eunício não seja mais sócio da Manchester desde 2011, o senador tem participações em outras empresas que prestam serviços ao GDF. Em 2010, ano em que Eunício foi eleito para o Senado, a fortuna declarada pelo político ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) chegava a R$ 36,7 milhões. Na declaração de bens feita à Justiça, ele aparecia com participações societárias na Confere, na Confederal e na Manchester.

Atualmente, a Manchester não está mais ligada a ele. O senador passou os 50% que controlava a Nelson Ribeiro Neves e Rodrigo Castro Alves Neves em 2011. A Confederal e a Confere, porém, estão entre as contratantes do GDF.

Entre 2004 e o começo deste ano, só a primeira recebeu R$ 516.457.398,94 dos cofres da capital. A Confere, por sua vez, abocanhou R$ 246.064.695,77 no mesmo período. Somados, os valores recebidos por elas nesses últimos 14 anos chegam a R$ 762.522.094,71. Os dados fazem parte de um levantamento do Sistema Integrado de Gestão Governamental (Siggo).

 

Reprodução
Valores pagos pelo GDF às empresas ligadas ao senador Eunício Oliveira nos últimos 14 anos

 

Procurado pelo Metrópoles, o GDF informou que vai solicitar os depoimentos dos delatores da Odebrecht que citam obras no DF para avaliação. No entanto, não disse quando fará isso. O governo local também não detalhou em quais órgãos a Manchester presta serviços atualmente. Os donos da empresa não foram localizados para falar sobre as acusações.

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